A extrema direita mente e mata
A extrema direita arma, conspira, mente e mata
É indispensável a aprovação da PEC da Segurança Pública nº 18/2025, proposta pelo governo do Brasil
Essa condução diplomática assertiva e estrategicamente calculada contribuiu para reverter o cenário de tensão que, até então, marcava as relações bilaterais, anteriormente abaladas pela imposição arbitrária de tarifas ao Brasil pelo governo americano, pela revogação de vistos de diversas autoridades brasileiras e pela indevida aplicação da Lei Magnitsky ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, e a sua esposa.
Assim, observou-se um gradual processo de distensionamento político entre os dois países, abrindo perspectivas para a retomada de parcerias comerciais sob a égide de uma política externa soberana do governo Lula, voltada a assegurar acordos menos lesivos aos interesses brasileiros.
No plano interno, essas mudanças positivas não caíram bem na oposição e, sobretudo, na família Bolsonaro que espera a continuidade dessas limitações econômicas prejudiciais ao país, bem como das sanções às autoridades civis do governo e à Suprema Corte.
Entretanto, as conspirações realizadas pelo espúrio deputado Eduardo Bolsonaro junto ao governo extremista de Trump para salvar unicamente seu pai, parecem ter arrefecido, diante das consequências prejudiciais do tarifaço à economia americana, sobretudo com relação ao café e a carne, produtos muito consumidos no Estados Unidos. Essa conjuntura favorável recrudesceu até mesmo os movimentos da extrema direita para reverter o peso das condenações, pelo STF, do líder do golpe à democracia e dos demais agentes de seu governo.
Inconformados com a crescente avaliação positiva sobre governo Lula apontada nas recentes pesquisas, inclusive com resultados favoráveis à reeleição do atual governo na disputa eleitoral de 2026 e movidos pela decadência da grotesca imagem do falso mito, os asseclas da extrema direita bolsonarista e, em especial, o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) teve a coragem de criar uma nova narrativa para fragilizar o governo brasileiro ao sugerir que os Estados Unidos atacassem embarcações com drogas na Baía de Guanabara sob o pretexto de combater o “narcoterrorismo”. Tal proposta, além de criminosa e atentatória à soberania nacional, reflete a adesão ao novo eixo geopolítico da Casa Branca, que utiliza o combate ao narcoterrorismo como instrumento de controle econômico e político sobre os países latino-americanos, atualmente com foco na Venezuela e na Colômbia.
Engrossam essa narrativa de Flávio, por oportunismo político, os governadores da extrema direita, entre os quais, o possível sucessor de Bolsonaro, o capitão Tarcísio de Freitas.
Não por mera coincidência, nesta semana, o governador de extrema direita do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ), determinou uma ação de combate ao Comando Vermelho (CV) no Complexo do Alemão e da Penha, com o mesmo discurso “de ação contra o narcoterrorismo” avaliada como uma das práticas policiais mais letais até o presente, superando inclusive o massacre do Carandiru, chacina ocorrida no início dos anos noventa, a partir de uma intervenção da Polícia Militar do Estado de São Paulo para controle de uma rebelião na Casa de Detenção de São Paulo, resultando em 111 mortes de detentos. Segundo informações da mídia, o número de mortes ultrapassa aos dados anunciados pelo secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi.
De acordo com análises de vários políticos, entre esses, do líder do governo na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), do ministro da Secretária-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (PSol-RJ), e de Marcelo Freixo (PT-RJ) essa ação policial teve fins políticos eleitoreiros. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi na jugular ao referir sua avaliação sobre a operação sangrenta de Claudio Castro: “O governo do estado do Rio tem feito praticamente nada em relação ao contrabando de combustível, que é como se irriga o crime organizado. Então, para você pegar o andar de cima do crime organizado, que é quem efetivamente tem o dinheiro na mão e municia as milícias, você tem que combater de onde está vindo o dinheiro”.
Nesse cenário de oportunismo político assumido pela extrema direita, a primeira declaração de Cláudio Castro sobre o ataque massivo, não apenas contra os traficantes, uma vez que a operação acabou ceifando também a vida dos demais moradores do Alemão e da Penha, revelou o interesse político e eleitoreiro que o motivou. O governador alegou, de forma falsa, que o Rio de Janeiro estaria sozinho na guerra contra o crime organizado, tentando imputar ao governo federal uma suposta falta de apoio. Tal discurso, contudo, contradiz sua própria afirmação feita no início do ano, quando declarou que sua política de segurança era autossuficiente e não necessitava de reforços externos.
