Comentando " O tempo e o vento"

Comentando " O tempo e o vento"

Luis Fernando Verissimo comenta a minissérie "O Tempo e o Vento"

Escritor celebra o aprofundamento dos personagens na versão estendida do filme
Luis Fernando Verissimo comenta a minissérie "O Tempo e o Vento" divulgação/tv globo
Foto: divulgação / tv globo

Luis Fernando Verissimo*

Especial

O Tempo e o Vento sobre o filme é que na série há mais tempo para desenvolver a história e incluir personagens que não apareceram no cinema, ou apareceram pouco.

Já se viu isso no primeiro episódio, que incluiu mais cenas do Pedro Missioneiro nas Missões. Eu havia lamentado que a evocação da Rosa Mística, um dos nomes da Virgem Maria na literatura sacra, não tivesse sido mais aproveitada no filme. A devoção do Pedro à Rosa Mística é muito bonita. No filme, ele chama a Ana Terra de Rosa Mística, mas a citação fica meio perdida, por falta de antecedentes que na TV estão explícitos. O Pedro Missioneiro é um personagem importante porque ele incorpora o segmento chamado A Fonte, no livro. É com o Pedro Missioneiro que o mito se transforma em História. Pode-se até dizer, com um certo exagero, que ele inaugura a história do Rio Grande do Sul no ventre da Ana. A fonte, do título, é ele. O punhal de prata que ele traz da Missão é a ligação dele com o passado, com a Europa, com os sonhos de salvação dos índios e a regeneração da humanidade dos jesuítas (o título de O Tempo e o Vento era para ser “O Punhal de Prata”), mas o passado, o mito, termina com ele. Depois da sua morte, Ana e o filho Pedro vão ajudar a fundar Santa Fé, vão civilizar-se. Vão começar a História.

Na  microssérie, também há tempo e espaço para Luzia, a mulher de Bolívar, filho de Rodrigo e Bibiana. Luzia é uma anomalia no romance, uma mulher complicada e frágil numa terra de mulheres simples e fortes, e por isso mesmo uma personagem fascinante.

Ficou faltando, tanto no cinema quanto na TV, outra personagem  feminina importante, Ismália Caré. Os Caré representam o avesso da nossa tradição épica, são o Rio Grande do Sul da miséria, dos despossuídos em meio a uma cultura de fartura. Compreende-se, não daria para incluir esse lado na série. Mas, no livro, embora isso tenha sido pouco notado, com os Caré o autor escreve um contraponto para sua própria história. E História.

A ideia da narração por meio do encontro da Bibiana velha com o capitão Rodrigo redivivo era arriscada, mas deu certo, no filme e na série. Palmas para os roteiristas e para o diretor, e principalmente para a Fernanda Montenegro e o surpreendente Tiago Lacerda, que fazem um dueto admirável.

* Escritor, colunista de ZH e filho do autor de “O Tempo e o Vento”, Erico Verissimo

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2014/01/luis-fernando-verissimo-comenta-a-minisserie-o-tempo-e-o-vento-4380379.html




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