Silvio Almeida detalha ações do Governo Lula no arquipélago do Marajó
A publicação do ministro foi uma resposta a recente campanha capitaneada pela senadora Damares Alves que denuncia um escabroso e mentiroso esquema de tráfico humano e abuso sexual de crianças com o objetivo de financiar missões evangélicas na região.
Por Raphael Sanz 22/02/2024
O ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos e Cidadania, usou as redes sociais na noite desta quinta-feira (22) para divulgar as ações e políticas públicas do Governo Lula no Arquipélago do Marajó, no Pará.
A publicação do ministro foi feita como uma resposta a recente campanha capitaneada pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que denuncia um escabroso e mentiroso esquema de tráfico humano e abuso sexual de crianças com o objetivo de financiar missões evangélicas na região.
A história voltou a viralizar com a participação da cantora gospel Aymée Rocha, natural de Belém, no show de talentos internacional Dom Reality, produzido pela Deezer e transmitido no youtube. A narrativa, impulsionada por dezenas de influenciadores digitais cinco dias após a apresentação da artista, ensejou uma série de questionamentos a respeito da violação de direitos humanos na região.
Entre uma série de políticas adotadas no Marajó, Silvio Almeida destacou na sua publicação o Programa Cidadania Marajó, considerado por ele como um “novo marco em políticas públicas do governo federal” para o arquipélago paraense. Coordenado pelo Ministério de Direitos Humanos, o programa foi instituído em maio de 2023 para justamente enfrentar situações de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, além de promover o acesso a outras políticas públicas.
“Até o momento, já foram realizadas três grandes agendas no território marajoara, de diagnóstico e ouvidoria itinerante, com delegação composta por representantes do MDHC e outros Ministérios e órgãos parceiros. Além disso, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania esteve em Belém, capital paraense, outras três vezes, para reuniões institucionais e articulações”, explicou o ministro.
Confira a seguir o que mais Silvio Almeida falou a respeito das ações do Governo Lula no Marajó.
Forças de segurança
As ações do Cidadania Marajó contam com apoio das forças de segurança federais, a exemplo da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, do Ministério da Defesa e da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, no sentido de desarticular redes de exploração, abuso e violência sexual. Tais ações e parcerias vêm sendo aprofundadas na medida em que as ações do programa avançam.
Centro de Referência de DH
Por meio de parceria firmada com o governo estadual, a primeira Usina da Paz da região, no município de Breves, de forma inédita, contará também com Centro de Referência de Direitos Humanos. Com isso, uma série de serviços federais, estaduais e municipais estarão à disposição da sociedade local.
Água
No âmbito do Programa Cisternas, um convênio com o Estado irá implementar 260 cisternas em escolas públicas rurais na região do Marajó, prevendo a universalização do atendimento, com investimento de R$ 7,3 milhões e início da execução previsto para março de 2024.
Projetos de assentamento
Acordo de cooperação técnica entre MDS, Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prevê a utilização de R$ 70 milhões em recursos do Fundo Amazônia para o atendimento de 2.260 famílias em projetos de assentamento agroextrativistas no município de Breves.
Saúde
Em articulação com o Ministério da Saúde, algumas medidas de acesso à saúde no Marajó já foram mapeadas, e estão em fase de elaboração. Instrumento de cooperação entre o Ministério da Saúde e o MDHC deve ser firmado nos próximos dias. Dentre as ações mapeadas estão o credenciamento de Equipes e Profissionais – Programa Mais Médicos; a implementação do Programa Farmácia Popular; a realização de estudos sobre o impacto socioambiental da utilização de agrotóxicos nos territórios marajoaras; dentre outros.
Educação
Também está em vias de ser firmada parceria do MDHC com o Ministério da Educação após serem identificadas necessidades de políticas públicas adequadas culturalmente nesse campo. Há um compromisso em viabilizar ações capazes de atender demandas sobre educação escolar quilombola e dos povos tradicionais ribeirinhos, material didático culturalmente adequado, transporte escolar em contexto fluvial e merenda escolar adaptada à alimentação tradicional marajoara.
Escuta ativa e permanente
Para garantir que o Programa Cidadania Marajó seja feito com participação e controle social, foi criado em agosto de 2023 o Fórum Permanente da Sociedade Civil do Marajó, que já realizou duas reuniões. O fórum é composto por mais de vinte entidades, associações e coletivos que atuam no Arquipélago na promoção e defesa de direitos humanos, que serão consultadas continuamente a respeito da formulação, implementação e monitoramento do Programa.
