Nível de stress preocupa

Nível de stress preocupa

Níveis de doença e stress entre os professores são alarmantes

Pesquisas mostram que as exigências da profissão e a falta de estrutura têm gerado afastamentos num ritmo elevado. Prognóstico é negativo

  • Bruno Raphael Müller, especial para a Gazeta do Povo [07/09/2017]
 | Kat Smith
Kat Smith

A julgar por pesquisas recentes, a falta de professores nas escolas deve se tornar um problema grave no Brasil no futuro próximo - seja por adoecimento, seja por desestímulo pela carreira interesse na carreira.

Segundo a professora Juliana Radaelli, do departamento de Psicologia da PUCPR, as más condições de trabalho estão ligadas diretamente ao desinteresse pela profissão: a docência acaba se tornando a última das opções de profissionais especializados em suas respectivas áreas. “Registramos depoimentos de jovens professores que já pensam em abandonar a profissão. Podemos pensar que, em um futuro não muito distante, não teremos muitas pessoas dispostas a ensinar”, prevê. Levantamentos feitos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração (Consad) entre 2011 e 2017 mostram que a insatisfação dos professores brasileiros da rede pública chegou a níveis alarmantes. O grande fator negativo é que profissionais iniciantes estão mais desmotivados do que os profissionais mais experientes.

A pesquisa conduzida por Juliana, em processo de conclusão, tinha como mote inicial calcular o nível de adoecimento e stress entre professores mais novos e outros de carreira acima de dez anos na rede estadual. 

Após visitar cinco escolas de Curitiba e entrevistar quase uma centena de profissionais, porém, a pesquisadora descobriu que o problema ia além: mais de 35% dos professores com menos de dez anos de docência entrevistados já estão no nível de stress de “quase exaustão”, que no critério da pesquisa leva em consideração o momento em que há risco do surgimento de doenças graves. Esse estado, aliás, precede apenas mais um, o da síndrome de Burnout, esgotamento físico e mental cujas consequências podem levar à depressão, dependência química e, em casos extremos, ao suicídio. 

Outro dado preocupante é o índice de psicopatologias declaradas pelos participantes da pesquisa: 40%. Dentro deste grupo, 59% declararam ter depressão. “Podemos interpretar isso como um alerta para a necessidade de mudanças na atenção a esses profissionais”, avalia Juliana. 

Apesar da amostra baixa e regionalizada, os números corroboram com uma tendência constatada há mais de cinco anos em pesquisas de maior representatividade. Segundo um levantamento feito em três estados e no Distrito Federal pelo Consad, a educação é responsável pela maior parte dos servidores públicos afastados por doenças. 

No Distrito Federal, o índice chama a atenção: 58% dos profissionais da área são afastados pelo menos uma vez por ano. Na visão do secretário de Saúde do Trabalhador no Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Manoel Alves Filho, os principais motivos para isso são a “baixa remuneração, o pouco reconhecimento do trabalho e a perda da identidade profissional”. 

Outra pesquisa, feita em 2012 pelo Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) com 9 mil professores, aponta outros agravantes para o adoecimento e stress dos professores. O excesso de estudantes em sala de aula, a violência e a falta de tempo para planejar aulas e corrigir provas, que leva profissionais a ocuparem o tempo livro com trabalho, foram os motivos mais citados para justificar a insatisfação. 

Os prognósticos são negativos, em médio e longo prazo. A interpretação dos números é lógica e clara: se não contornada, a questão pode gerar desdobramentos como a falta de profissionais ou baixa qualificação. “Nosso estudo refutou, surpreendentemente, a ideia de que o descontentamento com a profissão é progressivo e tende a ser maior nos docentes com mais tempo de carreira”, diz Juliana. “Muito disso pode estar relacionado a uma quebra de expectativas do professor com relação a profissão: a falta de reconhecimento social, à frustração com a realidade educacional e, consequentemente, a uma perda da identidade do sujeito como um trabalhador da educação”, conclui.

http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/niveis-de-doenca-e-stress-entre-os-professores-sao-alarmantes-4e3hoiomzo5jhw9by77pli6b2 

 

Saúde do professor está ligada a boas condições de trabalho, diz CNTE

  • 15/10/2015 
Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
sala de aula

Distrito Federal lidera índice de professores afastados por motivo de doença pelo menos uma vez no ano Arquivo/Agência Brasil

A professora de matemática do Centro de Ensino Fundamental da 316 Norte, em Brasília, Avelina Pereira Neves não responde imediatamente à pergunta: por que continua na profissão? Ela se emociona e diz que "ser professor é ser movido por uma paixão, por um sonho de transformação".

