Afastados para tratamento de saúde mental
Mais de 8,9 mil professores(as) da rede estadual do Paraná foram afastados(as) para tratamento de saúde mental em 2024
Para a APP-Sindicato, os números são consequência das práticas da gestão do governador Ratinho Júnior (PSD), que pune até os(as) educadores(as) que apresentam atestado médico para tratar da saúde
A morte de duas professoras durante o expediente de trabalho em escolas da rede estadual de ensino do Paraná, em menos de uma semana, tem levantado o debate sobre assédios e políticas educacionais que ameaçam a saúde física e mental de professores(as) e funcionários(as) de escola. Dados da Secretaria de Estado da Administração (Seap) indicam a dimensão do problema. Em 2024, mais de 10 mil educadores(as) que atuam na rede estadual de ensino precisaram se afastar do trabalho para tratamento de problemas ligados à saúde mental.
Os números foram obtidos pela bancada de Oposição na Assembleia Legislativa e divulgados pela deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT). O levantamento da Seap indica que 8.888 professores(as) do Quadro Próprio do Magistério tiveram que se afastar do trabalho para tratamento de saúde mental, além de 914 Agentes Educacionais II, 624 de Agentes Educacionais I, 43 professores(as) QPM do Colégio Estadual do Paraná, cinco Agentes Profissionais, três QPPE lotados(as) na Educação e um Agente Educacional I do Colégio Estadual.
Esses números se referem apenas aos afastamentos por problemas mentais, o que evidencia que o estrago na saúde dos(as) educadores(as) é ainda pior. Estão de fora da lista os(as) professores(as) PSS, que são proibidos(as) pelo governo de acessar o Serviço de Assistência à Saúde (SAS), concedido apenas aos(às) servidores(as) concursados(as).
A liderança dos(as) profissionais da educação nesse ranking é enorme. Numa comparação simples, entre os(as) policiais penais que, segundo a Organização Internacional do Trabalho é a segunda profissão mais perigosa do mundo, houve 259 afastamentos em 2024.
O número de professores(as) afastados(as) por problemas mentais em 2024 representa 13% dos(as) 68.837 profissionais da rede pública estadual. A situação é mais alarmante entre os(as) profissionais concursados (QPM). Os 8.888 afastamentos correspondem a 23,5% do quadro efetivo de 37.773 professores(as).
Pressão e assédio
Para a APP-Sindicato, os números são consequência do modelo de gestão do ensino acentuado desde a primeira gestão do governador Ratinho Júnior (PSD), que passou a implantar plataformas digitais com a finalidade de vigilância, monitoramento e controle da atividade pedagógica, incluindo a cobrança de metas abusivas, práticas de assédio e punições para os(as) educadores(as) que se afastam do trabalho para tratamento de saúde.
A terceirização, a militarização e a entrega de escolas para a gestão empresarial no governo, também têm contribuído para levar os(as) profissionais da educação na rede pública paranaense à exaustão.
No início do mês de junho, a imagem de um professor da rede estadual do Paraná no leito de um hospital participando do curso Formadores em Ação, porque o governo Ratinho Júnior exige frequência de 100% e não aceita atestado médico, viralizou em aplicativos de mensagem nesta quarta-feira (21).
O curso, ministrado à distância, é um dos únicos aceitos pelo governo para progressão na carreira e também é utilizado na classificação na distribuição anual de aulas. No dia 7 de maio, antes das aulas do curso iniciarem, a APP-Sindicato já havia se manifestado sobre a exigência e comunicou ter reivindicado à Secretaria da Educação (Seed) um pedido de alterações imediatas na Resolução 3.659/2024 – GS/SEED, onde constam as regras consideradas arbitrárias e punitivas.
Mortes
Em 2023, o sindicato contratou uma pesquisa para entender os impactos dessa plataformização. O estudo, chamado de “Plataformização da Educação: sobrecarga, assédio e adoecimento”, confirmou com números o que já se via no dia a dia das escolas estaduais. Segundo a pesquisa, mais de 70% dos(as) professores(as) da rede estadual do Paraná relatam adoecimento pelo uso de plataformas digitais.
Os(as) professores(as) de Língua Portuguesa estão entre os(as) mais afetados por essa política, sendo obrigados(as) e cobrados(as) a atingir metas de uso pelos estudantes das plataformas compradas pelo governo. As duas professoras que morreram nos últimos dias dentro das escolas ministravam essa disciplina.
Na sexta-feira passada (30) a professora Silvaneide Monteiro Andrade morreu nas dependências do Colégio Cívico-Militar Jayme Canet, em Curitiba. A professora estava dando aula quando foi chamada à sala da equipe pedagógica, onde sofreu um infarto. Ela chegou a ser socorrida pelo serviço médico, mas não resistiu e veio a falecer.
Menos de uma semana do ocorrido, na tarde desta quinta-feira (5), a professora Rosane Maria Bobato também faleceu durante seu expediente de trabalho, dentro do Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, em Curitiba. O estabelecimento de ensino teve a sua gestão administrativa transferida para uma empresa privada neste ano.
Rosane se sentiu mal em sala de aula, foi para a coordenação, onde foi acolhida, mas infelizmente veio a óbito no local. Ela era professora de Língua Portuguesa há mais de 29 anos na rede estadual de ensino do Paraná e também foi diretora do Colégio Estadual Santa Gemma Galgani.
Em resposta ao descaso do governo com a saúde dos(as) educadores(as), a APP convocou a Semana de Luto e Luta em Defesa da Vida: Greve de Plataformas, Basta de Pressão e Adoecimento. Entre os dias 2 e 6 de junho, como forma de protesto, a orientação do sindicato é que os professores(as) não utilizem as plataformas digitais impostas pelo governo estadual.
Neste sábado (7), a categoria se reúne em assembleia estadual, em Curitiba, para debater e encaminhar ações em defesa da saúde dos(as) educadores(as).
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