Brasil voltou ao Mapa da Fome

Brasil voltou ao Mapa da Fome

IBGE confirma que Brasil voltou ao Mapa da Fome em 2018

Publicado em 17 setembro, 2020 6:39 pm

Fome no Brasil. Foto: Reprodução/Exame

De Alessandra Saraiva e Bruno Villas Boas no Valor Econômico.

Os dados do IBGE anunciados hoje comprovam que, em 2018, o Brasil retornou ao Mapa da Fome – lista de países com mais de 5% da população ingerindo menos calorias do que o recomendável, segundo análise de Francisco Menezes, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

Desde 2014 o país já havia deixado a lista, lembrou o especialista – sendo que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) já havia alertado no ano passado que o país poderia voltar a esse quadro, acrescentou ele.

Hoje, o IBGE anunciou levantamento que mostrou avanço da insegurança alimentar grave, ou fome, no país, que atingia 5% da população brasileira em 2018, ante 3,6% em 2013, alcançando 10,28 milhões de pessoas.

Menezes faz parte do grupo de trabalho Agenda 2030 – organização composta por entidades da sociedade civil, que faz monitoramento dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável pactuados pelo Brasil e outros 192 países da Organização das Nações Unidas (ONU). “O objetivo 2, da lista, é erradicar a fome. E, nos nossos trabalhos, já víamos que o país estava revertendo tendência positiva no tema”, afirmou ele.

Para o técnico, a pesquisa do IBGE evidencia “retrocesso grande” no combate à fome no país. “Se olharmos o montante de domicílios em segurança alimentar, podemos ver que voltamos ao que patamar registrado em 2004”, acrescentou.

Dois fatores conduziram ao cenário atual: o avanço da extrema pobreza, e um movimento de corte de políticas públicas em segurança alimentar a partir de 2014, afirmou o pesquisador. “Houve um desmonte muito grande nessas políticas, a partir de cortes orçamentários. Alguns, como programa de aquisição de alimentos de agricultura familiar, com compra institucional, foram praticamente zerados [até 2018]”, afirmou ele.

Ao ser questionado se, com a pandemia, o quadro atualmente já seria até mais grave, devido à crise na economia originada do avanço da covid-19 no país, o especialista foi cauteloso. Ele comentou que, num primeiro momento da atual crise sanitária, em meados de março, com perda de renda forte originada do trabalho, principalmente de serviços, observou-se um agravamento do cenário da fome no Brasil. “Mas com o auxílio emergencial [pago pelo governo] houve um desafogo nesse sentido. Em torno de 60 milhões de pessoas receberam esse auxílio”, afirmou ele.

No entanto, ressaltou que o benefício emergencial do governo irá continuar apenas até o fim do ano, e ainda em valor menor. Na análise do especialista, é muito provável que o quadro da fome se agrave, ante ao que foi detectado até 2018 pelo IBGE, quando o governo parar de pagar o auxílio. “Isso nos preocupa muito”, afirmou ele. “Ninguém tem a ilusão de que a economia vai se recuperar rápido”, afirmou ele, ressaltando que houve forte perda de renda do trabalho esse ano. “E não tem como o governo continuar a pagar o auxílio indefinidamente. O custo é muito elevado, pelo valor e pelo número de pessoas que contempla”, comentou ele

Outro agravante citado por ele é o fato de que mesmo com sinais de avanço de pobreza, detectados em dados oficiais do governo apurados pelo IBGE – a parcela de brasileiros vivendo abaixo da linha da extrema pobreza subiu de 4,5% para 6,5% entre 2014 e 2018 – não houve aumento de inserção de famílias em programas de transferência de renda, pelo contrário. “O volume de reinserção de famílias no Bolsa Família diminuiu”, comentou ele.

Para reduzir a fome do país, o especialista defendeu uma reforma tributária, com progressiva taxação de riqueza, para angariar recursos e alocar em programas de transferência de renda.

(…)

 

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/ibge-confirma-que-brasil-voltou-ao-mapa-da-fome-em-2018/ 




ONLINE
21