Armadilhas do IRPF

Armadilhas do IRPF

Como escapar de armadilhas de última hora na declaração do Imposto de Renda 2016

Contadores listam os erros mais comuns de quem demora para entregar 

Por: Erik Farina      29/04/2016

Como escapar de armadilhas de última hora na declaração do Imposto de Renda 2016 Stock.Xchng/Divulgação

Foto: Stock.Xchng / Divulgação

As horas que antecedem o fim do prazo de entrega da Declaração do Imposto de Renda costumam trazer ares insanos aos escritórios de contabilidade e ativar o modo pânico em quem ainda não preencheu o formulário. Entre os recibos guardados há meses descobre-se que faltou o principal, aquele que daria a restituição mais gorda. Quem esperava receber do governo descobre que, na verdade, terá de pegar – e não há contabilidade criativa ou pedalada que amanse o Leão.

Os contadores se descabelam para atender em um único dia 15% de toda clientela esperada, grupo que teve dois meses para levantar a papelada, mas achou que seria tranquilo esperar um pouco mais. E tudo que antes parecia banal agora parece conspirar contra: a internet sai do ar, o site da Receita trava, o sogro telefona para pedir socorro em sua própria declaração. 

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Esse dia chegou. Às 23h59min desta sexta-feira (29) termina o prazo para prestar contas ao Leão. Das 28,5 milhões de declarações esperadas neste ano, seis milhões ainda não haviam sido entregues até as 17h de quinta – dentre os gaúchos, 350 mil ainda não haviam enviado o documento à Receita, de 2 milhões esperados. 

Para os que fazem jus à máxima de que os brasileiros deixam tudo para a última hora, abaixo vão causos que mostram que todo cuidado é pouco para não tropeçar – ou pelo menos virar uma boa história – na hora de preencher o IR. E algumas dicas para evitar erros na entrega tardia.

Tarde demais

Foto: Ilustração Gabriel Renner / Agencia RBS

Depois do mais longo dia de trabalho do ano – o último no prazo de entrega do IR – Welinton Mota apagava as luzes do escritório de contabilidade no ano passado quando o celular vibrou. Era 22h30min – um horário que, digamos, ninguém telefona para contar que você foi premiado na loteria. Meio ressabiado, atendeu. 

Um cliente ofegante desabafava: havia esquecido totalmente da declaração, não tinha sequer juntado a papelada. Mas precisava escapar da multa. Welinton respirou fundo, deu meia volta, ligou o computador e começou a levantar as informações. Importada a declaração do ano anterior, os dados começaram a somar, somar e mostraram que a simplificada não daria conta: seria possível fazer uma declaração completa, muito mais detalhada – e trabalhosa. Welinton olhou no relógio, pegou o telefone e teve que dar a má notícia: desta vez não ia dar para escapar da multa.

– Geralmente os clientes que ligam na última hora são justamente os que a gente passa a semana pedindo que mandem os comprovantes, mas nos ignoram totalmente – diz o contador. 

Como assim, pet não é filho?

Foto: Ilustração Gabriel Renner / Agencia RBS

O contador Celso Luft preenchia mais uma declaração de cliente, com a calma de quem acha que já viu de tudo na vida, quando adentra um senhor pomposo, com uma pilha de notas para incluir no Imposto de Renda. Ao analisar o maço, Luft deparou com um lado do sujeito que não conhecia – e nem podia: gastos generosos com xampú de cachorro, ração e veterinário. O cliente falava com autoridade: os gastos em pet shops eram tantos que ele queria incluí-los na declaração. 

– Explicamos que os gastos com saúde que podem ser incluídos são de familiares, os pets ficam de fora. Mas ele insistiu que o cachorro não apenas era da família, como dava mais despesa que seu filho. 

Mas não teve jeito: o pet ficou de fora da lista do Leão.

Encarou o Leão, mas salvou o casamento

Foto: Ilustração Gabriel Renner / Agencia RBS

Os alunos da Contabilidade da Fadergs venciam mais um dia de serviço gratuito no saguão da Receita Federal quando sentou-se diante de um deles uma senhorinha com uma volumosa pasta de documentos. Olhava para os lados, demonstrava preocupação. O rapaz perguntou qual era o problema, ela sussurrou: havia recebido R$ 30 mil no ano passado como indenização em um processo judicial, e agora teria de pedir para o marido declarar no Imposto de Renda dele, no qual ela é dependente. 

Só havia um inconveniente: ela dissera ao marido que só tinha ganhado R$ 3 mil na Justiça. – Quando ela descobriu que teria de declarar todo ganho acima de R$ 28 mil, se apavorou – conta Laura Domingos, coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Fadergs.

O atendente explicou que ela ia ter de falar a verdade, senão cairia na malha fina. A senhora olhou para baixo, pensou, e resolveu arriscar: poderia até levar a multa, mas ia salvar o casamento. Declarou só R$ 3 mil.

Em forma com a Receita

Foto: Ilustração Gabriel Renner / Agencia RBS

Noutro dia, era um velho cliente de Celso Luft que reivindicava uma curiosa restituição. Havia começado a fazer academia e aula de dança para manter a forma e segurar os quilinhos a mais que a idade parece encomendar. Agora, achava por direito que o governo tinha de devolver o que ele havia gasto.

Luft estranhou: o cliente – que já não era iniciante em IR – deveria saber que só gastos com médico e estudos davam esse benefício. Foi quando o cidadão começou a argumentar: havia começado a malhar e a dançar no salão por recomendação do cardiologista, que achou que um pouco de movimento iria fazer bem para a circulação e o excesso de peso. Era, portanto, gasto médico. Não foi fácil para o contador explicar que o Leão não liga muito para a circunferência abdominal de ninguém.

– Geralmente quando a pessoa se surpreende com o tamanho do imposto que vai ter de pagar, sai atrás de qualquer comprovante. Às vezes, apela para o inusitado.

 

http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/noticia/2016/04/como-escapar-de-armadilhas-de-ultima-hora-na-declaracao-do-imposto-de-renda-2016-5789258.html




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