As investidas dessa operação letal, em oposição ao suposto êxito amplamente divulgado por seus protagonistas e por parlamentares da extrema direita, configuraram-se, na prática, como um instrumento de disseminação do medo coletivo entre os habitantes da capital fluminense. Os resultados revelaram-se inexpressivos diante da profunda e histórica penetração do crime organizado nas estruturas estatais e em setores formalmente lícitos da sociedade. Tal permeabilidade manifesta-se, entre outros aspectos, no financiamento ilícito de campanhas eleitorais, na economia paralela e em diversas atividades empresariais utilizadas para fins de lavagem de dinheiro.
A operação, conduzida de maneira desarticulada e sem a devida coordenação com os órgãos de inteligência constituídos, caracterizou-se como um desperdício de recursos públicos e de vidas humanas, dezenas delas, inclusive inocentes, foram vitimadas em decorrência de uma ação precipitada e carente de planejamento estratégico. Dos 99 mortos identificados, nenhum foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro na investigação que embasou a megaoperação.
Trata-se do episódio com o maior número de fatalidades já registrado em operações policiais no estado do Rio de Janeiro. Em um Estado Democrático de Direito, uma intervenção dessa magnitude com gravíssimas falhas deveria pautar-se por um planejamento interinstitucional, envolvendo as esferas federal, estadual e municipal, assegurando aos acusados o direito ao devido processo legal.
Ao fim e ao cabo, essa fatídica operação acabou por intensificar o discurso oposicionista da extrema direita, que passou a mobilizar narrativas críticas ao governo federal, buscando centralizar o debate público em torno da questão da segurança, com os velhos argumentos de que os governos de orientação progressista negligenciariam essa pauta, alegação que se revela falaciosa tendo em vista a bem sucedida Operação Carbono Oculto, divulgada em agosto deste ano.
A megaoperação Carbono Oculto foi considerada a maior e mais abrangente ação empreendida pelo governo federal no combate ao crime organizado no país. Foi conduzida por meio de uma ação integrada entre a Polícia Federal, a Receita Federal, o COAF, os Ministérios Públicos e diversos órgãos estaduais. Sem recorrer a alardes midiáticos ou a demonstrações pirotécnicas voltadas à opinião pública e a interesses eleitorais, destacou-se por seu caráter silencioso, estratégico e pautado pelo uso de avançados métodos de inteligência investigativa. Sem mortes e com resultados efetivos, focou as investigações nos vários segmentos da cadeia de combustíveis controlados pelo crime organizado, incluindo importação, refino, distribuição e comercialização final. Esses grupos criminosos não apenas controlavam operações logísticas, como também desenvolviam elos posteriores dedicados à ocultação e proteção de ativos, valendo-se de estruturas financeiras modernas, como fintechs e fundos de investimento, para dissimular a origem dos recursos.
É preciso ressaltar de que no combate ao crime organizado, os verdadeiros detentores do poder dessas organizações criminosas não moram nas favelas, tampouco aparecerão entre os mortos nas operações policiais ou nas cenas de brutalidade que assolam as periferias, como no relato de uma tia que encontrou o sobrinho com a cabeça decepada pelos policiais da operação deflagrada no Rio. Os altos dirigentes do crime vivem em condomínios de luxo, circulam entre as elites econômicas e políticas e desfrutam de fortunas construídas nas diversas cadeias de suas delituosas organizações, da lavagem de dinheiro e de outros mercados ilícitos. São empresários que jamais pisaram nas ruelas úmidas e tortuosas, fétidas pelo esgoto a céu aberto.
