Prédio escolar, o terceiro professor

Prédio escolar, o terceiro professor

Pesquisadores consideram prédio escolar como o terceiro professor

Cartola - Agência de Conteúdo - Terra Educação - 24/02/2014 - São Paulo, SP

Os prédios escolares são parte importante e marcante da educação de um indivíduo. Quem não lembra de como era o prédio da escola em que estudou no ensino médio ou fundamental? Ao redor do mundo e no Brasil, pesquisadores começam a incitar uma discussão mais aprofundada sobre como utilizar a arquitetura escolar a serviço do ensino e não apenas como um espaço a ser preenchido com alunos.

Para a arquiteta e professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, Doris Kowaltowski, que estuda a arquitetura escolar de escolas do Brasil e do mundo, o mais indicado é que quando surja a oportunidade de se construir uma nova escola, todos os agentes se juntem para bolar o projeto: arquitetos, engenheiros, professores e pedagogos. “Não necessariamente as pessoas que discutem os projetos precisam ser as mesmas a usá-lo depois de pronto, mas sua experiência com a educação é muito importante de ser colocada na mesa”, explica.

Para atender a um novo formato de ensino que vem surgindo nos últimos anos, a professora indica que é preciso unir a técnica da construção com a pedagogia. “Existem alguns trabalhos que chamam a arquitetura escolar de terceiro professor. O primeiro é o professor em si, o segundo é o método e o material. Podemos até achar que estamos ignorando o ambiente em que estamos inseridos, mas não estamos. Se ele é bem concebido, nos influencia positivamente. Podemos ensinar física com a arquitetura, colocando um relógio de sol na sala de aula, por exemplo. Os alunos aprenderiam sobre o movimento do sol e geometria com as sombras. Tento inserir essa reflexão, de que a arquitetura pode ensinar”.

A sala de aula é muito enraizada na cultura escolar mundial e no Brasil não é diferente. “É um elemento muito forte e que se repete. Porém, se repete sem uma reflexão. Ao redor do mundo o modelo de sala de aula com um aluno atrás do outro, o professor na frente com o quadro, está sendo questionado”, conta. Com a tecnologia e internet, o padrão atual de sala de aula pode não ser mais o melhor. Agora, os alunos utilizam muito mais equipamentos como celulares e computadores e o professor não é mais a única fonte de informação. É preciso que o ambiente seja rico e contribua para vencer a batalha da atenção com os celulares, que também contém a informação.

Doris explica que o padrão que está sendo cada vez mais defendido é de que o aluno deve ser o centro das questões educacionais, discutindo os assuntos em grupos e não mais olhando a nuca do colega a frente. A professora cita que a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão responsável pela construção e reforma de escolas e seleção de seus projetos, vinculado à Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, mostra em alguns de seus projetos que é possível dispor os alunos em forma de U.

Além do prédio e de rearrumar os alunos, o professor também tem de estar preparado para estimulá-los a buscar informação, seja os levando para o pátio para medir objetos ou seja em um laboratório para fazer experimentos, unindo assim o que o prédio oferece com um bom plano pedagógico.“Falta um encantamento no padrão das escolas brasileiras, principalmente nas públicas, que são quadradas, classes umas atrás das outras. É preciso haver um maior cuidado com os materiais usados. Alterações mesmo que simples devem ser bem feitas, deve haver um cuidado com as cores. O paisagismo, por exemplo, é um recurso não tão caro e que torna o ambiente escolar mais agradável e ainda envolve a sustentabilidade. A escola ensina o aluno a ser sustentável através do prédio”, explica Doris.

No Rio Grande do Sul, foi criado um projeto que repensa a estrutura escolar como um espaço pedagógico. Chamado Plano de Necessidade de Obras, o projeto engloba alguns itens que serão incluídos na reforma de 1027 escolas, como sala de estudos para professores, aparelhos de ar condicionado para uma melhor climatização, paisagismo, acessibilidade, quadra de esportes coberta, ambientes wireless e sala de espaço cultural. O secretário estadual de educação, José Clóvis Azevedo, explica que é possível articular a pedagogia e a técnica dos projetos de reforma no sistema de ensino público, sem manter necessariamente um padrão. No caso do PNO, no momento de sua concepção, engenheiros e pedagogos se encontraram em seminários para discutir o projeto.

Quando as empresas apresentarem o anteprojeto, estes serão discutidos na comunidade escolar, com os diretores das escolas. Atualmente, conforme o secretário, 97 projetos já estão sendo executados e 150 estão em processo de contratação. As escolas podem ter diferentes demandas. “Para dar um exemplo, a primeira escola que pretendemos inaugurar, que atende ao itens do PNO, na cidade de Westfalia, havia recebido pelo Plano Nacional da Educação (PNE), aparelhos de ar condicionado apenas frios. Mas no Rio Grande do Sul precisamos da opção quente para o inverno, que é rigoroso”.

Em São Paulo, a FDE atua em conjunto com as Coordenadorias da Pasta para elaborar os projetos de construção de escolas integrados às políticas de aprimoramento do sistema educacional e pedagógico. Segundo a gerente de Projetos da Fundação, Avany de Francisco Ferreira, existe uma equipe interna que analisa os projetos que serão contratados. “Os projetos devem estar de acordo com as necessidades que a secretaria de educação nos passa, que determina a quantidade de salas, o tipo de atendimento, se é fundamental ou médio. Os prédios devem ser econômicos, resistentes e duráveis, pois têm um uso muito frequente. Evidentemente o espaço tem de ser o mais agradável possível para o aluno. A FDE também busca a certificação ambiental, reaproveitando a água da chuva, por exemplo”.

Dóris levanta a questão de que se dinheiro público é gasto para a construção de escolas, é preciso aproveitar a oportunidade e juntar as pessoas para refletir sobre o assunto. “A pedagogia do ensino pode conversar com a arquitetura. A comunidade também pode levantar ideias, pois conhece bem o ambiente onde a escola será construída, coisas práticas, como se tem muito mosquito naquela área, por exemplo. É preciso juntar estas experiências em uma discussão participativa para se criar uma reflexão de que o ambiente escolar influencia no aprendizado dos alunos e pode também ensinar”, conclui.

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