Resumo

Este trabalho pretende apesentar questões sobre o Transtorno do Espectro Autismo (TEA) suas características, implicações, desafios na inclusão escolar, no entendimento e relações com as famílias. TEA são transtornos que apresentam problemas na desenvolvimento da linguagem, na comunicação e na interação social. A inclusão escolar precisa inserir, sem distinção, todas as crianças. Inclusão é um exercício de cidadania e humanidade. Através de observações, entrevistas com educadores, com pais de crianças com diagnóstico e pais de crianças sem diagnóstico, este trabalho apresenta uma experiência positiva de inclusão e alfabetização de criança autista. Descrevendo algumas medidas de interação e socialização para conquistas na aprendizagem. Demonstrando também a necessidade do envolvimento de toda comunidade escolar para o sucesso de todos os processos de inclusão.

 Palavras-chave: Autismo. Alfabetização. Inclusão.

           Autismo ou TEA (Transtorno do Espectro Autismo) é um transtorno onde as crianças apresentam problemas de desenvolvimento na linguagem, na comunicação geral, nas reações e nos comportamentos. A criança fica absorvida em seus próprios pensamentos, nos seus sentimentos o que causa uma perda considerável na relação com os outros. O transtorno não tem cura, mas pode ser exercitado para modificar e melhorar o convívio e a aprendizagem.

          A palavra autismo é oriunda da junção de duas palavras gregas: “autos” que significa em si mesmo e “ismo” que significa votado para, ou seja o termo autismo significava “voltado para si mesmo”, conforme referido pelos autores Lira (2004) e Gomes (2007).

         Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – V) em 2013, foram agrupados os diagnósticos denominando Transtorno do Espectro Autista considerando grave, moderado e leve.

        Uma criança com autismo possui algumas características de acordo Lira (2004), Gomes (2007), Gauderer (1993) e Suplino (2007) como: evita o contato visual; repete palavras e frases; isolamento; dificuldades na mudança de rotinas; apresenta movimentos corporais repetitivos; dificuldade nas relações interpessoais; isolamento social; apego excessivo aos objetos; auto agressão; acessos de raiva quando contrariado.

       Ao mesmo tempo, crianças com TEA dedicam-se e destacam-se em determinadas habilidades, são atentas aos detalhes, possuem boa memória, concentração nas minúcias e exatidão nas solicitações.

       O autismo é um transtorno permanente, mas como qualquer ser humano, cada pessoa com autismo é única e todos podem aprender.

       Para Revière in Giardinetto (2009, p.22) “o tratamento mais efetivo com crianças com autismo é a educação”. 

       Com os educadores que enfrentam o desafio de incluírem alunos com TEA em sala de aula surgem muitos questionamentos, mas para Cunha (2017) não existem respostas prontas para as questões da educação. Apenas relatos, experiências, saberes na construção de um caminho.

        Conforme Cláudia Grabois (2010), diretora do IHA (Intitudo Municipal Helena Antipoff) do RJ, os alunos com TEA são aqueles que levam o professor a questionar suas certezas, suas habilidades e até mesmo seu papel de educador. Muitas dúvidas, desafios e inquietações com seu aluno que vive num mundo com comportamentos diferenciados, sugerindo muitas reflexões e mudanças no pensar a educação, libertando-se e quebrando velhos paradigmas.

        Segundo Cunha (2013) é necessário perceber que o aluno com autismo aprende, deseja e pensa diferente, portanto não se imobiliza a criança, se reorganiza a atividade; se corrige ensinando sem reprimir sendo a afetividade o caminho para a disciplina e a socialização.

... a inclusão escolar implica em redimensionamento de estruturas físicas da escola, de atitudes e percepções dos educadores, adaptações curriculares, dentre outros. A inclusão num sentido mais amplo significa o direito ao exercício da cidadania (SERRA, 2004, p.27).

       A escola precisa ter a intenção clara para a inclusão buscando modificar, desde seus aspectos físicos como os pensamentos e atitudes de seus educadores, além de preparar toda comunidade escolar (pais, alunos e familiares) para este sentido, sendo que a inclusão é muito mais do que simplesmente colocar alunos com um diagnóstico em salas de aula com outras crianças, precisa de uma nova proposta aliando conhecimento pedagógico e sensibilidade.

       Um amplo debate e constantes diálogos com todos os envolvidos na escola cria um ambiente favorável, amistoso e acolhedor para a inclusão.

        Para Cunha (2017) o professor, com um olhar instrumentalizado, sensível e a partir do seu aluno, estabelece o seu trabalho. Utilizando os melhores recursos pedagógicos para descobrir e desenvolver as habilidades de seus alunos priorizando a comunicação e a socialização.

