Especial Tiradentes

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ESPECIAL TIRADENTES: 5 TÓPICOS

MÁRTIR DA INDEPENDÊNCIA OU HERÓI REVOLUCIONÁRIO?

“Brecht cantou: ‘Feliz é o povo
que não tem heróis’. Concordo.
Porém nós não somos um povo
feliz. Por isso precisamos de
heróis. Precisamos de Tiradentes.”
(Augusto Boal, Quixotes e Heróis)
 

Será que os brasileiros sentem mesmo necessidade de heróis, salvo como temas dos intermináveis e intragáveis sambas-enredo? É discutível.Os heróis são a personificação das virtudes de um povo que alcançou ou está buscando sua afirmação. Encarnam a vontade nacional.

Já os brasileiros, parafraseando o que Marx disse sobre camponeses, constituem tanto um povo quanto as batatas reunidas num saco constituem um saco de batatas...

O traço mais característico da nossa formação é a subserviência face aos poderosos de plantão. Os episódios de resistência à tirania foram isolados e trágicos, já que nunca obtiveram adesões numericamente expressivas.

Demoramos mais de três séculos para nos livrar do jugo de uma nação minúscula, como um Gulliver imobilizado por um único liliputiano.

E o fizemos da forma mais vexatória, recorrendo ao príncipe estrangeiro para que tirasse as castanhas do fogo em nosso lugar; e à nação economicamente mais poderosa da época, para nos proteger de reações dos antigos colonizadores.

Isto depois de assistirmos impassíveis à execução e esquartejamento de nosso maior libertário.

Da mesma forma, o fim da escravidão só se deu por graça palaciana e quando se tornara economicamente desvantajosa.

Antes, os valorosos guerreiros de Palmares haviam sucumbido à guerra de extermínio movida pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, que merecidamente passou à História como um dos maiores assassinos do Brasil.

E foi também pela porta dos fundos que nosso país entrou na era republicana e saiu das duas ditaduras do século passado (a de Vargas terminou por pressões estadunidenses e a dos militares, por esgotamento do modelo político-econômico).
Todas as grandes mudanças positivas acabaram se processando via pactos firmados no seio das elites, com a população excluída ou reduzida ao papel de coadjuvante que aplaude. É verdade que houve fugazes despertares da cidadania:

  •  em 1961, quando a resistência encabeçada por Leonel Brizola conseguiu frustrar o golpe de estado tentado pelas mesmas forças que seriam bem-sucedidas três anos mais tarde;
  • em 1984, com a inesquecível campanha das diretas-já, infelizmente desmobilizada depois da rejeição da Emenda Dante de Oliveira, com o poder de decisão voltando para os gabinetes e colégios eleitorais; e
  • em 1992, quando os  caras-pintadas  foram à luta para forçar o afastamento do presidente Fernando Collor.

 Nessas três ocasiões, a vontade das ruas alterou momentaneamente o rumo dos acontecimentos, mas os poderosos realizaram manobras hábeis para retomar o controle da situação. Rupturas abertas, entre nós, só vingaram as negativas.

Vai daí que, em vez de heróis altaneiros, os infantilizados brasileiros são carentes mesmo é de figuras protetoras, dos coronéis nordestinos aos  padins Ciços   da vida, passando por   pais dos pobres   tipo Getúlio Vargas. Então, Zumbi dos Palmares, Tiradentes, Frei Caneca, Carlos Marighella, Carlos Lamarca e outros dessa estirpe jamais serão unanimidade nacional, como Giuseppe Garibaldi na Itália ou Simon Bolívar para os hermanos sul-americanos.

O 21 de abril é um dos menos festejados de nossos feriados. E o próprio conteúdo revolucionário de Tiradentes é escamoteado pela  História Oficial, que o apresenta mais como um Cristo (começando pelas imagens falseadas de sua execução, já que não estava barbudo e cabeludo ao marchar para o cadafalso) do que como transformador da realidade. Então, vale mais uma citação do artigo que Boal escreveu quando do lançamento da antológica peça Arena Conta Tiradentes, em 1967:Tiradentes foi revolucionário no seu momento como o seria em outros momentos, inclusive no nosso. Pretendia, ainda que romanticamente, a derrubada de um regime de opressão e desejava substitui-lo por outro, mais capaz de promover a felicidade do seu povo. 

...No entanto, este comportamento essencial ao herói é esbatido e, em seu lugar, prioritariamente, surge o sofrimento na forca, a aceitação da culpa, a singeleza com que beijava o crucifixo na caminhada pelas ruas com baraço e pregação ...O mito está mistificado.

