Bravo, professores

Bravo, professores

Bravo, professores de escolas públicas

por Juremir Machado da Silva

Bravo, professores de escolas públicasFoto: Fauxels/Pexels

Mais um dia do professor. Bravo, guerreiros das escolas públicas do ensino fundamental e médio do Rio Grande do Sul. Na rede municipal a nova ameaça são as câmeras espiãs, que captarão imagens e sons, sob pretexto de garantir segurança, cujo objetivo real é conferir se um docente é comunista e se fala da tal “ideologia de gênero”. Na rede estadual o governador Eduardo Leite quer pagar prêmio em dinheiro para quem atingir determinadas metas, tornando cada colega um competidor no neoliberalismo pedagógico, que se apresenta como neutro e meritocrático.

A Secretaria Municipal da Educação de Porto Alegre ameaça ainda duas escolas tradicionais que oferecem ensino médio ou médio e pós-médio, a Emilio Meyer, na Medianeira, e a Liberato Salzano Vieira da Cunha, no Sarandi. Sob alegação de que a atribuição é estadual, comunidades sofrerão com a modificação. Por que mexer no que está bem? Alunos protestam. Famílias imploram para que isso não aconteça.

Ser professor é uma escolha de vida que exige um pouco de tudo, da persistência à abnegação. Um professor vocacionado colhe as suas vitórias em pequenas conquistas do dia a dia: um aluno que avança depois de certa dificuldade, um trabalho feito com esmero pela turma, uma conversa em sala de aula que flui, engaja, motiva e termina com participações entusiasmadas e reveladoras, a expressão de alegria no rosto da gurizada antes ou depois de uma aula, coisas todas que se dão em torno do “palco” das apresentações cotidianas: a sala de aula.

Uma coisa é ser professor universitário, outra é ser professor de ensino básico, uma coisa é lecionar em universidades privadas comunitárias ou confessionais, outra é lecionar em universidades empresariais e outra ainda é lecionar em universidades públicas. Cada lugar com seus desafios, problemas, trunfos e apostas. Quando falo nas dificuldades de ser professor, penso em quem atua numa escola pública, em lugares vulneráveis, sensíveis, lutando contra a evasão, cantando com Gonzaguinha esse hino aos que não desanimam, seguem em frente, dão aula:

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão

Eu vou à luta é com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco é dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói a manhã desejada.

Uma vez, um cara desses de terno de marca, gel no cabelo e expressões da moda, me disse que essa música é brega. Fiquei perplexo. Essa letra é linda e parece ter sido feita para descrever vida de profe. A pessoa trabalha feito um condenado para cumprir seu ideal e vem um burocrata dizer que para ganhar mais precisa melhorar sua produtividade! Se fizer isso, ganha um décimo-quarto salário e outras vantagens. Se não fizer, por já estar sobrecarregado, fica vegetando na sua posição.

Ser professor é ler pensando “isso vai encaixar certinho na aula”, vibrar com o progresso dos alunos, estar disponível para ajudar quando a dificuldade aparece, desejar boa sorte de coração em formatura, sugerir uma leitura que nunca será esquecida, como quando, para minha turma de jornalismo, Irmão Mainar, nos primeiros semestres, nos fez ler Quarup, de Antônio Callado, O grande mentecapto, de Fernando Sabino, O rapaz que suava só do lado direito, de Antônio Carlos Resende, Um novo animal na Floresta, de José Carlos Oliveira, e A hora da estrela, de Clarice Lispector. Qualquer colega se lembra disso.

Ou Edison de Oliveira ensinando português com humor e uma galinha de plástico. Ou meu professor de literatura, no Santa Teresa de Jesus, em Santana do Livramento, o inesquecível Darci Müller, recitando Essa negra Fulô, de Jorge de Lima, me fazendo gostar de poesia para sempre.

Parabéns, mestres, aguentem firme.

FONTE:

https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/bravo-professores-de-escolas-publicas/ 




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