Programa identifica alunos violentos

Programa identifica alunos violentos

Programa da polícia identifica alunos com potencial para violência

BBC - IG Último Segundo- 28/08/2015 - São Paulo, SP

 

Um programa criado pela polícia de Los Angeles que tenta identificar e tratar estudantes com potencial de cometer agressões contra professores e alunos tem obtido sucesso na prevenção de episódios de violência nas escolas do condado americano.

O projeto é centrado no trabalho de um grupo formado por especialistas e funcionários treinados, o School Threat Assessment Response Team (Equipe de Avaliação de Ameaças em Escolas, em tradução livre, ou START, na sigla em inglês), que, como o nome já diz, avalia riscos de ameaça de violência em escolas e ajuda em casos de emergências.

A equipe recebe entre 40 e 60 casos por dia. São contatos feitos por diretores e funcionários de escolas, policiais e os próprios pais de estudantes cujo comportamento desperta preocupação. Em alguns casos, o jovem em questão faz ameaças contra outros ou fala em suicídio.

Cabe ao START avaliar se há um risco real - e identificar problemas emocionais que possam culminar em atos de violência - ou se o estudante está simplesmente enfrentando problemas, como bullying, e tentando chamar a atenção.

Essa avaliação inclui visitas às escolas e aos lares e conversas com as famílias, para compreender o histórico do jovem e a dinâmica familiar. Em alguns casos, com a permissão dos pais, inclui também inspeção em computadores e mochilas, em busca de armas ou algum indício de ameaça maior.

Dependendo da gravidade da situação, o estudante pode ser colocado em observação por profissionais de saúde mental ou até ser detido, caso algum crime tenha sido cometido. Mas mesmo nos casos em que o risco não é considerado grave, o estudante recebe aconselhamento e tem acesso a acompanhamento psicológico e de serviços sociais.

O START conta com dez profissionais em dedicação exclusiva, entre psicólogos, assistentes sociais, terapeutas de família e enfermeiras com especialização psiquiátrica.

Além disso, tem uma rede de 250 funcionários do `Emergency Outreach Bureau` do Departamento de Saúde Mental, que não são funcionários específicos do programa, mas recebem treinamento de avaliação de risco de ameaça de violência e ajudam em casos de emergência. Muitas vezes são esses os primeiros a chegar ao local e ter o primeiro contato com o jovem.

Longo prazo

Um dos trunfos do programa é o fato de compartilhar informações entre policiais, equipes de saúde e escolas. As instituições de ensino recebem treinamento anual do START para identificar ameaças e avaliar riscos.

Outro diferencial é o fato de os estudantes serem monitorados em longo prazo, às vezes durante vários anos. `Nós acompanhamos o aluno, monitoramos seu sucesso na escola, como sua família está, conversamos com os terapeutas, com os professores`, diz Boyd.

`A frequência e a intensidade desse acompanhamento vai depender do nível de risco. Também pedimos a todos os envolvidos que nos avisem imediatamente caso algo mude, o comportamento, o nível de stress, a situação familiar`, explica.

Alguns estudantes continuam sendo monitorados mesmo depois de terminarem o ensino médio e a faculdade e entrarem no mercado de trabalho.

`Nos últimos cinco anos (desde que o programa foi ampliado para todo o condado) não tivemos nenhum caso de violência extrema na nossa área de atuação. Vários estudantes que apresentavam risco acabaram se formando e ingressando na universidade, sem nenhum incidente. Consideramos isso um sucesso`, disse a assistente social especializada em psiquiatria Maria Martinez, uma das especialistas do programa.

Martinez relata o caso de um estudante de 18 anos que vinha recebendo notas baixas e começou a enviar e-mails ameaçando matar um professor.

`Nossa experiência mostra que muitas vezes estudantes que não têm desempenho muito bom acabam culpando os professores`, observa.

No caso, a equipe descobriu que o aluno em questão sofria forte pressão da família, que tinha expectativas muito altas em relação ao seu desempenho escolar. Além disso, ele enfrentava problemas de identidade de gênero. Com a intermediação do START, foi encaminhado a serviços de saúde mental e aconselhamento.

`Ele acabou recebendo ajuda, suas notas melhoraram, e as ameaças pararam. Ainda estamos monitorando, e ele está estável`, relata.

Boyd ressalta a importância de manter esses estudantes na escola, em vez de ceder ao impulso de expulsar alunos que fazem ameaças ou exibem comportamento instável.

`Se estiverem fora de sala de aula, ficarão o dia inteiro em frente a um computador, com tempo livre para aumentar sua frustração e ressentimento`, diz.

`Mas, obviamente, dependemos da cooperação das escolas. Se decidem expulsar um estudante, não temos como impedir.`

Ameaça a professores

O programa foi criado pelo Departamento de Polícia de Los Angeles em 2007, logo após o massacre da Universidade Virginia Tech, no Estado da Virgínia, no qual o estudante Seung-Hui Cho matou 32 pessoas e se suicidou. Mas sua área de abrangência vai além da prevenção de casos de tiroteios.

`Nosso foco é qualquer tipo de violência que possa ocorrer nas escolas`, disse à BBC Brasil a gerente do programa, Linda Boyd, do Departamento de Saúde Mental do Condado de Los Angeles.

`Lidamos com muitos casos de estudantes que ameaçam matar os professores`, diz Boyd.

Uma pesquisa recente conduzida pela Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês) concluiu que 80% dos professores nos EUA sofrem algum tipo de violência ou ameaça nas escolas.

Desde 2009, o programa foi ampliado para atender a todo o condado de Los Angeles, o mais populoso do país, com quase 10 milhões de habitantes e mais de 1 milhão de estudantes. Para os responsáveis pelo programa, ele poderia ser facilmente replicado em outros lugares, até mesmo no Brasil, desde que haja colaboração entre os setores policial, de educação e de saúde mental.

O orçamento anual do programa é de US$ 1,9 milhão. Os recursos vêm principalmente da Lei de Serviços de Saúde Mental da Califórnia, aprovada em 2004, que destina um imposto de 1% sobre a renda de milionários para financiar novos programas de saúde mental.

Apesar do sucesso, o START é uma iniciativa isolada, e o problema da violência nas escolas nos Estados Unidos, especialmente contra professores, continua recebendo menos atenção do que os especialistas gostariam.

Casos como o de Virginia Tech ou o do massacre na escola Sandy Hook, no Estado de Connecticut, em 2012, no qual o jovem Adam Lanza, de 20 anos, matou 20 crianças e seis adultos e se suicidou, ganham as manchetes, mas são considerados exceção.

No entanto, o drama da violência contra professores nas escolas americanas muitas vezes acaba sendo ignorado.

A força-tarefa da APA sobre violência contra professores, coordenada pela professora de psicologia da educação Dorothy Espelage, da Universidade de Illinois, ouviu 3 mil educadores no país.

Entre os 80% que relatam terem sido vítimas de violência na escola, 94% disseram que a agressão partiu de um estudante. Mais de 50% relataram roubo ou danos, e 44% disseram ter sido fisicamente atacados.




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