Quando o povo brasileiro estiver suficientemente amadurecido para tomar em mãos seu destino, decerto encontrará no revolucionário Tiradentes uma das maiores inspirações.

POR QUE TIRADENTES?

Quando menino, compartilhava o enfado de meus colegas de classe diante da obrigação de escrever, ano após ano, qualquer bobagem sobre o Mártir da Independência, mera repetição, com outras palavras, do que estava nos manuais escolares.

De quebra, tínhamos de enfeitar esses trabalhos com bandeirinhas brasileiras que desenhávamos ou decalcomanias adquiridas nas papelarias; às vezes, fitinhas verde-amarelas. Mais brega e mais tedioso, impossível.

Então, Tiradentes caía naquela vala comum a que intimamente relegávamos tudo que fosse oficialesco. Fingíamos respeitá-lo, porque era esta a reação que os adultos de nós esperavam. Nada significava para nós.

Foi a peça Arena Conta Tiradentes que me reconciliou com a figura do herói, quando eu tinha 17 anos e já me interessava pela política de esquerda.Porque ela fez a tragédia histórica ganhar vida diante dos meus olhos. E também me levou a perceber Tiradentes como o único conspirador que falava a linguagem do povo e tentou engajá-lo na trama urdida pelos notáveis da capitania.

Foi com o fervor revolucionário de Tiradentes que me identifiquei, não com seu martírio. Pois, ao falar aos quatro ventos aquilo que os demais inconfidentes só cochichavam, ele se parecia muito conosco, jovens secundaristas que, com idêntico entusiasmo, começávamos a trilhar os caminhos das lutas sociais.Também nós sentíamos imenso prazer ao proclamar em alto e bom som nossos ideais, ao invés de calá-los por motivo de segurança (as precauções viriam mais tarde!).

E, em nosso otimismo ingênuo, eu e meus companheiros nos entusiasmávamos mesmo era com a primeira parte da peça, em que a conspiração vai sendo engendrada, até culminar numa reunião apoteótica na qual cada um relata o papel que desempenhará no dia do levante.Nosso 1968 foi mesmo assim, esperançoso e apoteótico.

Mas, a segunda parte de Arena Conta Tiradentes -- a da delação, prisão, inquérito e punição -- também estava inscrita em nosso futuro, sem que o percebêssemos ou quiséssemos perceber.Foi quando alguns sentimo-nos, como Tiradentes, os  patinhos feios  de um movimento capitaneado por pessoas mais importantes do que nós.

Pois, cada vez mais, a historiografia tende a interpretar Tiradentes da maneira magnificamente sintetizada pelo jornalista e professor Sílvio Anaz:"Mestiço, pobre, falastrão, com o perfil adequado a bode expiatório, Tiradentes foi o único dos inconfidentes condenado e executado. (...) Já os principais mentores da Inconfidência Mineira, membros das castas mais altas da época, acabaram morrendo na prisão ou exilados na África. Como o levante fracassou, Tiradentes virou líder e mártir. Caso tivesse dado certo, ele provavelmente não ficaria com as principais benesses do novo regime, conforme comentou Machado de Assis".

Hoje, entretanto, essa identificação com quem viveu dramas semelhantes, bem como as mágoas por injustiças reais ou supostas, já não determinam minhas opções; ficaram para trás, dissipadas pelo amadurecimento que os anos trazem.

A minha decisão de enaltecer Tiradentes se deveu a uma avaliação racional: a de que a situação hoje é a mesma (ou pior ainda!) que levou Augusto Boal a escrever seu antológico ensaio Quixotes e Heróis, sobre o processo de manipulação de consciências por parte dos interesses dominantes.

Então, como ponto de chegada desta digressão, nada melhor do que repetir a lúcida argumentação de Boal, que reproduzo seletivamente, mas subscrevo inteiramente: "...as classes dominantes têm por hábito a adaptação dos heróis de outras classes. A mitificação, nestes casos, é sempre mistificadora. E sempre é o mesmo processo: eliminar ou esbater, como se fosse apenas circunstância, o fato essencial, promovendo, por outro lado, características circunstancias à condição de essência.Assim foi com Tiradentes. Nele, a importância maior dos atos que praticou reside no seu conteúdo revolucionário. Episodicamente, foi ele também um estoico.

Tiradentes foi revolucionário no seu momento como o seria em outros momentos, inclusive no nosso. Pretendia, ainda que romanticamente, a derrubada de um regime de opressão e desejava substitui-lo por outro, mais capaz de promover a felicidade do seu povo.Isto ele pretendeu em nosso país, como certamente teria pretendido em qualquer outro.

