A fé nas avaliações

A fé nas avaliações

A fé nas avaliações

A mentalidade meritocrática que assola os meios educacionais encontra dificuldade para, em tempos de pandemia, lidar com a questão da avaliação. Determina esta mentalidade que as avaliações devem continuar, mesmo neste caos pandêmico, pois qualquer outra forma seria apoiar a implementação da “promoção automática”.

A fé nas avaliações padronizadas é difícil de ser aplacada. É fé, não é ciência. Por outro lado, é postura política que vê na meritocracia a nova cloroquina social que proverá oportunidade para todos e permitirá que cada um avance até o limite das suas necessidades e possibilidades. Mimetiza-se muito bem no “direito de aprender” e no “direito à educação”.

De fato, ao contrário, a meritocracia oculta as desigualdades sociais sob o manto do esforço pessoal perante a oportunidade dada. Reserva os melhores postos de trabalho para aqueles que têm melhores condições de competir, ou seja, para as elites.

A nova cloroquina, como advertem Gamble, Markovits e Sandel, gera a perpetuação das desigualdades sociais na forma de “desigualdades meritocráticas” e aumenta o grau de humilhação e revolta daqueles que são constantemente colocados do lado dos “perdedores”, rotulados como “pessoas que não se esforçam para aproveitar as oportunidades dadas”, criando o caldo necessário para o crescimento da extrema-direita.

Um novo relatório americano defende a permanência e ampliação das avaliações durante a pandemia e é contestado pelo National Education Policy Center (NEPC).

“BOULDER, CO (29 de outubro de 2020) – “Avaliação do aluno durante o COVID-19” é um relatório recente do Center for American Progress (CAP) que defende não haver, por parte da administração federal, nenhuma dispensa da obrigatoriedade de realização de testes padronizados na primavera de 2021.

Gene V Glass da San José State University, William J. Mathis da University of Colorado Boulder e David C. Berliner da Arizona State University revisaram este relatório e informam que, no atual cenário de pandemia, ele é inoportuno, surdo e perturbador.

O relatório do CAP concorda com a política do Departamento de Educação de negar pedidos de liberação de exames e pede avaliações adicionais que “capturem vários aspectos do bem-estar do aluno, incluindo necessidades sócio emocionais, envolvimento e condições de aprendizagem”, bem como coleta complementar de informações do aluno.

Embora o relatório afirme que isso garantirá maior equidade no momento da pandemia, supostamente por meio da adição de novas medidas, essa abordagem ainda não tem comprovação. Dando pouca atenção às tentativas anteriores de esquemas de responsabilização baseados em testes e multivariados, o relatório endossa esta abordagem pouco exitosa, citando apenas estudos que não abordam a complexidade do empreendimento ou os efeitos de sua implementação.

Considerando a enorme perturbação que está ocorrendo agora nas escolas e a utilidade limitada dos testes padronizados, mesmo em tempos normais, as agências estaduais e distritos locais estão muito pressionados pelas demandas fiscais e de tempo e pelo aumento dos custos de saúde, para considerar esses programas adicionais caros e de valor duvidoso.

Por essas razões, concluem os revisores, a proposta do CAP é mal planejada, irrealista e inadequada para lidar com as exigências decorrentes da pandemia.”

Acesse aqui o relatório do CAP.

Acesse aqui a revisão do NEPC.

https://avaliacaoeducacional.com/2020/10/29/a-fe-nas-avaliacoes/ 

 

Estão ouvindo?

Diane Ravitch escreve em seu Blog sobre o fracasso do desempenho dos estudantes na avaliação nacional americana que estão cursando a 12a. série.

 



Diz ela:

“Aqueles de vocês que acompanham este blog por muitos anos sabem que eu não dou muita importância às pontuações da NAEP (Avaliação Nacional do Progresso Educacional) da décima segunda série. Tendo trabalhado por sete anos no conselho administrativo da NAEP (o Conselho Administrativo de Avaliação Nacional), eu sei que alunos do 12º ano são um problema perene. Ao contrário dos alunos da quarta e oitava séries, os mais velhos sabem que o teste não conta. Eles não estão motivados.

Tendo isso em mente, não deixa de ser surpreendente que as notas de leitura e matemática da 12ª série do NAEP, recentemente divulgadas, quase não tenham mudado desde 2005.

Mesmo que as crianças não estejam se esforçando, suas pontuações deveriam ter subido se fossem realmente melhor educadas.

Argumentei em [meu livro] Slaying Goliath que as pontuações do NAEP para a quarta e a oitava série têm sido as mesmas na última década. E essas crianças estão dando o melhor de si.

As pontuações do NAEP mostram o fracasso abjeto da “reforma educacional” imposta a alunos e educadores desde a aprovação da lei No Child Left Behind (NCLB), Race to the Top, VAM [pagamento de professores por valor agregado], escolas charter, vouchers, pagamento por mérito, Base Comum: um fracasso massivo.

É hora de descartar este status quo. É hora de uma nova visão. É hora de respeitar os educadores e parar de amarrar suas mãos e dar-lhes scripts. É hora de acabar com o regime de teste e punição.”

Ao final ela pergunta se Joe Biden, candidato à presidência nos Estados Unidos, está ouvindo.

Podemos perguntar por aqui: vocês do PT, PCdoB, PSB etc, estão ouvindo?

 

https://avaliacaoeducacional.com/2020/10/29/estao-ouvindo/ 




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