Ouvidoria itinerante
Para escutar, acolher denúncias de violação de direitos humanos e ofertar serviços de cidadania para a população marajoara, o MDHC tem realizado as Ouvidorias Itinerantes, em parceria com o Governo do Estado do Pará. Cerca de 25 mil atendimentos já foram realizados nos dois ciclos de ouvidorias itinerantes realizados em 2023, dentre eles: ações de saúde, de vacinação, exame preventivo, obtenção de Registro Civil de Nascimento, documentação básica, dentre outras.
FONTE:
Saiba quem é a família Hayashi, os barões evangélicos da Zion Church que estão de olho nas missões no arquipélago
Sheik do Bitcoin, avião da FAB e Bolsonaro: os bastidores dos pivôs do escândalo Damares-Marajó
22/2/24
É claro que o Arquipélado do Marajó, no Pará, assim como qualquer outro lugar do país (e do mundo), convive com crimes de todos os tipos e tem pessoas responsáveis pela prevenção, investigação e repressão dos mesmos. Mas a recente viralização de uma fake news sobre um suposto esquema endêmico de maus tratos e crimes sexuais contra crianças e adolescentes na região, impulsionada pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e barões evangélicos a ela ligados, se tornou um verdadeiro escândalo. E o fim da linha, é claro, é uma campanha de arrecadação por Pix.
O agora chamado ‘Escândalo Damares-Marajó’ tem uma série de “núcleos”: a própria Damares que promoveu a entrada do chamado movimento “Abrace o Marajó” nos anais do governo Bolsonaro; os influenciadores digitais e suas respectivas agências que impulsionaram a viralização do vídeo da cantora gospel Aymée Rocha, que apresentou música sobre as supostas denúncias em show de talentos internacional; e a atuação da família Hayashi, os barões evangélicos que estão por trás da Zion Church, a igreja que promove as missões evangélicas na região, e do instituto Akachi, a ONG recém publicizada que está recebendo as doações. Nestas linhas vamos nos ater ao terceiro “núcleo”.
A cantora Aymée Rocha, autora da canção “Evangelho Fariseu”, é membro da Zion Church e do Dunamis Movement, ambos ligados à mesma articulação. Não foi por acaso que a Revista Fórum noticiou ontem a postagem em que ela apareceu ao lado do pastor Lucas Hayashi em campanha para que a música vá à final do Dom Reality.
O programa, um show de talentos gospel internacional, é produzido pela UniCesumar em parceria com o Deezer e transmitido no canal da UniCesumar no Youtube. A instituição, por sua vez, teve como diretor executivo Tiago Stachon, que hoje é vice-presidente da Vitru Educação. Este último é um grupo empresarial que atua no mercado de Ensino A Distância (EAD) e em 2022 comprou a UniCesumar, tornando-se o principal da categoria no Brasil.
Na semifinal do Dom Reality em que Aymée emocionou os jurados, entre eles estava outra figurona evangélica: Mariana Valadão, irmã dos pastores Ana Paula e André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha. E vejam só a ironia do destino: a própria Igreja Batista da Lagoinha se envolveu, recentemente, num caso de estupro de vulneráveis.
A família Hayashi
Lucas Hayashi, que aparece ao lado de Aymée promovendo sua canção, é justamente o pastor que em setembro de 2023, após viagem ao Marajó, voltou alertando em alto e bom som que a ilha amazônica estava infestada de casos de abuso sexual de crianças. Um ano antes, em outubro de 2022, Damares dava seu grotesco discurso, em pleno culto evangélico, “denunciando” que as crianças no Marajó teriam os dentes arrancados para facilitar o sexo oral.
Mas a atenção sobre o arquipélago paraense começou bem antes. Há registros de 2019 sobre os interesses da Zion Church, da família Hayashi e de Damares Alves sobre o Marajó. Naquele ano, Lucas Hayachi gravou um vídeo à bordo de avião da FAB (Força Aérea Brasileira), supostamente cedido pelo governador Helder Barbalho, para fazer uma vistoria no arquipélago. Na narração o pastor deixa bem claro que está lá para colaborar com Damares, com o governo Bolsonaro e com o movimento Abrace o Marajó.
“Representando a sociedade civil por meio da Zion Church e do Dunamis Movement fomos até a Ilha do Marajó lá no Pará. Com o objetivo de analisar as demandas da saúde, educação e assim contribuir com o Governo Federal, juntamente com o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos e a ministra Damares Alves, e com o programa Abrace Marajó (…) Agora estamos sobrevoando a Ilha de Marajó. O governador [Helder Barbalho-MDB] nos disponibilizou esse avião”, narrou.