No entanto, este comportamento essencial ao herói é esbatido e, em seu lugar, prioritariamente, surge o sofrimento na forca, a aceitação da culpa, a singeleza com que beijava o crucifixo na caminhada pelas ruas com baraço e pregação.

Hoje, costuma-se pensar em Tiradentes como o Mártir da Independência, e esquece-se de pensá-lo como herói revolucionário, transformador da sua realidade. O mito está mistificado.

Não é o mito que deve ser destruído, é a mistificação.

Não é o herói que deve ser empequenecido; é a sua luta que deve ser magnificada. Brecht cantou: 'Feliz o povo que não tem heróis'. Concordo. Porém, nós não somos um povo feliz. Por isso precisamos de heróis. Precisamos de Tiradentes".

 

"SE EXISTISSEM MAIS BRASILEIROS COMO EU..."

 

"...à vista das fortíssimas instâncias com que me vejo atacado e já sabendo os juízes tudo quanto sabem, até meus pensamentos mais íntimos, não posso continuar negando, pois, se o fizesse, seria faltando clara e conhecidamente à verdade. Por isso, resolvo dizê-la, ingênua e livremente, como ela é.

É verdade que se premeditava o levante.

É verdade que me encontrei com Maciel no Rio e lhe disse que o Brasil não necessitava de domínio estrangeiro.

É verdade que a todos falava de um motim e sedição contra a Coroa portuguesa.

É verdade que o povo sofre e que induzi muita gente a combater em Vila Rica.

É verdade que o povo ignora que se pode libertar a si mesmo e que induzi muita gente a que armasse o povo para que se libertasse.

É verdade que eu queria para mim a ação de maior risco e é verdade que se existissem mais brasileiros como eu, o Brasil seria uma nação florente.

É verdade que eu desejava meu país livre, independente, republicano.

É verdade que eu confiei demais, e é verdade que abandonei aqueles para quem outros diziam querer a liberdade.

E é verdade que só os abandonados arriscam, que só os abandonados assumem, e que só com eles eu deveria tratar.

É verdade que eu tenho culpa e só eu tenho culpa."

Obs.: confissão de Tiradentes, conforme Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri a sintetizaram na magnífica peça "Arena Conta Tiradentes", juntando fragmentos de suas declarações nos "Autos de Devassa da Inconfidência Mineira" com trechos dos depoimentos de outros inconfidentes sobre ele.


O TEATRO E A VIDA

"...cada conjurado ficou
sozinho: longe do povo que
não desejava, longe do poder
que pretendia derrubar. (...)
Menos Tiradentes: este
queria estar junto - mas
escolheu mal com quem."
(Boal/Guarnieri)
  

A peça Arena Conta Tiradentes, que divide com o Romanceiro da Inconfidência (de Cecília Meireles) os lauréis de obra-prima sobre o herói da Inconfidência, foi também pivô de muitas discussões e polêmicas entre os esquerdistas da época.

Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal haviam utilizado a saga dos quilombos como parábola sobre o golpe militar em Arena Conta Zumbi (1965).

Desde a introdução, esse propósito ficava claro, pois a proposta era contar uma "história da gente negra, da luta pela razão/ que se parece ao presente pela verdade em questão/ pois se trata de uma luta muito linda, na verdade/ é luta que vence os tempos, luta pela liberdade".

Ou seja, as restrições daquele momento o impossibilitavam de fazer uma peça declaradamente sobre a quartelada, mas o Arena utilizou o artifício de comparar, o tempo todo, o episódio passado com o presente.

P. ex., ao assumir a condução da campanha contra Palmares, D. Aires faz um discurso recheado de paralelos com o golpe de 1964, tipo "a independência é necessária na teoria, na prática vigora a interdependência", alusão às  fronteiras ideológicas  (formação de um compacto bloco anticomunista) que os EUA pregavam, em substituição às fronteiras físicas.

E, como a censura era muito estúpida, não percebeu sequer a quem o Arena se referia, ao colocar na boca de D. Aires esta fala: "Já não precisamos de Exército. Precisamos de uma força repressiva, policial. Unamo-nos todos a serviço do rei de fora, contra o inimigo de dentro!".Como a usurpação do poder ainda era muito recente, a peça serviu como catarse, destacando a grandeza dos combatentes pela liberdade e a sordidez dos repressores. Era a mensagem adequada a um momento de perplexidade e medo.

