Não estou entre aqueles que acham a educação uma panaceia para todos os males do universo. Como repórter, nos anos 90 conheci Cuba e União Soviética, dois países com analfabetismo perto de zero e altíssimo nível educacional – e também dois dos países mais corruptos e ineficientes onde já pisei, fruto de uma espécie de autodefesa da população contra o monstrengo estatal e sua burocracia que a tudo devorava e travava.

Educação, por si só, portanto, não é capaz de produzir milagres. Mas não existe nação com razoável grau de desenvolvimento em que a educação não esteja na base do progresso social, cultural e econômico. Em todos os potentados atuais, a educação de qualidade não foi encarada como um privilégio de poucos. Ela é parte da vida cotidiana, tão mandatória quanto alimentação e habitação.

Em países de alto grau de desenvolvimento, não há hesitação. A barra da educação sobe constantemente, em um movimento que tende a escavar ainda mais o fosso em relação aos países onde jogar parado é a regra. No Brasil, parece um estorvo subir a régua de estudantes, professores, diretores, governantes. Muitos dirigentes se contentam em oferecer prédios, professores, merenda e aulas aos alunos, como se esse fosse o objetivo final, quando deveria ser o patamar mínimo para que, gradualmente, o país possa sonhar um dia em percorrer caminhos já transitados por nações mais avançadas.

Tão triste quanto o comodismo na qualidade da educação pública é a perda de prestígio da profissão de professor. Há por aqui um abismo tão ou mais profundo do que a questão salarial. Na Índia e em regiões da África, professores ganham misérias mas são venerados pelas populações, e a escolinha, frequentada com enorme sacrifício, é o centro da comunidade. Por mais humildes que sejam, as famílias incensam professores e a educação porque sabem que é por intermédio dela, e apenas dela, que seus filhos e o vilarejo terão um futuro melhor.

Agora, com as eleições, temos mais uma oportunidade para começar a mudar essa situação. O Congresso abriga as bancadas do boi e da Bíblia mas não uma bancada da educação que se esmera pela causa dos estudantes com a mesma avidez da bancada da bala. O eleitorado nacional está mais distraído em distribuir memes de adversários e discutir as urnas, mas no Rio Grande do Sul uma iniciativa recente, apartidária e independente, o Pacto pela Educação, se esmera em chamar a atenção para que toda a sociedade coloque a educação no topo de suas prioridades. O Rio Grande do Sul já foi pioneiro em muitas frentes. Quem sabe por aqui os próximos eleitos de todas as latitudes e longitudes também não inauguram uma nova era ao eleger a educação como o tema número 1 para o futuro de todos os gaúchos?   

 

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