A Educação e o Estado

A Educação e o Estado

"Reconhecemos que existem dificuldades, mas é necessário colocar a Educação brasileira na condição que o povo merece", afirma Ignez Martins Tollini

Fonte: Correio Braziliense (DF) 18 de abril de 2014

Alguns estudiosos acreditam que a má qualidade da Educação brasileira seja um caso sem solução. Para eles, todas as tentativas ao longo dos anos foram inúteis. Contudo, existe grande variedade de provas científicas, trabalhos acadêmicos, livros de estudiosos sobre mudança organizacional e pesquisas atuais na área de ciência cognitiva. Neste artigo, apresentamos três possíveis medidas para sanar os persistentes problemas que continuam presentes na Educação brasileira. 

Em passado recente, 1997, estudo científico, apresentado à Universidade de Londres examinou a inabilidade do Estado brasileiro para realizar sua obrigação constitucional de oferecer Educação pública de qualidade para jovens do Ensino fundamental. O argumento foi que faltava “vontade política” para resolver o problema. O conceito foi entendido como “falta de condições no Estado, capacitando-o para ser um ator efetivo na Educação fundamental”.

Com base em teorias relevantes, esse argumento foi testado contra dados sobre a relação do Estado brasileiro com a Educação fundamental entre 1930 e 1992. Concluiu-se ser possível criar condições necessárias para o Estado funcionar como ator na Educação fundamental, e ofereceu-se recomendações para isso. O trabalho também mostrou que o Estado, no espaço de tempo examinado, não formulou planos de longa duração para a Educação fundamental. Na verdade, “inventou” uma “imagem de ação” durante todo o período. A procura de legitimidade, pelo Estado, foi relacionada com criação de uma “imagem de ação”.

O estudo ainda apresentou recomendações sobre atos a serem desenvolvidos. Entre as principais, suprir a falta de coordenação de ação coesiva e corporativa no setor educacional do Estado e a necessidade de programa de ação comum e de políticas educacionais para a Educação fundamental de modo inteiramente participativo.

Uma segunda medida para sanar os problemas da Educação pública brasileira surgiu em 2001. O acadêmico Michael Fullan, autoridade internacional em reforma da Educação, apresentou um trabalho original de treinamento, consultoria e avaliação da mudança educacional. Fullan havia escrito vários livros sobre o assunto. Depois de alguns anos, observou que seus textos não influenciavam gestores a promover as mudanças sugeridas. Eles tinham dificuldades para pôr em prática as sugestões.
Com colegas canadenses, norte-americanos e ingleses, Fullan desenvolveu a ideia de que teoria e prática deveriam estar juntas para que a mudança acontecesse como desejavam os que a promoviam. A partir dessa fase inicial, o grupo obteve grande sucesso. Seus integrantes foram pessoalmente a vários países — como Cingapura, Coreia do Sul e Dinamarca — para mostrar como pôr em prática as necessárias mudanças na Educação, até hoje comentadas em todo o mundo.

A terceira medida para sanar os problemas da Educação fundamental pública vem, segundo o pesquisador Stephen Kosslyn, da ciência cognitiva, da psicologia, da neurociência e dos sistemas de computação. Hoje, essas áreas se juntam para ajudar o Professor a olhar para o futuro, isto é, a ensinar seus Alunos a aplicar o conhecimento que os livros oferecem.
É interessante notar que existem coincidências entre as três possibilidades de sanar a má qualidade da Educação fundamental no Brasil. A primeira mostrou que o Estado não conseguiu ser um ator para fazer as mudanças necessárias porque não tinha as habilidades imprescindíveis. A segunda, que faltou ao Estado unir a teoria à prática, no passado conhecida como didática. A terceira mira o futuro, com a expectativa de que os conhecimentos atuais da ciência cognitiva levem os Professores da Educação superior a ensinar os Alunos a aplicar os conhecimentos que os livros oferecem.

Enfim, o Estado brasileiro deve levar as possibilidades de mudança aqui mencionadas para serem discutidas por gestores da Educação. Reconhecemos que existem dificuldades, mas é necessário colocar a Educação brasileira na condição que o povo merece.

*Mestre em Educação




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