       Dentro deste contexto, a alfabetização de crianças autistas é um desafio extraordinário, tanto quanto para outras crianças sem o diagnóstico. Cada um aprende de forma individual e no seu tempo.

       Conforme entrevistas e observações realizadas com educadores no processo de alfabetização com crianças autistas, se faz necessário algumas medidas para que a interação, socialização e sucesso na aprendizagem possam ser verificados: as atividades precisam ter objetivos diretos; rotina e organização na realização das atividades; executar uma atividade de cada vez; esperar e aceitar o tempo de cada um para a realização da atividade; afetividade para tolerar a frustração e a negação; incentivar a linguagem e a expressão oral; participação efetiva do grupo tanto no entendimento da situação como no envolvimento direto das relações.

A educação não é uma questão institucional. É uma questão humana. Não aprendemos pelo rigor das regras, mas por uma condição biológica. Nascemos para aprender. Restringir este direito é violar a coerência da natureza; é tentar cercear a inteligência humana. (CUNHA, 2013, p.15)      

       A comunidade escolar precisa estar preparada para este processo de inclusão. Muitos relatam apreensão quanto a adaptação tanto do aluno com o diagnóstico na relação com a escola, com os colegas e com as educadoras.

       A escola observada demonstra organização específica, sensibilidade e acolhimento.  O aluno precisa sentir consideração, respeito, afetividade e disponibilidade de todos na escola para poder desenvolver-se com sucesso. Crianças com TEA ainda precisam de auxílio para o desenvolvimento da comunicação, linguagem e relações. Através de brincadeiras, afeto, estudo e envolvimento apropriados, as educadoras e os colegas apoiam para inclusão adequada.   

Uma síndrome comportamental com etiologias múltiplas e curso de um distúrbio de desenvolvimento [...], é uma disfunção orgânica e não um problema dos pais [...] e é de origem biológica. (ORRÚ, 2012 p. 21)

        A escola precisa compreender e apoiar as famílias promovendo conversas e debates periódicos e sempre que necessário para a compreensão e apropriada inclusão. Estar disponível para apoiar e esclarecer as dúvidas tanto dos pais como dos colegas de todos os níveis da escola.

      O acréscimo de alunos com TEA na sala de aula propõe reflexões e mudanças no aprender e ensinar, quebra de paradigmas e repensar a escola como promotora na construção de cidadania.

          

Referências

CUNHA, Eugenio. Autismo na escola; um jeito diferente de aprender um jeito diferente. Rio de Janeiro. Wak, 2ªed. 2013.

_____________. Autismo e Inclusão: psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família. Rio de Janeiro. Wak, 2017.

GAUDERER, E. Christian. Autismo. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 1993.

GIARDINETTO, Andréa R. dos S. B. Comparando a interação social de crianças autistas: as contribuições do programa teacch e do currículo funcional natural. 2005. 135 f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) - Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005. Disponível em:

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Acesso em 25 mai 2018.

GOMES, Camila G. S. Desempenhos emergentes na aquisição de leitura funcional de crianças com autismo. 2007. 198 f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) - Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2007. Disponível em;

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Acesso em 26 mai 2018.

 

GRABOIS, Claudia. Orientações sobre a inclusão do aluno com transtornos globais do desenvolvimento. 2010. Disponível em:

https://pt.scribd.com/doc/33332487/Orientacoes-Sobre-a-Incluaao-do-Aluno-com-Transtornos-Globais-do-Desenvolvimento-14-de-Junho-de-2010

Acesso em 26 mai 2018.

 

LIRA, Solange M. de. Escolarização de alunos autistas: histórias de sala de aula. 2004. 151 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:

http://www.ufjf.br/mestradoedumat/files/2011/05/Disserta%C3%A7%C3%A3o-E-lida.pdf

Acesso em 23 mai 2018.

 

ORRÚ, E. S. Autismo, linguagem e educação: interação social no cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Wak, 2012.

SERRA, Dayse C. G. A inclusão de uma criança com autismo na escola regular: desafios e processos. 2004. 113 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências e Humanidades, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:

http://www.ufjf.br/mestradoedumat/files/2011/05/Disserta%C3%A7%C3%A3o-E-lida.pdf

Acesso em 27 mai 2018.

 

SUPLINO, Maryse H. F. de O. Retratos e imagens das vivências inclusivas de dois alunos com autismo em classes regulares. 2007. 169 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em:

http://www.ufjf.br/mestradoedumat/files/2011/05/Disserta%C3%A7%C3%A3o-E-lida.pdf

Acesso em 20 mai 2018.