42 meses de salários atrasados

42 meses de salários atrasados

Professores gaúchos paralisam atividades e exigem audiência com governador

Categoria denuncia os 42 meses de salários pagos em atraso e a demissão de professores em licença saúde

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS), 3 de Junho de 2019 às 17:34

Manifestantes cobram dignidade aos educadores da rede estadual do Rio Grande do Sul  - Créditos: Divulgação Twitter

Manifestantes cobram dignidade aos educadores da rede estadual do Rio Grande do Sul / Divulgação Twitter

Após o governo Eduardo Leite (PSDB) confirmar o 42º mês de salários atrasados ou parcelados aos servidores do Rio Grande do Sul, os professores e funcionários das escolas estaduais paralisaram suas atividades nesta segunda-feira (03) e foram às ruas exigir respeito ao direito básico de receber em dia e de forma integral. No início da tarde, centenas de educadores saíram em caminhada da sede do CPERS/Sindicato, no centro de Porto Alegre (RS), até a sede do Poder Executivo, o Palácio Piraniti, para solicitar uma audiência com o governador.

Representantes de núcleos do CPERS de diversas regiões do Estado participam do ato. A entidade informa que em alguns municípios houve greve geral da categoria e, em outros, as escolas estão funcionando com carga horária reduzida. Além de exigir o fim dos atrasos, os educadores denunciam a defasagem dos reajustes salariais e a orientação dada pela Secretaria da Educação, que manda demitir os professores contratados em regime de emergência que estiveram com licença saúde por mais de 15 dias. “É uma questão de dignidade, queremos a audiência para reverter essa situação”, afirma a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.

Para a professora aposentada Marli Helena da Silva, a falta de reajuste desde 2014 e o calendário de parcelamentos é uma situação muito triste e acarreta em problemas de saúde e endividamentos. “Que trabalhador vive hoje sem a expectativa de receber seu salário depois de um mês trabalhado? As contas continuam caindo, as dívidas continuam aumentando, principalmente com a necessidade que os colegas têm de solicitar antecipação de salário com juros cada vez maiores. O calendário de parcelamento vai até a metade no mês, enquanto nossas dívidas acontecem no começo do mês”.

“São cinco anos sem aumento de salário, estamos perdendo poder aquisitivo. Como estava o preço do botijão de gás há 4 anos e quanto está agora? Quase R$ 100 reais em alguns lugares! E nós não tivemos essa reposição. Situação de quase miserabilidade”, afirma a trabalhadora de escola Dulce Mirian Delan. Ela também acusa que o governo exige dos professores uma melhoria do ensino mas não dá as condições mínimas: “É o sucateamento das escolas, falta valores para repôr material pedagógico, consertar prédios, faltam profissionais”.

Salários atrasados e professores doentes demitidos

Professores receberam apoio das pessoas nas ruas da capital gaúcha 

“São 42 meses de atraso, daqui a seis meses fecham quatro anos de parcelamento”, protesta a presidente do CPERS. Ela também critica a decisão do governo de demitir os professores de contrato emergencial que estão de laudo: “Temos professores e funcionários com câncer sendo demitidos. E hoje recebemos a denúncia que uma gestante que estava de licença foi demitida”. Um exemplo da situação, conforme o site da entidade, é o caso de uma educadora de Canoas que, às vésperas de iniciar as sessões de radioterapia, teve que voltar a dar aulas na sua segunda escola para manter o contrato e não perder o plano de saúde.

A deputada estadual Sofia Cavedon (PT) avalia a questão dos contratados como escandalosa e critica a falta de respeito com os educadores. “Temos hoje mais de um terço de contratados temporários atendendo nossos filhos nas escolas e o massacre é que é só por 10 meses, sem nenhum direito ou garantia de continuidade”, disse ela em relação aos novos contratos emergenciais que a rede estadual vem firmando, em que os educadores recebem de março a dezembro e ficam sem emprego nos meses que antecedem o ano letivo.

Investimento em queda livre

Mesmo com a Constituição Estadual determinando 35% de investimento na educação, conforme a deputada, os números mostram uma queda livre: Em 2017, o investimento chegou a 33%; já em 2018, foram aplicados 26% apenas das receitas na área. “É o percentual dedicado à educação que está reduzindo, por que a receita está se realizando. Só que eles vêm desviando, colocando em outros setores, outras prioridades”, avalia.

Sobre o piso, Cavedon lembra que “chegamos ao final de 2014 com 70% do valor do piso nacional, que é R$ 2.400,00. Hoje falta 103% de reajuste para chega ao piso. Então é um empobrecimento escrachado da educação estadual”.

O salário-base do professor estadual é R$ 630,00 para 20 horas semanais e R$ 1.240,00 para 40 horas, segundo Helenir. “O governo diz que não tem dinheiro. Mas ao mesmo tempo, os altos salários receberam um aumento de 16,38%. Temos os aposentados da Fazenda, que recebem gratificação de produtividade, qual a produtividade dos aposentados? Então o governo paga muito para quem tem muito e demite quem tem pouco”, avalia.

No carro de som, quando a manifestação já havia chegado na Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, a presidente do CPERS pediu aos manifestantes que montem barracas para fazer um acampamento de resistência. Segundo ela, o acampamento é para lembrar o Governo do Estado dos professores doentes que foram demitidos e de que a categoria quer dialogar com o governador. Durante a tarde, o sindicato foi recebido pelo secretário-adjunto da Casa Civil, Bruno Pinto de Freitas, mas ainda não foi marcada uma nova data para a rodada de negociação.

Edição: Marcelo Ferreira

 

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