Campanha repudia políticas antipedagógicas

Campanha repudia políticas antipedagógicas

Comitê SP da Rede da Campanha repudia políticas antipedagógicas da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

Em nota pública, Comitê SP critica a não adesão do governo do estado ao Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD) e exige a revogação de portaria que prevê que gestoras/es escolares deverão vigiar docentes em atividades pedagógicas

 

 

 

Nota Pública do Comitê SP em repúdio às políticas preocupantes
recém-divulgadas pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
 (PDF)

 

O Comitê São Paulo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação expressa publicamente o  repúdio à medida anunciada pela Secretaria da Educação do governo de São Paulo, liderada por  Renato Feder, que determina a não adesão ao Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD) do  Ministério da Educação para estudantes de ensinos Fundamental e Médio da rede estadual a partir  de 2024. Em vez disso, o governo planeja utilizar material próprio e digital. 

Os livros didáticos são uma das bases dos projetos pedagógicos das escolas e inspiram a  implementação do currículo nas redes educacionais, a partir de múltiplas formas de abordagens e  de acordo com as peculiaridades locais. Através do PNLD, os docentes das redes municipais e  estaduais selecionam os livros de catálogo amplo e variado em seguimento ao Guia do Programa  Nacional do Livro Didático (PNLD), e os recebem gratuitamente do governo federal. 

Ao abrir mão do recebimento de cerca de 10 milhões de reais em livros didáticos físicos a partir  do próximo ano, o governo de São Paulo parece negligenciar o direito constitucional das/os  estudantes de escolas públicas estaduais. A educação estadual deve estar alinhada ao Plano  Nacional de Educação e não ser sujeita à visão unilateral de um ente federativo. 

O PNLD, coordenado pelo Ministério da Educação, a despeito de eventuais necessidades de  ajustes, é uma das bases do acesso ao direito a uma educação nacional de qualidade. Cada governo  estadual pode complementar essa base, mas não se desvincular dela, pois corremos o risco de uma  ruptura constitucional federativa, uma vez que os livros didáticos são a base para avaliações  importantes, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que é a porta de entrada para a  universidade. 

O anúncio dessa medida, feito em 1º de agosto, foi recebido como um ataque à autonomia e à  pluralidade no desenvolvimento da educação estadual de São Paulo. Especialistas, pesquisadores/as, educadores/as, sindicalistas e movimentos sociais têm repudiado essa proposta. 

A proposta do governo Tarcísio prevê a adoção de material digital com suporte físico nas séries  iniciais de ensino, e entre o 6º e o 9º ano do ensino fundamental e ensino médio, 100% digital. No  entanto, essa decisão retira das/os professoras/es a autonomia de escolha dos livros do catálogo do  PNLD. É um desperdício de um recurso público enorme, desvaloriza a capacidade das/os  educadoras/es e elimina a possibilidade de trabalhar a diversidade, elemento essencial no processo  de ensino-aprendizagem. Essa imposição de pensamento único às professoras/es e estudantes da rede estadual contraria o que é garantido pela Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e Bases  da Educação (LDB). 

O acesso digital também levanta preocupações sobre a desigualdade e a segurança das/os  estudantes. Nem todas/os têm equipamentos com internet de qualidade, e muitos sequer possuem  aparelhos celulares. Tal medida amplia a segregação educacional.  

Em relatório recente divulgado pela UNESCO, há destaque para diversos riscos a serem considerados em relação à segurança dos estudantes e docentes nas redes. Esses riscos incluem o  uso excessivo de telas por jovens e a exposição a perigos online, como abusos, violações e  cyberbullying. A UNESCO recomenda que as tecnologias digitais sejam usadas como suporte no  ensino básico, não como aporte único e substitutivo de materiais didáticos, e que seu uso seja  cuidadoso para reduzir a exposição dos jovens a riscos online, como conteúdo impróprio,  informações falsas e múltiplas violências perpetradas nas redes. 

O uso excessivo de dispositivos digitais por crianças e adolescentes está associado a um pior  desempenho acadêmico e a aumento da instabilidade psicológica e emocional, conforme também  alertado no supracitado relatório. Além disso, é ressaltada a necessidade de avaliar os riscos  associados à transferência de dados dos estudantes e docentes, ao monitoramento de pessoas  cedido e possibilitado pela transmissão desses dados, e ao controle da estrutura educacional compartilhado com conglomerados privados de grandes empresas de tecnologia. 

O investimento público na educação deve ser direcionado à estruturação das escolas, materiais,  laboratórios, e à qualificação das/os professoras/es, levando em conta a diversidade regional. A  decisão unilateral do governo paulista, sem consulta pública à comunidade escolar, ao Conselho Estadual de Educação e ao Fórum Estadual de Educação, demonstra seu caráter impositivo e  antidemocrático, e ignora a realidade diversa das escolas do estado. Ainda, fortalece uma ideia de  que não precisa das entidades democráticas para a construção de políticas educacionais. 

Portanto, reforçamos nosso protesto contra essa medida antidemocrática, que desrespeita a  Constituição Federal e prejudica o processo de ensino-aprendizagem. Solicitamos às instâncias  competentes, como o Ministério Público do Estado de São Paulo, o Conselho Estadual de  Educação e o Supremo Tribunal de Justiça, que investiguem rigorosamente essa decisão e suas  consequências. A Educação Pública não pode ser comprometida em prol de interesses duvidosos. 

Além disso, o Comitê São Paulo manifesta veemente repúdio à medida adotada pelo Governador  do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, através do Secretário da Educação Renato Feder, por  meio da Portaria datada de 27/07/2023 e fundamentada no Decreto n° 64.187 de 17 de abril de  2019. Tal medida estabelece que as/os gestoras/es escolares deverão vigiar as/os professoras/es em  suas atividades pedagógicas, assistindo suas aulas e enviando relatórios periódicos. 

Para o Comitê SP, essa ação é totalmente antipedagógica e afronta os preceitos constitucionais e  da LDB que garantem a liberdade de cátedra. Essa medida remete aos piores momentos de nossa  história, nos quais professoras/es foram perseguidas/os e punidas/os em virtude de seus  pensamentos críticos ao regime autoritário. Tentativas de cercear a autonomia das/os  professoras/es, como o Projeto Escola Sem Partido, já foram rechaçadas pelo Supremo Tribunal  Federal pela sua inconstitucionalidade. 

É essencial destacar que um ambiente democrático e de liberdade de expressão é fundamental para  a constituição de uma sociedade verdadeiramente democrática. A educação é um espaço de  formação cidadã, onde o debate de ideias e a pluralidade de pensamentos devem ser incentivados  e protegidos.

Diante disso, exigimos a revogação imediata da referida portaria e o respeito à autonomia das/os  professoras/es no exercício de suas funções pedagógicas. A vigilância sobre as/os docentes é uma prática que não condiz com os princípios democráticos que norteiam uma educação de qualidade e comprometida com o desenvolvimento pleno das/os estudantes. 

Reforçamos nosso compromisso com uma educação inclusiva, plural e democrática, que respeite  os direitos fundamentais das/os educadoras/es e das/os educandas/os. Somente através do respeito à liberdade de expressão e ao pensamento crítico é que poderemos construir uma sociedade mais justa e igualitária. 


4 de Agosto de 2023 

Comitê São Paulo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação


(Foto: Ricardo Wolffenbüttel/Secom/Divulgação)

FONTE:

https://campanha.org.br/noticias/2023/08/07/comite-sp-da-rede-da-campanha-repudia-politicas-antipedagogicas-secretaria-de-educacao-do-estado-de-sao-paulo/ 




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