Abro mão de felicitações
Abro mão de todas as felicitações que os governos me enviaram ontem, 15 de outubro. Sinceramente, eu não preciso de nenhuma.
A única notícia boa que eu desejaria ter recebido, é aquela que nenhum gestor da educação vai me dar: a que no ano que vem, grande parte do trabalho burocrático que eu levo para casa, será eliminado.
Não se espante pelos gestores educacionais e os sindicatos não terem citado hoje, o nosso montante de planilhas a serem preenchidas em casa. Eles não sabem da nossa realidade.
O que eu queria ter recebido hoje, era isto: "Professor, no ano que vem, as planilhas de planejamento anual e trimestral, de competências e habilidades trabalhadas a casa dia letivo, os currículos de cada turma, e os currículos adaptados que você monta, para cada aluno especial, sem receber 50% de acréscimo no salario, estarão abolidos, lhe restando apenas a chamada".
E o complemento seria: "Professor, para nós ficou óbvio que leva-lo ao cansaço extremo, não melhorará o seu trabalho na sala de aula, que é o essencial. É óbvio que quanto mais cansado o senhor fica, menos o senhor ensina".
Não pode existir "escola com vida", com uma categoria morta de cansaço. Em níveis municipal e estadual, os trabalhadores em educação estão doentes, quase sem Hora atividade. O Cpers trouxe um estudo perturbador sobre nossa qualidade de vida em 2014: 6 em cada 10 professores estavam adoecidos com males psicossomáticos. Na cidade de São Paulo, 63% dos professores estão doentes. No RJ, em 2019, um professor pediu licença saúde a cada 3 horas.
Não existem dados sobre os professores da rede municipal de Rio Grande, mas é certo que uma grande parte trabalha medicada.
Enfrentamos o setembro amarelo e o Dia dos professores na mesma situação de sempre: louros de vitória alguma. Estamos desamparados, e morrendo lentamente em sala de aula. As nossas jornadas são dignas da Revolução industrial, quando as pessoas trabalhavam 16 horas diárias. Ao chegar em casa, começa o verdadeiro terror: o preenchimento de planilhas e laudas. Ou seja: nem em casa, debaixo da cama, o Bicho papão do trabalho escravo nos abandona.
Até quando, as parabenizações serão somente uma formalidade, sem alma?
Fabiano da Costa.
FONTE:
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