Bullying e violência na escola

Bullying e violência na escola

Conversa de Professor: especialistas abordam bullying e violência na escola em seis encontros mensais 

Painéis ocorrem de abril a outubro, na Fundação Ecarta, com a abordagem de especialistas sobre origem, gatilhos e impactos da violência no ambiente escolar e contra professores

Por Gilson Camargo / Publicado em 7 de abril de 2025

 

Conversa de Professor especialistas abordam bullying e violência na escola em seis encontros mensais

Série de painéis para debater bullying e violência foi organizada a partir de relatos de professores sobre violência em sala de aula e visam qualificar as relações

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

 

Neste ano, o projeto Conversa de Professor concentrará a temática dos painéis na construção do bem-estar no ambiente escolar.

A proposta, segundo a professora Cecília Farias, coordenadora do projeto, surgiu a partir de relatos de professores sobre as dificuldades de enfrentar comportamentos de agressão e violência de estudantes, ocorridas nas escolas em especial, muitas vezes, como consequência do uso excessivo de celulares e redes sociais.

“Esse modelo facilita a disseminação de situações que levam crianças e jovens a atitudes e conhecimentos extremamente inadequados e prejudiciais ao seu desenvolvimento”, afirma.

Os seis encontros mensais que ocorrem até outubro na Ecarta contam com a participação de especialistas das respectivas áreas de conhecimento para tratar sobre a violência nas escolas, o momento em que ela aparece mais nitidamente, as características, as conexões, a identificação do problema, a mediação do professor, enfim, proporcionará novos olhares para essa situação que deve ser trabalhada para garantir a convivência fraterna, aprendizagens significativas e sentimento de valorização da vida.

O projeto Conversa de Professor, iniciado em 2005, é uma iniciativa da Fundação Ecarta, realizada em todo o estado, que propõe discussão de temas específicos de diferentes áreas do conhecimento. Conta com o apoio do Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS).

A programação é voltada para professores de todos os níveis de ensino, coordenadores pedagógicos, estudantes de pedagogia, funcionários de escolas e demais interessados. A inscrição é gratuita e vale para toda a programação.

Os encontros ocorrem às 19h, na Ecarta, em Porto Alegre (Avenida João Pessoa, 943), com transmissão ao vivo pelo Canal da Fundação Ecarta no Youtube.

Impactos negativos e duradouros

A violência e o bullying na escola são tão antigos quanto a própria escola, o que não quer dizer que elas devam ser normalizadas ou banalizadas, afirma o professor Leandro Baségio, autor do primeiro painel, no dia 24 de abril, sobre o surgimento do bullying no ambiente escolar.

Doutor e mestre em Sociologia, professor de EJA e da rede municipal de Porto Alegre, Basegio lembra que o impacto do bullying é profundamente negativo e duradouro, tanto para o ambiente escolar, quanto para aqueles que se envolvem nessas práticas, seja na condição de vítimas, de autores ou de meros espectadores.

“Por outro lado, são fenômenos complexos para os quais não existe uma solução simples. O primeiro passo talvez seja a não banalização, isto é, não tomar o bullying como um fenômeno normal, típico da relação entre os jovens ou algo que faz parte do desenvolvimento das pessoas ou até mesmo salutar para o fortalecimento do caráter. Não passa por aí”.

As medidas que se deve adotar quando esse tipo de situação é percebida na escola, explica, são justamente dar visibilidade, promover a discussão, o debate com os estudantes, mostrando que é uma prática nociva e que ela tem repercussões de longo prazo na vida dessas pessoas.

“São repercussões que não se dão apenas no nível psicológico daqueles que são vítimas, mas também em termos jurídicos, com a criminalização dessas práticas. A gente sabe que aqueles autores de bullying tendem a desenvolver ao longo da vida adulta até mais comportamentos delituosos, que terão repercussões jurídicas”.

Mediação e limites

“As cenas de violência entre crianças na escola costumam se mostrar geralmente nos últimos anos da infância e na passagem para a adolescência, quando se intensifica o trânsito do espaço mais protegido da família e o aumento da inserção nos grupos de pertença entre os pares”, explica psicólogo Gerson Pinho, mestre e doutor em Psicologia, membro da APPOA e professor de pós-graduação.

Frente a situações de violência, aponta, cabe aos docentes mediar os conflitos e impor limites. “Trata-se de uma função fundamental de mediação, que permite regular e situar limites nas violências que se impõem entre os pares”, sinaliza o especialista, que apresentará o painel O bullying e as violências no espaço escolar, no dia 28 de agosto.

O espaço da escola, sublinha, “se constitui em território para construção de laços com outras pessoas, a partir dos quais pode se ter experiências de convívio com uma diversidade de estilos, com a alteridade e com a diferença”.