Em 1967, entretanto, o foco era outro: a esquerda já se recompusera do susto, passando a discutir de quem, afinal, havia sido a culpa por fracasso tão retumbante.

A responsabilidade do Partido Comunista Brasileiro pela derrota saltava aos olhos: ao invés de organizar as massas para resistirem às previsíveis investidas reacionárias, acreditara que as Forças Armadas cumpririam fielmente seu papel constitucional de defensoras da democracia.

O Governo João Goulart chegara ao cúmulo de não interferir quando a oficialidade promovia expurgos nas fileiras militares, enfraquecendo a rede de sargentos e cabos que evitara a tentativa anterior de golpe, em 1961.

Augusto Boal, o inesquecível
criador do Teatro do Oprimido

Então, a esquerda estava numa temporada de críticas, autocríticas e rachas, tentando reencontrar seu norte, após o colapso de sua força quase hegemônica, o PCB.


Arena Conta Tiradentes refletiu este momento, ao retratar a Inconfidência Mineira como uma conspiração palaciana, que é desarticulada com facilidade exatamente por não ter o respaldo das massas.

O coringa (narrador), ao explicar o fracasso dos inconfidentes, é taxativo: a maioria deles, pertencente à elite mineira, "estava em cima do muro, pronta pra pular pra qualquer lado, conforme o balanço". E conclui:"E, se é verdade que muitas revoluções burguesas foram feitas pelo povo, também é verdade que, nesta, o povo estava ausente; e, mais do que ausente, foi afastado. Por isso, cada conjurado ficou sozinho: longe do povo que não desejava, longe do poder que pretendia derrubar. Sozinho, cada um pensava na sua prosperidade individual; sozinho, cada um pensou depois na sua salvação. Menos Tiradentes: este queria estar junto -- mas escolheu mal com quem".

O alferes era, na verdade, o único vínculo entre os conspiradores palacianos e o povo. E eu não encontro motivos para discordar da avaliação de Boal e Guarnieri:

"Quando pensamos em escrever a história de Tiradentes, tínhamos a impressão de que Silvério não era tão safado como todo mundo dizia, nem o alferes tão herói como constava. Depois, estudando, chegamos à conclusão de que Tiradentes foi mais herói ainda do que se diz e Silvério tão safado quanto consta".

Silvério, vale dizer, não foi o único safado: outros também delataram a Inconfidência, mas só ele carrega o estigma histórico, sabe-se lá por quê.

Quanto a Tiradentes, teve comportamento idealista na conspiração e digno no cárcere. Foi, como Lamarca e Prestes, um militar que recusou o papel de cão de guarda do arbítrio e das injustiças, abraçando a causa do povo.

Merece ser reconhecido como o herói maior deste país tão carente de heróis e tão pouco grato aos poucos que produz. 

 

CANCIONEIRO DA LIBERDADE

Previsivelmente, algumas de nossas melhores criações musicais libertárias giram em torno da figura exemplar de Tiradentes. Vale a pena lembrar aqui seis delas, mesmo porque a indústria cultural, também de forma previsível, as relega ao mais injusto esquecimento.

Dedicatória de "Arena Conta Tiradentes"
Augusto Boal/Gianfrancesco Guarnieri (*)

Dez vidas eu tivesse,
Dez vidas eu daria.
Dez vidas prisioneiras
Ansioso eu trocaria,
Pelo bem da lbierdade,
Nem que fosse por um dia.
Se assim fizessem todos,
Aqui não existiria
Tão negra sujeição
Que dá feição de vida
Ao que é mais feia morte;
Morrer de quem aceita
Viver em escravidão.
Dez vidas eu tivesse,
Dez vidas eu daria.
Mais vale erguer a espada
Desafiando a morte

Do que sofrer a sorte
De sua terra alugada.
De sua terra alugada,
Do que sofrer a sorte,
Mais vale erguer a espada
Desafiando a morte. Dez vidas eu tivesse,
Dez vidas eu daria...

  

 

Tema de "Os Inconfidentes"
Cecília Meireles/Chico Buarque

Toda vez que um justo grita
Um carrasco o vem calar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar

Foi trabalhar para todos

E vede o que lhe acontece
Daqueles a quem servia
Já nenhum mais o conhece
Quando a desgraça é profunda
Que amigo se compadece?

Foi trabalhar para todos
Mas, por ele, quem trabalha?
Tombado fica seu corpo
Nessa esquisita batalha
Suas ações e seu nome
Por onde a glória os espalha?


