Na Guerra, a principal vítima é a verdade
Em qualquer guerra, as operações de inteligência incluem moldar narrativas, fazer uso de imagens e até criar desinformação para confundir o inimigo ou angariar apoio para a sua causa. Agora, em tempos meméticos, a coisa é sempre multiplicada, porque são milhares as pessoas que podem participar dessa batalha online. Ainda mais quando se trata de um tema que já gera polarização, como é o conflito de Israel com os palestinos.
São inúmeras as histórias de fake news espalhadas nos últimos oito dias. A mais famosa, claro, é a dos bebês degolados pelo Hamas, mentira na qual caiu até mesmo o presidente americano Joe Biden, que depois teve que se retratar, afinal não vira as tais “fotos de terroristas degolando crianças” como ele dissera.
Mas essa foi apenas uma delas.
No dia 9 de outubro, a história de que aviões de guerra israelenses haviam bombardeado uma igreja histórica em Gaza viralizou, junto com fotos que poderiam convencer qualquer pessoa. A própria igreja teve que postar no Facebook desmentindo o bombardeio. Muitas fotos de outras guerras, como na Síria, no Afeganistão e até terremotos na Turquia estão sendo apresentadas como evidências de ações brutais de um dos lados. Um vídeo que teve 2,5 milhões de compartilhamentos nos EUA mostrava um carro parando o trânsito em Nova York para exibir uma bandeira palestina, segundo o post, véspera dos ataques do Hamas. Mas a imagem real era, na verdade, de um protesto a favor da independência de Porto Rico – essa era a bandeira exibida. Em entrevista ao Instituto Reuters, o especialista em Fake News da BBC, Shayan Sardarizadeh, disse que os casos mais comuns são vídeos antigos de cenas de guerra, mas que também houve algumas imagens geradas por inteligência artificial. “Mas elas não eram muito boas”, disse.
O Twitter tem sido um caso especial porque, além de Elon Musk ter demitido membros das equipes de ética, integridade e moderação de conteúdo quando virou o todo-poderoso, o novo modelo de negócios idealizado por ele favorece ainda mais descaradamente a publicação de vídeos virais. Qualquer um que tem o selinho azul (e que paga por ele 60 reais por mês) tem suas postagens mostradas para mais pessoas através da aba “Para Você”, que é a aba padrão para usuários do Twitter. Além disso, eles podem monetizar suas postagens.
Assim, republicar um vídeo horroroso de 5 anos atrás dizendo que é da guerra atual pode trazer dinheiro rápido e fácil. “Nos primeiros dias do conflito, o volume de desinformação no X [antigo Twitter] foi maior do que eu jamais tinha visto”, Shayan Sardarizadeh.
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