Ação que remete ao Nazismo
Em ação que remete ao Nazismo, bolsonaristas cogitam marcar com estrelas as casas de quem votou em Lula no RS
Imagens espalhadas pedem que eleitores de Lula coloquem adesivos com estrelas do PT em seus estabelecimentos, a fim de que eleitores de Bolsonaro possam boicotar tais comércios
Imagem que circula nas redes bolsonaristas de Casca-RS
(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/Janaíra Ramos/GZH)
Imagens espalhadas pedem que eleitores de Lula coloquem adesivos com estrelas do PT em seus estabelecimentos, a fim de que eleitores de Bolsonaro possam boicotar tais comércios.
Um grupo de cidadãos de Casca, cidade do norte do Rio Grande do Sul com 9 mil habitantes, denunciou ao Ministério Público práticas de assédio eleitoral verificado na cidade que remetem a ações da época do nazismo na Alemanha. A informação é do portal GZH.
As advogadas Janaíra Ramos e Marciana Tonial Radin denunciam listas compartilhadas em grupos da cidade nas redes sociais, Whatsapp e Telegram que trazem nomes de comerciantes que supostamente apoiaram o presidente eleito Lula (PT) nas eleições deste ano.
Além disso, imagens espalhadas pedem que eleitores de Lula coloquem adesivos com estrelas do PT em seus estabelecimentos, a fim de que eleitores de Jair Bolsonaro possam boicotar tais comércios. O atual chefe do Executivo teve 72,28% dos votos válidos no município no segundo turno destas eleições.
Outra imagem ilustra uma bandeira do Brasil e afirma: "A partir de hoje vejam bem onde você vai gastar seu dinheiro. Vamos comprar e usar serviços somente de quem pensa como você."
Vale lembrar que no auge do nazismo na Alemanha, nazistas também marcavam vitrines de lojas geridas por judeus, grupo brutalmente perseguido na época. Os grafites incluíam o desenho da Estrela de Davi e a palavra “Jude” (palavra alemã para “judeu”). A premissa também era demarcar, boicotar e perseguir as pessoas devido ao preconceito.
"Não podemos desfilar com bandeira, nada. Por medo de sermos mortos. Inclusive estamos com medo de que depredem nossas residências e nossos automóveis. Uso carro até para ir ao escritório, a três quarteirões da minha casa, porque não sei se alguém vai tentar me espancar no caminho", reclama a advogada Janaíra Ramos.
Mensagens sugerem marcar com estrelas as casas de quem votou em Lula no norte do RS
Estas e outras práticas de assédio eleitoral foram denunciadas ao Ministério Público por advogadas no município de Casca
07/11/2022 - HUMBERTO TREZZI
Uma das mensagens que mais chamam atenção é adornada por uma estrela vermelha do PT.
Janaíra Ramos / Arquivo Pessoal
Um grupo de cidadãos de Casca, município com 9 mil habitantes situado no norte do RS, ingressou no Ministério Público com um pedido de providências contra assédio eleitoral verificado na cidade. As advogadas Janaíra Ramos e Marciana Tonial Radin dizem que vários comerciantes e prestadores de serviços têm sido boicotados porque supostamente votaram em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República. Nesta segunda-feira (7), mais de 120 estabelecimentos da cidade tiveram de fechar as portas em decorrência de uma suposta greve geral de boicote aos resultados da eleição presidencial, avisa Janaíra.
Em Casca, o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), fez 71% dos votos, contra 22% de Lula. O assédio estaria sendo praticado contra supostos eleitores do vencedor das eleições, mesmo sem provas de que essas pessoas apoiaram o candidato do PT. Os recados ofensivos têm sido divulgados pelas redes sociais e em correntes de WhatsApp e Telegram, inclusive com nome de quem os envia, o que acaba identificando os autores das mensagens.
Uma das mensagens que mais chamam atenção é adornada por uma estrela vermelha do PT, com as frases: "Atenção, petista, coloquem esse adesivo na porta do seu negócio. Mostre que você tem orgulho de quem elegeu". Outra, com a bandeira do Brasil, recomenda: "A partir de hoje, vejam onde vocês vão gastar seu dinheiro. Vamos comprar e usar serviços somente de quem pensa como você".
Janaíra considera que as duas recomendações, disseminadas nas redes sociais de moradores da cidade, equivalem à prática nazista de colocar estrelas de David nas casas dos moradores judeus, na Alemanha governada por Adolf Hitler.
— Não podemos desfilar com bandeira, nada. Por medo de sermos mortos. Inclusive estamos com medo de que depredem nossas residências e nossos automóveis. Uso carro até para ir ao escritório, a três quarteirões da minha casa, porque não sei se alguém vai tentar me espancar no caminho — reclama a advogada, que atua nos ramos cível e criminal.
Janaíra diz que foi simpatizante do PT, mas está desfiliada do partido há 12 anos. Não revela seu posicionamento atual, mas as listas divulgadas de forma anônima pela internet a apontam como uma das líderes da campanha lulista em Casca.
Outra mensagem recomenda realizar compras apenas em estabelecimentos identificados com determinada causa. Janaíra Ramos / Arquivo Pessoal
A advogada Marciana, que atua nas áreas previdenciária e trabalhista, diz que tem orientado muitos estabelecimentos a protocolarem pedido de investigação por assédio. Ela exibe uma lista com nomes de comerciantes e profissionais liberais de Casca citados nas redes sociais (sem provas) como eleitores de Lula.
— Muitos deles já registraram ocorrência, tendo em vista que clientes foram até esses locais e se manifestaram no sentido de que que não comprariam mais lá porque os donos apoiaram o PT — diz a advogada, que pensa ser necessária uma ação coletiva pelos danos causados aos que foram nominados na lista.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul em Casca informa que possui uma notícia de fato sendo analisada pela promotora eleitoral Ana Maria Dal Moro Maito, sobre listas que estariam circulando em redes sociais com nomes de comerciantes e pessoas que teriam votado em Lula para boicote. O MP não recebeu nenhuma representação formal sobre a questão de que comerciantes teriam sido coagidos a fechar os estabelecimentos nesta segunda-feira (7).
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se pronunciou sobre o caso. Segundo a instituição, o ato de criar listas para boicote a comerciantes e prestadores de serviços sob o pretexto de terem optado por uma posição política nas eleições é considerado crime. Além disso, os prejuízos que ocorrerem a esses comerciantes e prestadores de serviços são passíveis de indenização, conforme a OAB, que repudiou o "ataque perpetrado à liberdade econômica, à livre escolha de voto e de manifestação, à ordem jurídica e ao Estado democrático de direito".