Sem alunos

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O saber imerso no vazio: sem alunos, escolas fecham

Análise de cessamento solicitada pelo Estado atinge 13 instituições de ensino da região


Crédito da foto: Lidiane Mallmann

Vale do Taquari - A escola é na essência um reduto do saber. O local onde se ensina e se aprende. Forma cidadãos e define o futuro da sociedade. Para a professora Lilia Margaret Hoff (54) a Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Pedro Braun representa ainda mais.

Situada em Linha Glória - localidade do interior que faz divisa com Fazenda Vilanova, Teutônia e Bom Retiro do Sul - a instituição tem 71 anos e leva o nome do bisavô de Lilia. Natural de Estrela, ela foi criada no local, e sempre estudou na escola, junto com os irmãos.
Em agosto, após anos atuando como professora nesta mesma instituição, recebeu o título de diretora que, infelizmente, perderá no próximo dia 23. Com lágrimas nos olhos, ela conta que será obrigada a fechar todas as portas da escola. A causa é a falta daqueles que um dia lotavam as oito salas do prédio em busca de aprendizado: os estudantes.
Hoje, apenas Duda (11), do quinto ano, e Carine (9), do quarto, ocupam o local, que já foi frequentado por mais de 200 alunos, na década de 1980. O restante é vazio. Elas passaram o ano aprendendo sozinhas, e não gostaram da experiência. "Não tinha muita gente para brincar, era ruim", afirma Carine.

Ontem, durante a quarta-feira nublada, as duas realizavam trabalhos de artes, num espaço que ainda conta com parte da biblioteca, uma televisão, e paredes marcadas pelas estantes, já destinadas a outras escolas, assim como todas as classes e cadeiras. O prédio e a área verde ainda permanecem sem destino.

Perda sem reparos

Além da turma de Duda e Carine, Lilia, com outros dois professores, instruía oito alunos dos anos finais. Porém, em outubro, uma tragédia desfez a turma, que tinha aulas pela manhã. Quatro alunas, moradoras da aldeia caingangue, nas margens da BR-386, foram atingidas pelo rodado de um caminhão e faleceram.

Fato que deixou ainda mais difícil este momento. "É muito triste. É uma parte da vida da gente. Eu estou me aposentando e fechando a escola do meu bisavô, com toda essa tragédia que aconteceu. A gente sente". Os demais alunos, que também são indígenas, agora tem aulas dentro da comunidade, e não retornaram mais à escola.

Demais atingidas

Na metade deste ano, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) solicitou à 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) uma análise de 13 escolas estaduais de ensino fundamental da região, com menos de 50 alunos, para possível fechamento. Uma delas, a Madre Branca, do Centro de Estrela, já teve as atividades encerradas em setembro. A escola contava com apenas seis alunos. "Foi fácil, tem outra escola bem em frente", comenta o coordenador da 3ª CRE, Nelson Paulo Backes. O espaço foi cedido para o município, que utilizará para a sede da Pousada da Criança.

Além da Pedro Braun, pelo menos outras duas escolas do Vale também cessarão ao final do ano letivo: a Clotilde Braga, de Taquari, com 32 estudantes, e Heitor Peretti, de Encantado, com 39.

Em relação a esta última, ainda falta o aval da Seduc, mas as matrículas para o próximo ano já não foram permitidas. Os alunos serão remanejados para a instituição estadual Érico Veríssimo, que possui um número de estudantes semelhante, mas mais estrutura, segundo o coordenador. "Ainda vamos chamar os pais para conversar."

Em Progresso, a Matias Ferrari, hoje com 20 alunos, e a Fazenda do Estado, também de Taquari, com menos de dez alunos, correm alto risco de fechamento, a partir do próximo ano.

O patrimônio de cada uma é repassado para outras escolas, de acordo com a necessidade. Enquanto os prédios podem ser cedidos para os municípios.

Viabilidade

Outras sete escolas, não reveladas pela 3ª CRE, serão analisadas ao longo do próximo ano. Segundo Backes, em primeiro lugar são avaliadas as questões pedagógicas - possibilidade de ensino com poucos alunos - e a parte estrutural - viabilidade de investimentos no local, equipamentos já oferecidos, vagas em outras escolas, transporte para outras instituições, entre outros.

"Nem é nosso objetivo fechar, nos dói muito isso. Até porque algumas nem são passíveis de cessamento. É uma análise minuciosa, cada uma tem suas especificidades", ressalta.

O motivo

O fato da educação infantil e do ensino fundamental passarem a ser de responsabilidade dos municípios fez com que estes oferecessem condições aos alunos, e de alguma forma os integrassem a sua rede de ensino. A cada aluno, mais verba é recebida.

Outro fator é a diminuição de matrículas, num geral. Em toda a rede estadual de ensino, nos últimos dez anos, a quantia caiu 30%. Em dois anos, somente nas 92 escolas estaduais do Vale, o número de alunos caiu de 27 mil para 24 mil. O que tende a reduzir ainda mais, tendo em vista que para cada família gaúcha há apenas 1.6 filho.



Crédito da notícia: Redação - Carolina Chaves da Silva
Última atualização: 03 de dezembro de 2015 às 08h54min



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