Esses barões do crime não conhecem o labirinto das moradias precárias que ocupam o solo do Complexo do Alemão e da Penha. Nesses territórios vivem os vapozeiros e, em maior número, as famílias de trabalhadores que despertam antes do amanhecer para cuidar dos filhos da elite, para faxinar suas casas, escritórios, para guiar os carros dos abonados da zona sul. A maioria dos moradores dessas comunidades carregam o fardo de uma condenação social determinante desde seus nascimentos. São usuários de uma sentença histórica que lhes nega direitos e perspectivas de melhoria de vida. Constituem vítimas de um sistema que naturaliza a morte de inocentes em intervenções policiais violentas, como a que marcou esta semana e que perpetuam a exclusão de pobres, pretos e periféricos, confinando-os a espaços onde a desigualdade e o descaso estatal suprimem qualquer horizonte de esperança.
Frente a essa realidade inóspita, é imprescindível afirmar que todo esse desastre endossa a necessidade de uma ação combativa unificada em todo território nacional ao crime organizado e com a cooperação e ação conjunta de outros países que vivem o mesmo drama.
É indispensável a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição - PEC da Segurança Pública nº 18/2025, proposta pelo governo federal e esquecida nos armários da Câmara desde abril, por razões políticas mesquinhas da oposição em não dar guarida às boas iniciativas do governo que possam resultar numa favorável avaliação do povo. A PEC “integra esferas federal, estadual e municipal de segurança, prevê financiamento estável e padroniza coleta de dados. Conceito é dar mais precisão e inteligência às políticas e fortalecer o combate ao crime organizado”. (Fonte: Secretaria de Comunicação Social -SECOM).
A relatoria dessa PEC é do deputado da oposição ao governo Lula, Mendonça Filho (União-PE), que argumentou após a audiência pública com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que “o texto proposto é absolutamente insuficiente. Ele está muito distante daquilo que espera a sociedade brasileira” (Fonte: Agência Câmara de Notícias).
Foi necessário que mais de uma centena de vidas fossem ceifadas, entre traficantes e pessoas que nada tinham a ver com o tráfico para que o relator, até então imerso em um esquecimento conveniente e movido por interesses políticos, finalmente se manifestasse, comprometendo-se a apresentar seu parecer sobre a proposta até o mês de dezembro deste ano.
Resta desse trágico episódio, a constatação de um quadro político tecido por engendramentos inescrupulosos e estratégias de autopreservação, conduzidos por agentes que operam em função de seus próprios benefícios, a exemplo do governador do Rio de Janeiro e governos estaduais de mesma confluência ideológica de Claudio Castro, como: Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Jorginho Mello (Santa Catarina), Ratinho Jr (Paraná), empenhados em perpetuar-se no poder e assegurar os privilégios materiais e simbólicos que dele decorrem.
Em encontro na quinta-feira (30/10/25), governadores da extrema direita que homenagearam a trágica chacina determinada por Claudio Castro, tiveram a desfaçatez de criar ou apoiar de longe ironicamente o “consórcio da paz” sobre o sangue derramado nessa operação desastrosa do Rio de Janeiro.
Esses maus políticos não reconhecem que grande parte do povo brasileiro, reduzido à condição de subjugado, é constantemente manipulado para sustentar uma estrutura de dominação em que a mesquinhez prevalece sobre o compromisso com o bem comum. Essa é a triste realidade que se repete no país e que assistimos nas salas do Congresso Nacional, como a recorrente atuação de parlamentares da extrema direita e da direita fisiológica em esquemas espúrios destinados a obstruir qualquer iniciativa voltada ao desenvolvimento social. Amparados em discursos populistas, esses grupos exploram a vulnerabilidade de amplos setores da população que, privados de acesso à educação e ao pensamento crítico, tornam-se alvos fáceis da manipulação ideológica.
Desse modo, perpetua-se um ciclo de ignorância e subserviência que impede a verdadeira emancipação popular. Vivemos um período que a despeito do povo ter eleito um governo de orientação progressista e comprometido com a redução das desigualdades sociais, esse projeto é sistematicamente bloqueado por uma maioria parlamentar da extrema direita e direita fisiológica, movida pela defesa de privilégios e interesses próprios.
Enquanto for negado à população pobre, periférica e preta deste país o acesso pleno à educação e à conscientização, e enquanto persistirem estruturas de poder sustentadas por discursos de falsa moralidade e meritocracia, que rotulam os pobres como preguiçosos e dependentes de políticas públicas, a emancipação do povo brasileiro continuará como um ideal distante, aprisionado na engrenagem perversa da dominação e da exclusão social.