Com 49 anos e 30 de profissão, Avelina pediu aposentadoria para o início do ano que vem. As lágrimas, segundo ela, são menos por deixar a escola e mais por avaliar o que o exercício do magistério lhe causou. A lista de enfermidades inclui problemas gástricos, irritabilidade, problemas nas articulações. "A gente se aposenta e não serve mais para nada. Quando você gosta, cria muitos sonhos, não pensa na dificuldade, só pensa no produto do seu trabalho. Quando acaba, está com a coluna ruim, braços, tanta coisa, problemas psiquiátricos". Durante a carreira, a professora passou dez anos afastada, exercendo outra função na escola, por questões de saúde.

Ao fim da entrevista com Avelina, ela se junta aos demais professores no pátio da escola. Lá, os estudantes prepararam uma homenagem para eles em comemoração ao Dia do Professor. "Hoje, os estudantes que se organizaram, que prepararam tudo". Ela lembra que insistiu, em outras ocasiões, que o espaço fosse usado em atividades para os alunos. "A gente fica nessa expectativa de que aprendam, de que tenham uma vida melhor".

Avelina Pereira Neves é professora há 30 anos
Avelina Pereira Neves é professora há 30 anos
Marcelo Camargo/Agência Brasil

O caso de Avelina não é isolado. Uma pesquisa feita em três estados - Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina - e no Distrito Federal (DF) mostra a Secretaria de Educação como o órgão com maior percentual de servidores públicos afastados por doenças no DF e em Santa Catarina. O Distrito Federal lidera o índice - 58% dos profissionais foram afastados por motivo de doença pelo menos uma vez no ano. Em Santa Catarina são 25%. No Rio Grande do Sul, a educação aparece como a área com o terceiro maior índice de afastamento entre as secretarias do estado, 30%.

A pesquisa foi feita pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração (Consad) entre 2011 e 2012 e divulgada no ano passado.

Outra pesquisa, citada em revista da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) de 2012 - Trabalho Docente na Educação Básica no Brasil -, revela que as principais causas de afastamento de docentes são processos inflamatórios das vias respiratórias (17,4%), depressão, ansiedade, nervosismo, síndrome do pânico (14,3%) e estresse (11,7%). Foram entrevistados 8,9 mil professores em Minas Gerais, no Espírito Santo, em Goiás, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Norte e Pará.

"Temos uma categoria que sofre muito de estresse pelo número de alunos em sala de aula, pelos salários baixos, pelas difíceis condições de trabalho", diz o presidente da CNTE, Roberto Leão, acrescentando que o estresse leva a outras doenças. Segundo ele, é difícil conseguir dados nacionais confiáveis e, geralmente, as doenças não são tratadas nas causas.

Leão cita o  excesso de estudantes em sala de aula, a violência nas escolas, a falta de tempo para planejar aulas e corrigir provas, o que faz com que os profissionais ocupem o tempo livre e os finais de semana com trabalho, como algumas das condições que levam às doenças. "Precisamos que os profissionais estejam bem porque eles vão lidar com adolescentes, jovens, que são o futuro do país", afirma.

Saúde no DF

De acordo com o Consad, no Distrito Federal, líder no índice de afastamento por doenças, os problemas são causados principalmente por transtornos mentais e comportamentais, como depressão, ataques de ansiedade, fobias e distúrbios do sono, de acordo com a Subsecretaria de Segurança e Saúde no Trabalho da Secretaria de Estado de Gestão Administrativa e Desburocratização.

O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) estima que esses atestados representam hoje 70% dos afastamentos. "Uma doença psíquica não é curada em uma semana, às vezes leva tempo, precisa de remédios. Pode levar até meses, anos para o professor se recuperar", diz a coordenadora da Secretaria de Saúde do Trabalhador do Sinpro-DF, Maria José Correia. "A secretaria não está preparada e nem sempre envia professor para substituir. Em casos de atestados de 15 dias, de até um mês, os alunos ficam sem professor", acrescenta.

A subsecretária de Segurança e Saúde no Trabalho, Luciane Kozicz, que coordenou o estudo do Consad, diz que a saúde do professor é preocupação do governo, que instituiu em junho deste ano a Política Integrada de Atenção à Saúde do Servidor. Uma das ações que serão desenvolvidas é, junto com o servidor, mapear as causas das doenças e tentar desenvolver programas antes que o profissional saia de licença.

O que diz a lei

No Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado no ano passado pela presidenta Dilma Rousseff, estão as metas de garantir a formação continuada e pós-graduação aos professores, equiparar o salário ao dos demais profissionais com a mesma escolaridade e garantir plano de carreira. O primeiro prazo termina no ano que vem, limite para a definição do plano de carreira.

"O professor é uma peça-chave na educação do país e, se quisermos dar prioridade à educação, precisamos valorizar o professor em termos de salário, de condições de trabalho, além do reconhecimento social da importância da profissão", diz a coordenadora-geral do movimento Todos pela Educação, Alejandra Velasco.

Edição: Graça Adjuto

http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2015-10/saude-do-professor-esta-ligada-boas-condicoes-de-trabalho-diz-cnte 




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