A falácia do homeschooling

A falácia do homeschooling

A falácia do homeschooling

Governo tenta transformar excentricidade educacional em política pública

Crédito: Caminhos da Reportagem/TV Brasil

Vicente Vilardaga -  30/05/22 

O governo de Jair Bolsonaro só tem só duas ideias na cabeça na área de educação: uma é o ensino cívico-militar e outra é o homeschooling. Chamado em português de ensino domiciliar essa é a modalidade em que os próprios pais se encarregam de educar os filhos. Fosse apenas uma excepcionalidade não haveria problema. Mas a forma como o governo se empenha em transformar um projeto de alcance limitado em uma solução abrangente para o setor causa estupor. Na prática, o que se tenta é converter uma excentricidade em política pública, de maneira abrupta e sorrateira. O objetivo do governo, que acaba de aprovar um projeto na Câmara para regularizar o ensino doméstico, é afastar o jovem brasileiro do ambiente escolar e da formação democrática e transferir a responsabilidade pela educação para as famílias e para as igrejas.

A maior parte dos grupos que promovem o homeschooling é cristã e conservadora e se incomoda com algumas pautas do ensino público como a educação sexual. E empresas de cunho religioso espalhadas pelo Brasil já começam a vender kits para que as famílias interessadas nessa modalidade de ensino a adotem com seus filhos. É o primeiro passo para a criação de escolas informais e de uma estrutura de educação paralela que não seja afetada pelo debate público e que promova o negacionismo, por exemplo. Caso se desenvolva, o homeschooling tende a se tornar uma espécie de sabotagem ao ensino laico.

O homeschooling atende hoje cerca 15 mil famílias em todo o País. Em termos comparativos, a educação básica brasileira tem, no total, 26,5 milhões de alunos. O ensino domiciliar é uma gota no oceano da educação. As pessoas que realmente precisam adotar a modalidade, por conta do extremo isolamento ou de alguma situação específica, não deveriam ser impedidas. Mas pensar que ele pode ser uma solução é uma tolice. No momento em que a educação precisa de idéias capazes de solucionar o impasse criado pela pandemia o governo oferece apenas uma armadilha ideológica. A experiência de aprender em casa, com o ensino remoto, teve um efeito paliativo, mas não compensou as vantagens do ensino presencial. Mais uma vez ficou claro que as escolas são fundamentais. Só que Bolsonaro não gosta delas.

 

https://istoe.com.br/a-falacia-do-homeschooling/




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