Conversa de Professor: especialistas abordam bullying e violência na escola em seis encontros mensais

Não ao bullying e à violência: estudantes e professores da rede estadual de ensino de Caxias do Sul organizaram ato em solidariedade à professora de inglês da escola João de Zorzi, que foi esfaqueada no dia 1º por três alunos em sala de aula

Foto: Simone Lorandi Comerlato / Divulgação

Programação

24/04

Bullying – quando ele chega às escolas?
O bullying faz referência a um certo tipo de comportamento violento e que tem lugar entre estudantes. Tão ou mais antigo quanto a própria instituição escolar, faz poucas décadas que ele passou a chamar a atenção de pesquisadores. Sob uma perspectiva histórica e socioantropológica é possível compreendermos o bullying como uma manifestação de poder, hierarquia e exclusão, refletindo dinâmicas sociais mais amplas. Nesse sentido, é necessário analisarmos esse fenômeno como um reflexo das estruturas sociais e culturais. Longe de ser um problema individual, ou apenas de matriz psicológica, trata-se de um fenômeno complexo e multifacetado, profundamente enraizado na história e na cultura humana. Ao analisá-lo, sob uma perspectiva histórica e socioantropológica, podemos compreender suas origens, suas transformações e seu impacto nas sociedades contemporâneas. Essa compreensão é essencial para desenvolvermos estratégias eficazes de prevenção, visando à construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Painelista: Leandro Basegio – Doutor e mestre em Sociologia pela Ufrgs, com especialização em Educação pelo Centro Universitário Unilasalle e graduação em História, com licenciatura plena pela Ufrgs. É autor de livros sobre fundamentos teóricos e metodológicos das Ciências Humanas e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Como pesquisador, investiga os fenômenos da violência, criminalidade e criminogenia. É docente da rede municipal de ensino de Porto Alegre, atuando no ensino regular e na modalidade de EJA.

21/05
Novos olhares e práticas pedagógicas para promover uma escola segura
A abordagem propõe-se a ser um espaço de reflexão para educadores, com o objetivo de fomentar discussões críticas sobre o fenômeno do bullying e suas ramificações digitais. Ao contextualizar o problema no cenário atual, a proposta busca instrumentalizar profissionais da educação para reconhecer, prevenir e intervir nessas situações, visando à construção de ambientes escolares mais seguros e respeitosos. O bullying e o cyberbullying são fenômenos multifacetados, influenciados por dinâmicas sociais e tecnológicas que transcendem a esfera individual. Mais do que simples conflitos pontuais, eles refletem modelos de relação interpessoal marcados pela violência simbólica e pela cultura digital, fatores que intensificam seu impacto na saúde mental dos jovens. Nesse contexto, a virtualidade amplifica a propagação de agressões, desafiando as fronteiras tradicionais do espaço escolar e exigindo uma compreensão sistêmica do problema. Diante dessa realidade, a apresentação destaca o papel estratégico dos educadores como mediadores ativos. Além de identificarem sinais de alerta, os educadores podem liderar iniciativas que integrem toda a comunidade escolar – estudantes, famílias e equipe pedagógica – em ações preventivas e interventivas viando à saúde mental dos estudantes.
Painelista: Isabel Cristina Tremarin – Pedagoga, especialista em orientação educacional, currículo e prática de ensino, gestão de empresa do terceiro setor e gestão de empresas inovadoras. É coordenadora de sistema de qualidade em gestão escolar. Coordenadora do Serviço de Orientação Educacional (SOE) no Colégio Anchieta, de Porto Alegre.

18/06
Entre conexões e conflitos: a mediação docente no enfrentamento da violência escolar em tempos da cultura digital
O painel tem como proposta a discussão das múltiplas formas de violência que permeiam o ambiente escolar, com foco na agressão física e nas manifestações de violência na cultura digital. A partir das redes sociais, a violência se infiltra no cotidiano escolar, ampliando os conflitos e gerando novas formas de sofrimento, como a autolesão e a resistência às normas. Ao refletirmos sobre os desafios da contemporaneidade, é fundamental analisar o papel do professor diante desses conflitos, priorizando sua saúde emocional e bem-estar para garantir uma atuação eficaz. A palestra também abordará o papel do professor como mediador de conflitos, explorando estratégias e ferramentas que favorecem a criação de um ambiente escolar saudável, promovendo um clima seguro para todos, ao mesmo tempo em que apoia a saúde emocional dos docentes.
Painelista: Anderson Barcelos – Mestre e doutorando em Educação pela Ufrgs. Especialista em Orientação Educacional e Gestão Educacional pela Universidade La Salle (Unilasalle) e pós-graduado em Neurociência aplicada ao processo de aprendizagem pela Unisinos. Tem bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela PUCRS. Por diversos anos, atuou na educação básica, tendo exercido à docência nos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, além da função de orientador educacional, coordenador pedagógico e diretor escolar. Atualmente, atua como Especialista de Mediação e Relacionamento na Pró-Reitoria de Graduação e Educação Continuada (Prograd) da PUCRS e professor no ensino superior.

