A menina e o monstro
A MENINA E O MONSTRO: GRETA CONTRA O FASCISMO DE ISRAEL
Por João Guató
Em meio ao fragor da guerra e à sombra de um cerco que transforma ajuda humanitária em ato de desobediência, a jovem sueca Greta Thunberg tornou-se símbolo vivo da resistência contra as engrenagens do autoritarismo que hoje se imiscui entre os grilhões do Estado de Israel. Sua voz, estrangulada por uma cela infestada de percevejos, e seus relatos, esgarçados pela privação de água e alimento, desnuda — talvez mais do que qualquer discurso — o rosto brutal do fascismo moderno.
Segundo um e-mail encaminhado pelo Ministério das Relações Exteriores da Suécia aos familiares de Thunberg, um funcionário que a visitou relatou condições degradantes: a ativista descreveu estar detida em uma cela infestada de percevejos, com acesso limitado a comida e água, sofrendo com erupções cutâneas e sendo forçada a permanecer sentada por longos períodos sobre superfícies duras. “Ela informou estar desidratada, tendo recebido quantidades insuficientes de água e comida.” O relato é veemente: maus-tratos, tortura psicológica e humilhação travestidos de procedimentos regimentados.
Greta faz parte dos 437 ativistas, parlamentares e advogados que integravam a Flotilha Global Sumud (GSF), uma coalizão marítima empenhada em levar socorro a Gaza, rompendo o cerco imposto por Israel.
Interceptada em águas internacionais pelas forças israelenses, a flotilha teve seus passageiros detidos e muitos transferidos à prisão de Ketziot, no deserto do Neguev — um complexo notório por sua dureza e uso prolongado contra detentos palestino.
De acordo com a ONG palestina Adalah, os direitos dos tripulantes foram “sistematicamente violados”, com denúncias de negação de água, saneamento, medicamentos e acesso a representação legal.Já ativistas relatam ainda terem sido forçados a segurar ou beijar bandeiras israelenses, desfilados sob humilhação enquanto militares exibiam imagens manipuladas como troféus de propaganda.
Os relatos, ainda incompletos, compõem um mosaico de terror administrativo: quando a lei é usada como um bisturi para esfolar a dignidade humana, não resta muito além do grito abafado por trás das grades.
Não se trata simplesmente de abuso contra um ativista — trata-se de um padrão. Israel, sob o pretexto de segurança e combate ao terrorismo, tem legalizado e institucionalizado práticas que evocam os piores traços do totalitarismo:
1. Suspensão seletiva de direitos básicos — negar água, comida e acesso médico são atos que convertem prisão em tormento, e tormento em punição política.
2. Controle da narrativa, humilhação e espetáculo — transformar prisioneiros em peças de propaganda, forçá-los a atos simbólicos que reforçam o poder estatal.
3. Impunidade institucional — a ação ocorre sob escudo de legitimidade, mas sem responsabilização concreta. Organizações de direitos humanos, dentro e fora de Israel, têm denunciado a escalada autoritária do Estado.
4. Uso da lei como instrumento de violência — não basta prender: é preciso degradar, quebrar e silenciar.
É nesse regime de exceção que floresce o fascismo dissimulado: o aparelho do Estado — tribunal, polícia, força militar — converte-se em uma máquina de dominação onde o inimigo é quem ousa contestar. O cárcere de Greta não é um caso isolado, mas parte de um impulso punitivo que visa cristalizar o medo e punir a solidariedade.
Amnistia Internacional e outras entidades já alertaram que Israel está cometendo crimes contra a humanidade e que o cerco a Gaza se aproxima dos contornos do genocídio, segundo relatórios minuciosos. O Estado que constrói muros de bloqueio e escolhe quem pode viver ou morrer nas fronteiras reconfigura o conceito de soberania como dominação.
Mas Greta Thunberg, sob o peso das algemas invisíveis, recusa o silenciamento. Sua narrativa — Semana após semana, cativeiro após cativeiro — ecoa uma pergunta simples e urgente: até quando permitiremos que o Estado crime nos diga quem vale viver?
A voz da jovem sueca atravessa os muros de Ketziot e rompe o cerco mediático. É resistência contra a normalização do horror — resistência contra o fascismo que finge ser lei. Que o mundo não endureça o coração: liberdade de pensamento, dignidade humana, direito de existir, solidariedade — esses não são privilégios de alguns, mas urgências de todos.
FONTE:
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