Brasil - um país golpista
Brasil - um país golpista - o verde-amarelo é a cor da chibata
Reza a lenda que o metafísico foi golpeado numa pequena aula de história. Como advogado de Nárnia, deve ser pensado: “que diabos eu fiz para estar nesta sala de aula?”. Se eu tivesse que responder, coisa que não farei, seria para dizer o que o metafísico não fez. Isto é, não esteve na aula de história, então, depois de cascudo, teve que voltar ao ensinamento básico.
Na aula, no entanto, o professor de história cortou o caminho do papo furado e foi logo ao ponto nervoso da coisa toda. Começou assim:
“ – O Brasil é um país golpista, um celeiro de mortes políticas. Leia a história. Ponto!”.
Como o metafísico nada tinha a declarar, dada sua ignorância conceitual, o professor continuou com a exposição de motivos:
...
“Inegavelmente, a não ser que movidos pelo negacionismo da história (fática), é muito válido confirmar que o Brasil é um celeiro de golpes, sejam civis ou militares (ou ambos, combinados).
Vamos do presente ao passado: hoje, com a Câmara dos Deputados menos republicana de nossa história (equivale à corrupção), na prática do poder legislativo golpista, vigora uma bizarrice de “parlamentarismo esculachado”.
Nosso regime de poder, desde a confirmação de 1993 (e posta em 1988), é o presidencialismo. Somos reféns dos piores tipos humanos, esses que invocam a bíblia, a bala, o boi, o banco, e, em nome de algum senhor iluminado, não só violam, atacam a Constituição e a República (nos princípios), como trazem escolas cívico-militares, ensino religioso, educação financeira – em oposição à Ética, sociologia e filosofia. No país golpista, ataca-se a lógica, o conhecimento, a ciência, o Bom Senso mínimo.
Vimos o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moares agir contra o X e a Starlink (do grupo Musk: aqule que disse: “Darei golpe quando eu quiser”). O ministro bloqueou, impôs graves multas diárias até para usuários em condição negadora da lei e apreendeu bens da Starlink. Muitos entreguistas da soberania nacional ameaçaram surpresa com a dependência de nossa “segurança”, esquecendo-se de que a soberania nacional já tinha sido rifada por essa plataforma e seu oligopólio econômico.
Muitos desses desafetos da soberania nacional estiveram presentes na tentativa de golpe de Estado, no famoso 8 de janeiro de 2023. Ainda há investigações (ou deveria haver) sobre a participação direta da “elite da força”: os “kids pretos”.
Muito se reclama das decisões monocráticas do Ministro Alexandre de Moraes – a exemplo de 2022 quando determinou a derrocada de Fake News no miolo da campanha presidencial, sem nomear o Ministério Público (MP). Oras, se esperasse um mês para as análises do MP a campanha teria acabado e a sorte da democracia seria o nosso azar: a continuidade do Fascismo Nacional.
Os mesmos golpistas de hoje alegam que o ministro teria sido advogado criminalmente para pessoas não-honestas – incluindo-se aí faccionados de São Paulo. Pois bem, se isso se deu desse modo, a nomeação nos processos nada mais é do que o cumprimento de uma obrigação da advocacia: a garantia do contraditório e da ampla defesa. Se dissessem que “agir fora da Constituição para assegurar a integridade constitucional” deve ter um limite, obedecer a algum sistema de freios e contrapesos, lhes daria razão. Porque concordo com os tais freios e contrapesos.
Todavia, a fim de que alguns se lembrem, esse recurso monocrático do chamado “estado de coisas inconstitucional” (agir fora para garantir o que está dentro) foi o mesmo que obrigou o Fascismo Nacional a comprar vacinas em 2022, bem como evitou a derrota da democracia em 2022.
Muita gente se incomoda com o STF de modo geral, especialmente os que gostariam de dar golpes todo dia, ao “arrepio da lei”, em total desacordo com a lei.
Quem tanto reclama do ministro Alexandre de Moraes, em especial, deveria consultar a memória (quando essa se apresentar) para lembrar que foi Temer quem o indicou ao STF. Temer, para lembrar a memória fraca, chegou ao poder palaciano após o Golpe de Estado de 2016. Vejam a ironia da história: os golpistas reclamam do ministro, mas esquecem que ele foi indicado após um doloroso golpe...irônico, não? Ou só hipocrisia? Talvez burrice, como se dizia no século XX.
Então, queridos e queridas, alunos e alunas da 5ª série E, somente para citar alguns casos bem suspeitos de ação golpista, antes do Temer, tivemos as mortes estranhas de Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e de Teori Zavascki (outro ministro do STF). Além dos bebianos da vida.
Na longa lista golpista, que só nomeamos parcelas, tivemos o confisco da poupança por Collor: a ação levou a uma mudança na Constituição (artigo 62, § 1º, II), impedindo-se atos golpistas futuros do mesmo gênero.
Sob o regime militar pós-1964, um golpe civil-militar, podemos confirmar que cada Ato Institucional (até chegar ao famoso AI-5) foi um golpe dentro do golpe anterior: um looping da exceção.
A caçada a João Goulart, Brizola e tantos outros – inclusive quem desapareceu sob a tortura e o assassinato – também nos permite lembrar da morte misteriosíssima do general Castelo Branco (em 1967), e do fim trágico de Juscelino Kubitschek (1976). Assim chegamos a Getúlio Vargas – morto com um tiro fatal.
E no final, voltamos ao início de nossa história institucional: a declaração da República, em 1891, foi possível graças a um golpe militar. Nós nascemos num golpe. O primeiro presidente foi o Marechal Deodoro da Fonseca, um marechal e não um civil.
Enfim, quem tanto se queixa das decisões monocráticas do ministro Alexandre de Moraes, sobretudo, quando se volta contra os mais variados e múltiplos “atos antidemocráticos”, não se esqueça: foram vocês que o indicaram, quando adularam ou participaram do Golpe de 2016. Lembre-se também do voto de 2018, do atentado a facada mais mentiroso do mundo. Lembre em quem votou ou aplaudiu ou ainda aplaude – será que você não é golpista?
Dizem que a chibata do corpo e da alma é a língua, pois então, no Brasil golpista o verde-amarelismo é a cor da chibata ... prontamente racista, militarista, entreguista e, é claro, golpista. Chibata muito golpista”.
Assim concluiu o professor de história.
No final da aula, visivelmente em estado de hibernação mental, o metafísico apontava o dedinho para Nárnia...sua cabeça deveria estar sofrendo de alguma falha catastrófica. Quem sabe.
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