A qualidade do professor

A qualidade do professor

"Faltam cursos de formação continuada para os educadores", afirma o jornal

Fonte: Estado de Minas (MG)   11 de julho de 2014

Que o Brasil precisa fazer, com urgência e inteligência, uma revolução na Educação em todos os níveis, mas principalmente nos Ensinos fundamental e médio, é fato plenamente aceito. E, agora que acaba de se aprovar o Plano Nacional da Educação (PNE), com metas a serem cumpridas ao longo dos próximos 10 anos, é imprescindível que o governo federal – não importa quem vença as próximas eleições – lidere, por meio do Ministério da Educação (MEC), um grande esforço de diagnóstico e de busca de consenso para o planejamento eficaz dos programas.

Não é tarefa para amadores e muito menos para o voluntarismo de políticos sempre prontos a pegar carona nos grandes temas sem procurar entendê-los. O PNE prevê a ampliação de recursos públicos dos atuais 6,4% do PIB (sendo 5,5% com a Escola pública e 0,9% com programas ligados à Escola particular) para 10% ao fim dos próximos 10 anos. Passa a ser uma massa considerável de recursos, representando um esforço da sociedade que não pode ser desperdiçado pela ineficiência, pela falta de foco e de perseverança na perseguição dos objetivos. Foco é, aliás, algo a ser prioritariamente definido e tenazmente mantido, imune a eventuais mudanças de partido no poder. Afinal, Educação tem de ser questão de Estado, não de governo.

É nesse contexto que deve ser encarado o Professor como figura central na revolução que se pretende. E isso não tem a ver apenas com a remuneração que o país precisa proporcionar a esse profissional, se quiser mesmo atrair e manter talentos e vocações para produzir Educação de qualidade. É fundamental que se debrucem os especialistas em programas destinados à reciclagem, ao treinamento e ao reforço à preparação acadêmica dos atuais e futuros mestres brasileiros.

Motivos não faltam, como revelou estudo divulgado na semana passada pelo Instituto Ayrton Senna, em parceria com o Boston Consulting Group, consultoria norte-americana de gestão empresarial. Segundo a pesquisa, que ouviu 2.732 Educadores brasileiros entre novembro de 2012 e março de 2013, a maioria (70%) dos cursos de formação continuada oferecidos aos Professores é ineficaz e não motiva os profissionais. Os entrevistados se queixam de que a maior parte das atividades oferecidas em suas Escolas são de caráter coletivo e fora da sala de aula, com pouco ou nenhum resultado prático em relação à melhoria da qualidade do Ensino.

Além disso, nas Escolas públicas que oferecem alguma modalidade de formação complementar aos Professores, ocorrem mudanças que descontinuam os cursos ou seus objetivos, conforme muda a administração municipal ou estadual. Convênios com universidades, por exemplo, são trocados conforme a nova gestão, nem sempre mantendo o mesmo padrão de aproveitamento.

É o que leva especialistas a apontar a necessidade de o MEC capitanear uma discussão técnica que desemboque no estabelecimento de um currículo mínimo comum a todo o país, ainda que abra espaço para que se observem demandas regionais. A valorização do Professor não fará, portanto, qualquer sentido se ela não for parte de um projeto maior, totalmente voltado para qualidade do Ensino.  

 

Formar bons professores implica entender a complexidade da unidade escolar

"Condições adequadas são mais que lousa e giz. É preciso pensar espaços e horários de planejamento adequados", afirma Gesley Fernandes

Fonte: UOL Educação  11 de julho de 2014

No Brasil, a discussão acerca da formação dos docentes fica sempre voltada a um método conteudista, onde o melhor professor seria aquele capaz de fazer com que seus estudantes consigam atingir altos índices em testes de conteúdo acumulado. A aprovação do PNE (Plano Nacional de Educação) traz, ainda, o perigo de institucionalizarmos o modo como avaliamos o trabalho dos professores. Apesar de campanha de entidades do setor, a estratégia 7.36 da meta 7 do PNE não foi vetada pela presidenta. Essa diz:

“estabelecer políticas de estímulo às escolas que melhorarem o desempenho no Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], de modo a valorizar o mérito do corpo docente, da direção e da comunidade escolar''.

Com isso, existe a possibilidade de aplicar métodos de gestão de pessoal arcaicos no setor de educação, ao tentar vincular o crescimento das notas no Ideb com salário ou algum tipo de bonificação. A estratégia, que à primeira vista aparenta ser uma boa ideia, pode não ter efeito algum, ou até efeito contrário. Isso porque ao lidar com ensino-aprendizagem em um ambiente complexo como a escola, não se pode fazer uma conta simples de: um bom professor ensinando = um aluno aprendendo. Existem fatores demais para que o processo de aprendizagem se dê de forma adequada.

Faço este apontamento para questionar, então, o que seria um professor capacitado. Existe uma série de programas que tentam melhorar ou aprimorar a formação de nossos professores, os quais muitas vezes mal saem da universidade e já são estimulados a entrar em programas de qualificação.

Fica a dúvida, então, de como as redes de ensino, sobretudo as públicas, contratam e gastam seus recursos com qualificação docente. Muitas vezes são dados programas conteudistas aos professores e se esquece de outras condições de trabalho que podem influir muito mais do que o educador saber os pormenores de como prender a atenção de 30 a 50 estudantes.

Dar condições de trabalho adequadas é um mínimo para qualquer profissional, e não é diferente com um professor. E no caso desse, condições adequadas são mais que lousa e giz. É preciso pensar espaços e horários de planejamento adequados, uma infraestrutura que possibilite a ele montar o material didático adequado, etc.

Ter em mente que a unidade escolar é um ambiente complexo já é um primeiro passo para não cairmos na armadilha de soluções que parecem milagrosas. Deve-se considerar que dentro da unidade escolar se encontram estudantes, professores e apoio escolar, os quais fazem parte da sociedade e trazem consigo seus anseios e esperanças. Suas relações, histórias de vida e local onde se encontram não se anulam ao entrar na escola, e muito menos por algum decreto exigindo maior absorção de conteúdo.

Pensar a profissão docente e a formação desses exige respeito ao ambiente onde ele irá exercer sua profissão, e somente com isso em mente poderemos então começar a melhorar uma das pontas fundamentais no setor educacional.

 




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