Por aqui passava um homem

E como o povo se ria
Que reformava este mundo
De cima da montaria

Por aqui passava um homem
E como o povo se ria
Ele na frente falava
E atrás a sorte corria

Por aqui passava um homem
E como o povo se ria
Liberdade ainda que tarde
Nos prometia

Por aqui passava um homem
E como o povo se ria
No entanto à sua passagem
Tudo era como alegria


Cada vez que um justo grita

Um carrasco o vem calar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar

Tema para coro de "Arena Conta Tiradentes"
Augusto Boal/Gianfrancesco Guarnieri (*)
 

Eu sou brasileiro mas não tenho meu lugar
Pois lá sou estrangeiro, estrangeiro no meu lar.
A quem nasceu lá fora tudo seu a terra dá:
Essa pátria não é minha, é de quem não vive lá.
 

O pássaro na gaiola, já nascido em cativeiro,
Aprende a cantar e canta se permanece prisioneiro.
Mas se lhe abrem a portinhola, bem capaz é de morrer,
Com seu medo à liberdade, já não sabe nem viver.
 

Quem aceita a tirania
Bem merece a condição
Não basta viver somente,
É preciso dizer não!
Não basta viver somente,
É preciso dizer não!

  

 

Tiradentes Chico de Assis/Ary Toledo

Foi no ano de 1789 em Minas Gerais que o fato se deu
E havia derrame do ouro que era um tesouro que os brasileiros tinham que pagar
Esse ouro ía longe distante, passava o mar, ia pra Portugal para o rei gastar
O mineiro que é bom brasileiro e que é altaneiro garrou a pensar:
se esse ouro é ouro da terra e da nossa terra, por que que ele vai?
Se juntaram numa reunião, resolveram fazer uma conspiração

Manuel da Costa, Antonio Gonzaga, Oliveira Rolin
e tem mais um nome que é o nome do homem que foi mais herói, este fica pro fim
e o nome do homem que foi mais herói, aprenda quem quiser: Joaquim José da Silva Xavier
e que foi chamado em todos os tempos, por todas as gentes de o Tiradentes

Se saber mais tu queres, te digo era alferes, era um militar
e havia entre os conjurados um homem danado, veja o que ele fez
e seu nome é triste sem glória, ficou na história, Silvério dos Reis

E esse feio traidor foi correndo falar com o governador,
contou tudo, fez uma tal cena que o visconde de Barbacena
soltou os milico na rua, mandou sentar pua, pegar e bater e matar e prender

Foram então pegados todos os conjurados, encarcerados numa prisão
E no fim de um tempo foram todos soltados, só o Tiradentes morreu enforcado,
chamando pra si a culpa por inteiro, a culpa de tudo, foi homem peitudo, foi bom brasileiro

Esta história bem verdadeira, foi a luta primeira que se deu no Brasil
E depois outras tantas outras houveram que por fim fizeram
um Brasil mais decente, um Brasil independente
Exaltação a Tiradentes
Penteado/Mano Décio da Viola 
 

Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
 

Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Este grande herói
Pra sempre há de ser lembrado

Espanto ("Arena Conta Tiradentes")
Boal/Guarnieri/Theo (*)

Espanto que espanta a gente,
tanta gente a se espantar,
que o povo tem sete fôlegos
e mais sete tem pra dar.
Quanto mais cai, mais levanta;
mil vezes já foi ao chão.
De pé! Mil vezes já foi ao chão.
Povo levanta, na hora da decisão!

Espanto que espanta a gente,
tanta gente a se espantar,
não é de hoje que esse povo
vem dando demonstração:
Alfaiates na Bahia,
Balaios no Maranhão,
Cabanada no Pará
E Palmares no Sertão.

Não só contra os de fora
foi o povo justiceiro:
contra a fome e a miséria
levantou-se o garimpeiro.

Contra os fortes desta terra
levantou-se o Conselheiro;
De pé, contra toda tirania!
Sempre de pé está o povo brasileiro!

Espanto que espanta a gente,
tanta gente a se espantar,
que o povo tem sete fôlegos
e mais sete tem pra dar.
Quanto mais cai, mais levanta;
mil vezes já foi ao chão.
Mas, de pé lá está o povo
na hora da decisão!

 

* Os compositores Théo de Barros (diretor musical da peça), Caetano Veloso, Gilberto Gil e Sidney Miller colaboraram com Boal e Guarnieri na criação dos temas musicais de "Arena Conta Tiradentes", não tendo sido especificada a participação de cada um -salvo no caso de "Espanto", cuja coautoria de Théo foi oficializada quando ele a incluiu no seu primeiro disco.

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