Mais uma pérola

Mais uma pérola

Mais uma pérola: a Universidade do Trabalhador

Pessoas da direita política nem sempre têm do que falar. O comunismo está morto.  social democracia se descaracterizou e incorporou inúmeros elementos ultraliberais em sua agenda. Sobra, então, ser contra os “direitos de minorias”, mas isso os jornalistas e intelectuais mais conservadores logo percebem que não é uma boa coisa, pois podem ficar com a pecha de racistas, homofóbicos etc. Além disso, nos Estados Unidos, por exemplo, o Partido Republicano também possui alas que defendem políticas de “ação afirmativa”. Assim, o espaço de manobra das letras por parte da direita política, tirando o ataque relativamente correto, mas meio histriônico contra o “politicamente correto”, não é ampliável. E aí, escrever sobre o quê?

Como que um intelectual de direita, hoje no Brasil, pode sobreviver se não tem assunto? Vai ficar falando mal do Snowden, lá do outro lado do mundo? Não dá “ibope”. Bem, só há uma fórmula: ou se inventa mentira contra a esquerda ou então deixa a esquerda produzir algo estapafúrdio para poder “meter o pau”.

A direita no Brasil tem gente para fazer o serviço sujo tanto quanto a esquerda. Mas a direita leva vantagem uma vez que não precisa fazer o serviço sujo. A esquerda dá munição. Vejam só o presente de Natal que a esquerda oferece agora para a direita: a criação da “universidade do trabalhador” por parte do Ministério do Trabalho, que, entre outras coisas, terá curso de “marxismo, socialismo e capitalismo”, a fim de “politizar os trabalhadores”. Isso porque segundo o ministro do Trabalho há uma “despolitização dos trabalhadores” brasileiros. (Notícia do Estadão, 21/12/2013)

Não sou contra que o aparato de estado ensine Marx para quem quer que seja. Marx é um clássico da filosofia e das ciências sociais e deve mesmo ser ensinado. Seu lugar é nas aulas de filosofia, sociologia e história do ensino médio e nos cursos correlatos na universidade, ao lado dos outros assuntos e autores igualmente relevantes. Agora, a “politização do trabalhador” se dá no sindicalismo livre e só nele, se é que “politização” deva ser isso aí, o aprendizado de “marxismo, socialismo e capitalismo”, o que eu acho de uma pobreza incrível. “Politização” por conta do estado? Nem pensar!

Quando falamos em “universidade do trabalhador” e, por alguma via séria, já lemos Marx, sabemos que tudo que se deve ensinar em uma universidade voltada para o mundo do trabalho está sempre bem longe do ensino do próprio marxismo. Marx foi um dos primeiros a perceber que a proposta dos trabalhadores de seu tempo, uma vez focadas no exercício profissional e no domínio doutrinário, era um erro. Ele denunciou isso. Foi contra ambas! Marx foi um dos primeiros a notar que o trabalho iria se tornar proporcionalmente mais simples, e que os trabalhadores deveriam sempre ter mais fundamentos e conhecimentos gerais e menos regras profissionais ou doutrinárias.

Hoje não precisamos mais de Marx para nos dizer isso. Qualquer um sabe que é melhor ter conhecimentos gerais para se tornar um bom trabalhador. Hoje, ser trabalhador, é ter como estudo a matemática e a filosofia, a história e a química, a geografia e a física etc. Todo nosso currículo humanístico se transformou em currículo profissional, voltado para o trabalhador. O chamado “ensino técnico”, bem direcionado para o trabalho específico, este é feito já na linha de produção ou em cursos rápidos dentro da empresa. Fora dela, por meio de incentivo governamental, por razões técnica e de inteligência, a pior coisa que se pode fazer é fornecer ensino técnico restrito ou então saberes ainda mais restritos a respeito de sociologia e política.

Minha crítica não é ideológica. Minha crítica é técnica. Uma pessoa de esquerda, hoje, que leu Marx, jamais proporia o que o ministro do Trabalho está propondo. É um erro crasso. A não ser que o ministro esteja querendo, pelos motivos que invoquei acima, dar elementos para a direita ter o que conversar nesse final de ano. E aí, vamos suportar a ladainha anticomunista novamente. E uma ladainha anticomunista vinda dos mesmos de sempre. Aí aparecerão os malucos de cérebro defasado, que falarão que há uma “revolução comunista bolivariana” em curso por debaixo de tudo isso. Sim, sim, imaginação louca não falta para a direita. Ela vive disso já faz bom tempo, antes mesmo do fim da Guerra Fria – com o macarthismo à frente! Essa caduquice da direita é proporcional à estupidez da esquerda.

Tudo isso é muito chato, mas está dominando nossa imprensa assustadoramente.

© 2013 Paulo Ghiraldelli, filósofo.

PS: para que a piada tivesse alguma graça, o bom seria colocar o Haddad de reitor dessa “Universidade do Trabalhador”.

http://ghiraldelli.pro.br/mais-uma-perola-a-universidade-do-trabalhador/




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