Sem o dever de casa feito
Voltamos às aulas sem o "dever de casa" feito
Minha mãe, professora estadual desde os anos 50, fazia parte da terceira turma de professoras formadas em Bento Gonçalves, no Colégio Medianeira, das Irmãs... conta ainda a história de uma aluna que chegou cedo na aula e lhe entregou lindas bergamotas. Mas quando ela revisou os cadernos e verificou que a menina não tinha feito o tema de casa, e disse, não te preocupes, ficas no recreio e fazes, a aluna então disse: então me devolve as bergamotas! Ela ri da ingenuidade da garota até hoje, mas imagino a lição que a menina nunca mais esqueceu!
Infelizmente, nosso governante inventa estratégias novas para convencer que dessa vez fará o tema de casa, talvez porque não tenha recebido a sanção por reciprocidade, necessária à aprendizagem diante do erro. Foi reeleito apesar do abandono do investimento nos espaços escolares, apesar da profunda retirada de direitos de salários, carreira e aposentadoria, apesar de não cumprir as metas do Plano Estadual de Educação e implementar um Ensino Médio que renuncia à formação integral.
É duro acompanhar as escolas nesse início de ano letivo e ver que a alimentação escolar é um bolinho industrializado e um suquinho em caixinha, tudo diminutivo sim, para adolescentes que têm grandes fomes! Não há merendeiras e não estão adequados as cozinhas e os refeitórios!
É triste ver que a política de bibliotecas abandonadas persiste e que o concurso postergado por anos, é anunciado para 1500 vagas quando em contratos temporários estão 25.700 professores! Que o mecanismo de pagar o piso salarial não pagando - pois desconta do próprio salário das professoras - inclusive aposentadas, segue sendo a fórmula do governo de ludibriar a lei e a opinião pública.
Não fora a valentia das direções de escolas, a teimosia e garra das educadoras e educadores, não teríamos nem as possibilidades venturosas das tarefas de aula!
Mas, bergamotas eu vi previstas nos empobrecidos cardápios enviados à escola pelo governo. Porém, nem elas, nem as palavras ao vento do governo compram nossa determinação de lutar para que respeitem a educação!
PoA, fevereiro 2023
Artigo publicado no jornal Correio do Povo nesta segunda, 13/03/23