21/08
O bullying e as violências no espaço escolar
Ainda que o maltrato de uma criança a outra não seja algo novo, surge a pergunta sobre o aumento nos últimos anos de cenas de agressão e violência entre pares no espaço escolar, que, por vezes, levam ao extremo do homicídio ou do suicídio. Importa também questionar a razão pela qual essa prática se situa principalmente em crianças e adolescentes entre sete e 14 anos, tempo do final da infância e da passagem da puberdade. Quais pontos daquilo que não está organizado na cena familiar se expressam fora dela, através do bullying? Quais as diferentes formas de violência colocadas em jogo na prática do bullying? Através de conceitos psicanalíticos, busca-se refletir sobre como se situam as violências associadas ao bullying no espaço escolar, em nossa época, pensadas a partir da perspectiva de um sujeito e dos tempos de sua constituição.
Painelista: Gerson Smiech Pinho – Graduado em Psicologia, mestre e doutor em Psicologia Social e Institucional pela Ufrgs. É psicanalista, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa), onde coordena seminário e grupo de estudos no quadro de ensino, e do Centro Lydia Coriat de Porto Alegre. É professor de pós-graduação nos cursos de especialização em Problemas do Desenvolvimento na Infância e Adolescência e Estimulação Precoce desenvolvidos pelo Centro Lydia Coriat de Porto Alegre em parceria com diferentes faculdades do Brasil. Tem experiência clínica e docente, principalmente nos seguintes temas: psicanálise, epistemologia genética, clínica interdisciplinar com crianças e adolescentes, educação.

23/09
A violência revelada de forma sutil através da arte
A arte é uma linguagem expressiva e integrada que revela aspectos subjetivos vinculados ao mundo perceptivo. O educador ao explorar formas representativas através das materialidades artísticas, oportuniza espaço de contato e comunicação de campos sutis, nesse caso, a violência, vivenciados na infância e na adolescência.
Painelista: Rozi Ranzolin – Graduada em Licenciatura Belas Artes-Licenciatura/Plástica e Licenciatura em Belas Artes/ Desenho, ambos pela Universidade Feevale. Possui Especialização em Metodologia do Ensino Superior pela PUCRS e Tecnologias Digitais Aplicadas à Educação pela Ulbra. Mestre em Educação em Formação de Professores pela PUCRS, é professora de Artes Visuais e História da Arte do Colégio Americano. Atua nas disciplinas de Organização do Trabalho Pedagógico, Práticas Educativas e Práticas e Metodologias de Ensino e Aprendizagem, Práticas Educativas, História da Educação, Processos Investigativos de Educação e TICs nas modalidades Presencial e EaD na Ulbra. Desenvolve atividades artísticas no seu Atelier RessignificAndo com Arte Expressiva e Projetos de Inclusão.

23/10
Conversando sobre bullyingcyberbullying e a Lei 14.811/24
Segundo pesquisa do Instituto Ipsos, o Brasil é o segundo país que registra o maior número de casos de bullying e cyberbullying. A Lei 14.811/24 foi criada para frear essas condutas, disciplinando, orientando e punindo essas condutas discriminatórias. Como ela tipifica as condutas? Como os professores devem agir frente a essas condutas? A atividade visa orientar sobre a legislação aplicável, para maior segurança dos profissionais da educação no exercício de seu labor.
Painelista: Cristiaine Johann – Bacharel em Ciências jurídicas e sociais pela Unisinos, especialista em Direitos Humanos e Políticas Públicas e mestre em Educação pela mesma Universidade. Defensora Pública criou e coordena o projeto social da Associação das Defensoras e dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul (Adpergs) denominado Conversando sobre Direitos, Deveres, Democracia e Cidadania. É associada fundadora da Associação Nacional Defensoras e Defensores pela Democracia. Coordena a seção do RS da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos (ReBEDH/RS). É representante da Associação Mães e Pais pela Democracia no Conselho Estadual de Direitos Humanos do Estado do Rio Grande do Sul (CEDH-RS), onde atua na Comissão temática de Educação em Direitos Humanos.

 

FONTE:

https://www.extraclasse.org.br/educacao/2025/04/conversa-de-professor-especialistas-abordam-bullying-e-violencia-na-escola-em-seis-encontros-mensais/ 




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