As três incapacidades

As três incapacidades

As três incapacidades

Gregório Grisa

A expressiva queda do tempo dedicado pelas crianças e jovens as atividades escolares, bem mapeada pela pesquisa da FGV (https://www.cps.fgv.br/.../FGV-Social-Neri-e-Osorio-Tempo...), era esperada como efeito da pandemia. Quanto mais pobre, menos atividades o estudante recebe da escola e, quando recebe, menos retorna. Os estudantes mais pobres dedicam cerca de 1/8 do tempo para estudos que os estudantes mais ricos.

São três as incapacidades do poder público que concorrem para o cenário de intensificação das enormes desigualdades educacionais, já existentes antes da pandemia. As duas primeiras incapacidades são ligadas diretamente a educação e a outra é mais estrutural.

1 - incapacidade de ofertar um ensino remoto de qualidade, com garantia de boa conectividade para estudantes e professores, com disponibilização de computadores e internet para os que não tem acesso. Aqui entra formação docente, busca ativa, entrega de materiais e tantas outras variáveis.

2 – incapacidade das redes de cumprir rigorosamente com os protocolos sanitários para o retorno das aulas. Em ambas as incapacidades fica evidente os limites de infraestrutura e de financiamento da educação no Brasil. Novos recursos e novos profissionais são necessários para isso, não há mágica.

3 – incapacidade do poder público de controlar a doença, de conter o contágio, fazer testagem em massa, identificar e isolar os contaminados e suas redes de contato. O negacionismo do governo federal e o improviso de muitos governos locais faz com que o índice de transmissão da doença se mantenha elevado por mais tempo do que em outros países, assim, o necessário retorno da escola fica comprometido.

As primeiras iniciativas de retomada das escolas mostram a cautela com que pais e professores estão lidando com a situação. O receio das pessoas é totalmente compreensível, o fato do número de mortes estar caindo, não significa que a doença não esteja circulando ainda em uma intensidade alta. Claro que há realidades diferentes entre regiões, estados e municípios.

O paradoxo atual é o fato de que quanto mais tempo sem escola, mais prejuízo para os mais pobres, no curto (evasão), médio (desemprego) e longo (baixo crescimento da economia) prazo. Por outro lado, quanto mais irresponsável for o retorno, maiores as chances de uma segunda onda da doença.

Enquanto não houver vacina, iremos experimentar retornos híbridos, tentativas, erros e acertos. Isso significa que a incapacidade 1 seguirá sendo um problema. Ampliar a inclusão digital e a qualidade da oferta do ensino remoto continuará sendo uma demanda, uma das formas de garantir o direito a educação.

Infelizmente, a pandemia eclodiu no tempo em que o governo federal brasileiro é ocupado por pessoas com baixa capacidade técnica e política de responder a altura da complexidade e da magnitude dos problemas. A tímida execução orçamentária do MEC esse ano e a falta de coordenação da pasta diante da pandemia é a prova de que a educação nunca esteve entre as prioridades.

A pandemia seguirá em 2021, a previsão é de cortes de orçamento do MEC para educação básica, qual a proposta do MEC para superar as incapacidades 1 e 2?

 

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