Refundar ou afundar?

Refundar ou afundar?

Refundar ou afundar o Estado?

afundarPor Sergio Araujo

Dois anos após ter tomado posse com o slogan “Todos pelo Rio Grande”, adaptado de outro, adotado na campanha eleitoral, “Meu partido é o Rio Grande”, o governo Sartori fez um anúncio de medidas, do tipo arrasa quarteirão, intituladas de “Um novo Estado, um novo futuro”. Trata-se de um rótulo bonito para disfarçar aquele que é o maior pacote de maldades já constituído por um governo estadual. Uma dissimulação. Mais uma. De um governo cuja característica, desde a campanha eleitoral, é a desfaçatez.

Embora tenha vocação para o marketing criativo, dificilmente o atual governo conseguirá convencer a população – que na última pesquisa Ibope deu ao governo peemedebista uma avaliação de 89% entre ruim e péssimo – de que a tal “refundação do Estado”, como o Piratini decidiu conceituar o pacote, vai produzir os resultados que até agora não foram alcançados.

É que o sucesso para a aplicação das medidas ousadas precisa do apoio da sociedade, coisa que comprovadamente Sartori não tem. E isso terá reflexo na decisão que cada deputado estadual terá que tomar na hora de votar o calamitoso pacote. Curioso constatar que a proposição das medidas radicais ocorra em meio a tentativa de implantar uma CPI da Segurança Pública, solicitada pela OAB-RS, e um processo de impeachment, requerido pelo Cpers.

Essa tentativa de tentar terceirizar a responsabilidade pela sua incompetência é outra marca das administrações peemedebistas. E não apenas no RS. Agora mesmo, no Rio de Janeiro, o governador Pezão fez o mesmo que Sartori. Lá, como aqui, o PMDB já esgotou seu estoque de confiabilidade. E não foi por falta de oportunidade. No Rio de Janeiro o PMDB está no governo do Estado de 2003 até hoje. E no Rio Grande do Sul, nos últimos 29 anos, o PMDB governou o Estado em 14 (Simon, Britto, Rigotto e Sartori). Então de nada adianta o discurso de terra arrasada de Pezão e Sartori se ele não for precedido pelo imprescindível mea-culpa.

É por isso que as medidas anunciadas por Sartori dificilmente terão boa receptividade na Assembleia Legislativa. Não se faz revolução sem adesão e apoio popular. Propor medidas como o aumento da contribuição previdenciária, a extinção de fundações, autarquias e companhias mistas; a fusão de secretarias e autarquias e a supressão de conquistas trabalhistas, gestadas pelo chamado “núcleo duro do poder” – uma minoria composta por amigos do governador -, é fazer pouco caso da importância do serviço público e da capacidade intelectual dos gaúchos. E mais, querer impor isso goela abaixo da base governista é querer transferir para os deputados a causa e as consequências pelo fracasso do governo peemedebista.

Fosse menos teimoso e mais competente, o governador saberia que não existe governo forte com funcionalismo fraco. E de que sem servidor valorizado e motivado o Estado deixa de existir. Mas de tudo isso ainda é possível tirar algo de positivo. Uma lição. Não dá para acreditar em candidato bonzinho, que se apresenta como humilde, simples e bem intencionado. Se ele não disser com clareza o que pretende não dá para confiar. Sartori é o exemplo vivo de que a fabula do lobo em pele de cordeiro pode se tornar realidade e virar uma história de terror.

O que não é dito no esforço de camuflagem do desgoverno peemedebista é que para os gaúchos o governo Sartori já acabou. Mesmo restando dois anos de gestão. Essa sim uma verdade transparente e inquestionável. O Rio Grande não precisa de um novo Estado. Precisa é de um novo governo.

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Sergio Araujo é jornalista e publicitário.

 

http://www.sul21.com.br/jornal/refundar-ou-afundar-o-estado/ 




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