A Zion Church é liderada por Junia e Teófilo Hayashi – irmão do pastor Lucas Hayashi. O clã ainda conta com a mãe deles, Sarah Hayashi. A matriarca recebeu em 2022, direto das mãos de Damares, a Medalha da Ordem do Mérito Princesa Isabel, criada pelo ex-presidente inelegível como uma das maiores honrarias da República (e devidamente extinta pelo ministro Silvio Almeida em 2023).
Damares entrega a Medalha da Ordem do Mérito Princesa Isabel a Sarah Hayashi, da
Zion Church. Créditos: Divulgação.
A igreja, por sua vez, foi fundada no continente africano pelo bispo Engenas Barnabas Lekganyane, em 1910, e professa uma doutrina autodenominada “cristianismo sionista”. Os adeptos acreditam na vida, ascensão aos céus e retorno de Jesus Cristo à Terra e que, quando isso ocorrer, o povo hebreu finalmente terá retornado à sua terra natal e haverá um reino de mil anos em que os fieis governarão o mundo.
A versão brasileira da instituição religiosa funciona como uma espécie de franquia da original. Nos últimos anos, a Zion Church se transformou numa das maiores do mercado gospel brasileiro. É também uma das organizadoras do The Send, um evento que mistura o ideário de extrema direita com esse evangelismo típico dos EUA professado pela instituição. Foi num The Send que Bolsonaro teria “se convertido” a Jesus Cristo.
O The Send, por sua vez, também tem relações com o grupo Jocum, que reúne missionários evangélicos que foram expulsos da região amazônica pelo Ministério Público Federal em 2016. A razão da expulsão: um documentário mentiroso e amplamente repercutido por Damares ao longo dos anos que denúncia uma suposta cultura de infanticídio entre os povos indígenas da região. Anos depois, em 2020, Damares tentaria levar dois missionários do grupo a uma aldeia do povo Suruwahá, mas o MPF não permitiu.
O fim da linha: campanha de Pix
Recapitulando: pelo menos desde 2019 Damares Alves e seus aliados da Zion Church, Dunamis Movement, The Send e afins, vêm falando sobre os supostos casos de exploração sexual infantil no Marajó. As mentiras de Damares renderam até mesmo um processo do MPF quando ela declarou que as crianças teriam os dentes arrancados para facilitar o sexo oral. Depois da invertida, o tema saiu do radar.
A apresentação de Aymeé Rocha na semifinal do Dom Reality ocorreu em 15 de fevereiro e a viralização do seu vídeo – em que denuncia o suposto escândalo antes de tocar a música “Evangelho Fariseu – só viralizaria nas redes sociais 5 dias depois, na última terça (20), quando um verdadeiro tsunami de influenciadores digitais oriundos de 3 agências inundou a internet brasileira com as "denúncias".
Na matéria publicada ontem na Fórum, apontamos que o principal fim da Zion Church é financiar missões evangélicas e dissemos que uma denúncia de que a população inteira de um enorme arquipélago nos rincões do Brasil seria conivente com um esquema hediondo de abuso infantil poderia ser um combustível e tanto para agregar tais doações.
É claro que não deu outra. Desde a última quarta-feira (21), uma ONG chamada Instituto Akashi tem coletando doações por Pix numa campanha em prol do “fim do sofrimento das crianças”. Pesquisando o CNPJ divulgado com a campanha, descobrimos que o registro data de 15 de setembro de 2020 – contrariando as próprias redes sociais da ONG que apontam o início das atividades em 2019 – e que a sede da associação privada fica em Pariquera-Açu, em São Paulo.
Além disso, o Instagram da entidade data de outubro de 2023 e o seu Twitter foi criado neste mês de fevereiro de 2024.
A família Hayashi não está no quadro de sócios, mas as ligações entre o “Instituto” e todo esse arcabouço político-evangélico-digital aparentemente são grandes. Além de uma infinidade de posts nas redes pedindo doações por Pix com chave no CNPJ da empresa, há também uma página de doações no site oficial do Instituto Akashi que tem sido amplamente divulgada desde a viralização. Ainda não sabemos qual é o total arrecadado desde quarta-feira (21).
FONTE:
https://revistaforum.com.br/brasil/2024/2/23/sheik-do-bitcoin-avio-da-fab-bolsonaro-os-bastidores-dos-pivs-do-escndalo-damares-marajo-154544.html