Bons professores não morrem

Bons professores não morrem

Bons professores não morrem

É como se eles deixassem um pouco de si em cada um de nós

Juliana Bublitz



Mateus Bruxel / Agencia RBS
Os ensinamentos mais importantes são para a vida.
Mateus Bruxel / Agencia RBS

 

 

Professora Verena partiu. Fiquei sabendo com atraso, pelo anúncio fúnebre repassado no grupo de WhatsApp das amigas do colégio. Verena Dahmer dedicou a vida a ensinar os mistérios da língua portuguesa. Formou gerações no Colégio Mauá, um dos mais tradicionais de Santa Cruz do Sul.

Tinha um jeitão de durona, era exigente, mas também paciente como uma mãe. Creio que todos os bons mestres o são. 

Professores - falo dos especiais - marcam quem passa por eles. São guias e ao mesmo tempo cúmplices. É como se deixassem um pouco de si em cada um de nós. 

Tenho certeza de que você, aí do outro lado, deve estar se lembrando, neste exato momento, com carinho e talvez com um sorriso no rosto, de alguém que marcou a sua formação. Bons mestres não morrem.

Em maio, partiu Clarisse. Tinha 73 anos. Cedo. Era professora de História na mesma escola, colega de Verena. Minha professora. E era daquelas que entendia como poucos as urgências e os excessos da adolescência, sempre com uma piscadela de olho marota (olho que ri), como quem diz: “Eu sei de tudo”. 

Clarisse Thomazi dava mais do que aulas: levava os alunos pela mão, para que aprendessem a desenvolver pensamento crítico. Falava dos acontecimentos históricos com tanto gosto que a gente passava a se interessar também. Era parceira para viagens, adorava um bom papo. Era um exemplo. Professores são isso, também. 

Como qualquer ser humano, eles têm defeitos e falham. Mas os bons não são os perfeitos. Talvez por isso mesmo sejam tão bons: a gente se vê neles, se identifica com eles.

Homens e mulheres que nascem com o dom de ensinar não se colocam no pedestal. São, em geral, os docentes mais simples e acessíveis da escola. Sabem ouvir. É o que um guri ou uma guria com neurônios em ponto de bala deseja.

Clarisse e Verena fazem parte dessa estirpe de grandes mestres que perpassa a humanidade desde que aprendemos a ler e a escrever. Fazem lembrar até do cheiro e do gosto do colégio da infância. 

Fecho os olhos e ainda vejo o corredor no terceiro andar, a algazarra no recreio, o cachorro-quente do bar, a temida “sala do diretor”, que, no fim das contas, era um homem doce e bondoso, seu Wilson Griesang, também já falecido. Mas será mesmo que ele, Verena e Clarisse se foram?

Dia desses, um dos maiores artistas da cena teatral gaúcha, Hique Gomez, disse com todas as letras que seu eterno parceiro de palco, Nico Nicolaiewsky, da peça Tangos & Tragédias, não morreu (embora tenha partido em 2014). 

Hique falou isso por um simples motivo: para ele, a consciência de Nico segue viva na obra, no legado.

Com os professores que honram a missão de ensinar é assim também. O bom mestre segue vivo em cada aluno que guarda suas lições. Os ensinamentos - não falo de fórmulas matemáticas nem de regras gramaticais - ficam. Falo dos aprendizados para a vida. Eles são eternos. 

FONTE:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/juliana-bublitz/noticia/2025/06/bons-professores-nao-morrem-cmcept01f0218013r65o68mnb.html




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