A gravata rosa de Geraldo Alckmin
Foi emocionante ouvir os discursos de Lula após sua vitória no domingo passado. Depois das lamentáveis demonstrações por parte de seguidores mais radicalizados de Jair Bolsonaro - que foram de saudações nazistas ao puro desatino, além dos bloqueios de caminhões patrocinados por empresários bolsonaristas e estimulados pela Polícia Rodoviária Federal -, é bom relembrar que há um governo democrático à nossa espera nas mãos de um presidente que, pelo menos, pretende acertar.
E sem governar sozinho. “Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”, disse. E mais adiante: “A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação”.
Por mais que imagens e discursos dos últimos dias nos choquem, não podemos olhar para os 58 milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro como se fossem todos irracionais e autoritários como aqueles que se reuniram em frente aos quartéis - felizmente silenciosos - pedindo intervenção militar. Talvez não seja possível atingir os que embarcaram no mundo paralelo criado pela desinformação disseminada por políticos, religiosos e empresários de extrema direita. Mas eles são minoria, como mostram os fatos.
A impressão que fica da semana pós eleições é que, em termos institucionais, Jair Bolsonaro está completamente sozinho na derrota. Se já não tinha a Justiça, a imprensa, nem a sociedade civil organizada, provou que também não tem apoio incondicional dos militares, nem do Congresso - como mostram o silêncio dos quartéis e o pronto reconhecimento da vitória de Lula por parte de Arthur Lira, Rodrigo Pacheco e até do vice-presidente, eleito senador, Hamilton Mourão. Para os que vivem na realidade, vale o ditado: “rei morto, rei posto”.
Mesmo que os extremistas de direita continuem a espernear, temos agora que ficar de olho no processo de transição dos governos e cobrar a investigação e punição dos delitos cometidos pelo clã Bolsonaro e seus assessores nos últimos quatro anos e nas manifestações ilegais dos últimos dias.
De nosso lado, apesar dos ataques que ainda vem dos apoiadores de Bolsonaro, estamos preparadas para trazer informação de qualidade para expor o que é de interesse público e estimular o debate democrático a fluir novamente sobre bases sólidas. Nosso futuro começa agora, com a ida de Lula à COP 27 - onde também estaremos com a repórter Anna Beatriz Anjos - e com o trabalho da equipe de transição em Brasília. Aliás, chefiada por um renovado Geraldo Alckmin de gravata rosa, que promete abrir nossos caminhos para 2023.
Como comemoraram tantos de nós nas redes sociais depois da vitória da democracia: “Acabou”. Bolsonaro acabou. O Brasil recomeçou.
Marina Amaral Diretora Executiva da Agência Pública
https://mailchi.mp/apublica/news269-1315268?e=aedeb8c404
|