País desenvolvido é país justo

País desenvolvido é país justo

 

Priscila Cruza*


O que torna um país de fato desenvolvido vai muito além de seu potencial de crescimento econômico. O desenvolvimento passa necessariamente pela sua capacidade de transformar a riqueza que produz em melhorias para a vida dos cidadãos. Ou seja, o país será cada vez mais desenvolvido, e mais sustentável, na medida em que consiga diminuir a desigualdade social e em que os direitos dos cidadãos sejam plenamente garantidos.

Esse tipo de desenvolvimento não é conquistado em curto prazo. Depende de um projeto de nação que envolva todos os atores da sociedade e que vá além dos mandatos políticos, para que se garanta a continuidade de políticas capazes de promover a equidade e o bem-estar social.

Dentre todas as políticas públicas, a Educação é a mais capaz de dar sustentabilidade a todas as outras.

O Brasil conseguiu grandes avanços na escolaridade da sua população - de 1995 a 2013, por exemplo, houve um aumento de mais de dois anos na escolaridade média das pessoas com mais de 25 anos. Esse aumento certamente tem um impacto positivo nas taxas de emprego, mas apenas aumentar os anos de estudo não vai garantir um desenvolvimento sustentável.

Não é de qualquer Educação que precisamos, mas de uma Educação pública de qualidade, que seja acessível a todas as crianças e jovens, que garanta a plena alfabetização e a aprendizagem de todos os alunos na idade certa, que os prepare para uma vida adulta plena, com equidade de oportunidades.

Esse é o caminho mais vigoroso para garantir que as crianças e os jovens que vivem em situações de alta vulnerabilidade quebrem o ciclo de exclusão e pobreza. A Educação de qualidade é o que pode garantir, no longo prazo, que políticas como o programa Bolsa Família, por exemplo, proporcionem, além do fim da miséria, uma verdadeira independência econômica e social.

Muito mais do que melhores salários, a Educação proporciona condições favoráveis à inovação e ao empreendedorismo - e, o que é ainda mais importante, liberdade para que o jovem faça as escolhas que deseja para a sua vida, e não aquelas às quais ele é condicionado pela falta de conhecimentos básicos e de oportunidades iguais.

Dependência. A falta de uma Educação de qualidade preocupa a todos, inclusive ao setor privado, que depende, mais do que nunca, do capital humano para elevar e manter sua competitividade em um mercado que demanda cada vez mais conhecimento e capacidade de inovação, mas para o qual o Brasil ainda não proporciona o básico. Para se ter uma ideia, apenas metade dos nossos jovens de 19 anos tem o Ensino Médio concluído, e, destes, apenas 10% saem do Ensino Médio com o conhecimento adequado em matemática, e 29% em Língua Portuguesa.

Mais de 15% dos jovens de 17 a 22 anos não estudam nem trabalham, segundo o Insper, e a maioria deles não concluiu a Educação Básica. A desmotivação é a maior razão de evasão daqueles que abandonam o Ensino Médio - etapa em que 30% dos alunos estão com dois ou mais anos de atraso escolar. A escola é desinteressante para o jovem. É preciso, portanto, torná-la mais atrativa, mais conectada com a realidade do século 21.

Já em relação ao Ensino Técnico Profissionalizante, as matrículas nessa modalidade tiveram um grande impulso com a criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e também com iniciativas estaduais para promover o ensino profissionalizante.

Em 2012, a Educação Profissional de nível médio era equivalente a cerca de 16% do Ensino Médio, ao passo que em 2008, essa representatividade era de 11%. No entanto, a evasão nesses cursos também é alta - apenas no Sistema S, que detém 40% das matrículas do Pronatec, cerca de 10% dos alunos abandonam o programa.

O movimento Todos Pela Educação tem promovido e participado de discussões nesse sentido, que apontam para a urgência da reformulação do atual modelo do Ensino Médio brasileiro, um modelo único e engessado para todos os alunos do país, que chega a ter dezenove disciplinas, treze das quais obrigatórias por lei.

O que essas discussões - balizadas por pesquisas sobre os modelos de Ensino Médio de outros países - têm nos mostrado é que precisamos de uma escola que apoie o projeto de vida dos jovens, que parta de uma base curricular comum, capaz de garantir equidade de oportunidades, mas valorize neles o seu potencial e o que eles têm vontade de desenvolver, e lhes dê mais opções para o futuro.

O futuro dos jovens brasileiros - e, consequentemente de nosso mercado de trabalho - e o desenvolvimento do país dependem da oferta de Educação de qualidade com equidade, que por sua vez depende também de sua capacidade de se moldar às demandas do século 21.

Priscila Cruza* - O Estado de São Paulo - 20/11/2013 - São Paulo, SP

* É DIRETORA-EXECUTIVA DO MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO

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