Carta em defesa da soberania nacional
Entidades lançam carta em defesa da soberania nacional nesta sexta
Ato reunirá centrais sindicais, movimentos sociais e juristas no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, Largo São Francisco, em São Paulo, às 11 horas desta sexta, 25 de julho
Por César Fraga / Publicado em 24 de julho de 2025

Material distribuído em ato em frente a Embraer, uma das empresas prejudicadas pelo tarifaço
Foto: Roosevelt Cassio/Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
O Comitê de Defesa da Soberania Nacional está convocando a população a participar de ato leitura pública da “Carta em Defesa da Soberania Nacional”, na próxima sexta-feira, 25 de julho, às 11h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, com concentração popular no Largo São Francisco, no centro de São Paulo.
O ato contará com a presença de entidades representativas de juízes, promotores, defensores de direitos humanos, sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Dezenas de organizações da sociedade civil também aderiram à iniciativa.
Segundo os organizadores do ato, o evento tem o objetivo de denunciar interferências do governo dos Estados Unidos nos assuntos internos do Brasil e prestar solidariedade ao Judiciário brasileiro e ao Ministério Público, que vêm sendo alvos de ataques do presidente norte-americano Donald Trump.
“O poder soberano é do povo brasileiro. Há mais de dois séculos conquistamos nossa independência e governamos o nosso destino. Como nação, nos expressamos democraticamente e nos subordinamos apenas à lei e à Constituição”, afirma o comitê no convite à população.
O documento que será lido no ato ressalta que “a soberania está sendo atacada de maneira vil e indecorosa” e conclama a sociedade civil a defender a cidadania, as instituições constitucionais e os interesses econômicos e sociais do país.
Entenda o contexto do ato público

Empregos ameaçados: manifestação dos metalúrgicos na Embraer em São José dos Campos, a segunda cidade do Brasil que mais exportou produtos para os Estados Unidos, em 2024, US$ 1,9 bi, em aeronaves e peças espaciais Foto: Cristiane Cunha/Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
O ato responde a recentes medidas hostis do governo Trump contra o Brasil. Em 9 de julho, o presidente dos EUA anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos norte-americanos, além da abertura de uma investigação comercial contra o país.
Na ocasião, Trump justificou as medidas alegando haver uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mencionou supostas “ordens de censura secretas e ilegais” do Supremo Tribunal Federal contra empresas americanas.
No dia 18 de julho, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou a revogação do visto do ministro do STF Alexandre de Moraes e de seus “aliados”, em novo gesto interpretado como interferência direta no sistema judiciário brasileiro.
A carta que será lida destaca os princípios da política externa brasileira, como a independência nacional, a prevalência dos direitos humanos, a não intervenção e a igualdade entre as nações. “A nação brasileira jamais abrirá mão de sua soberania, tão arduamente conquistada”, afirma o texto.
“Diálogo e negociação são normais nas relações diplomáticas. Violência e arbítrio, não. Nossa soberania é inegociável”, diz o documento. “Quando a nação é atacada, devemos deixar nossas diferenças políticas de lado para defender nosso maior patrimônio.”
Centrais sindicais e empresários se reuniram com Alckmin contra taxação dos EUA

lideranças da CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB e Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), além de empresários, se reuniram no dia 16 de julho com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin. Foto: Cadu Gomes / VPR
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, lideranças da Força Sindical, UGT, CTB, CSB e Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), além de empresários, se reuniram no dia 16 de julho com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin. O encontro teve como pauta a taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras, anunciada pelo governo de Donald Trump.
Durante a reunião, Sérgio Nobre ressaltou a importância da união para proteger a soberania nacional, os empregos e a indústria do país. “Diante dessa agressão à nossa soberania e da sabotagem ao desenvolvimento econômico do Brasil, a união do setor produtivo é fundamental para que o país possa evitar uma crise em que o maior prejudicado será o trabalhador”, afirmou.
Pelas redes sociais, Alckmin defendeu o diálogo como principal instrumento do governo federal. “A palavra de ordem é o diálogo, e o foco do governo do presidente Lula é a negociação com os EUA”, publicou.
As centrais sindicais entregaram um documento ao vice-presidente com seis propostas para preservar os empregos e garantir a soberania nacional diante da medida adotada pelos Estados Unidos. O documento foi assinado pelos presidentes das seis centrais: CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CSB.
Propostas das centrais sindicais:
1. Defesa da Produção Nacional
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Fortalecer medidas antidumping e salvaguardas comerciais.
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Ampliar os investimentos na Nova Indústria Brasil (NIB), com foco em inovação, sustentabilidade e encadeamento produtivo interno.
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Estimular a produção nacional por meio de compras públicas e política de conteúdo local.
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Reforçar investimentos em infraestrutura social e produtiva com vínculo à indústria nacional.
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Fortalecer o BNDES e os bancos públicos como indutores do investimento.
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Rever a Lei de Patentes para coibir abusos de propriedade intelectual.
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Ampliar investimentos públicos em pesquisa, desenvolvimento e tecnologias críticas (como semicondutores, IA, biotecnologia e hidrogênio verde).
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Reposicionar o Brasil em cadeias produtivas estratégicas no cenário internacional.
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2. Proteção do Emprego e da Renda
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Recriar o Programa de Proteção ao Emprego com fundos de compensação e programas de transição para trabalhadores afetados.
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Investir em qualificação e requalificação profissional, articulada a um sistema nacional de intermediação de mão de obra, com foco em setores estratégicos.
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3. Negociação Coletiva e Participação Sindical
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Fortalecer os sindicatos para garantir negociação coletiva nos setores afetados.
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Incluir cláusulas de proteção ao emprego nos acordos coletivos, alinhadas às diretrizes de políticas públicas de preservação de empregos.
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4. Institucionalização do Diálogo Social
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Criar espaços permanentes de concertação entre governo, trabalhadores e empresários, como o CDESS (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável) e o CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial).
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Incluir representantes dos trabalhadores na formulação das políticas industrial, cambial, comercial e tecnológica.
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Criar câmaras setoriais para alinhar estratégias específicas por setor.
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5. Transição Ecológica Justa e Inclusiva
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Implementar o plano nacional de transição ecológica com foco em justiça social e geração de empregos verdes e azuis.
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Estimular a economia circular, a agricultura regenerativa, o reflorestamento e a bioeconomia na Amazônia.
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Garantir que novas cadeias produtivas sustentáveis sejam internalizadas, gerando trabalho e valor no Brasil — não apenas exportação de matéria-prima.
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6. Nova Estratégia Comercial Externa
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Buscar novos mercados e estabelecer novas parcerias econômicas.
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Revisar acordos internacionais que enfraqueçam a indústria e os direitos trabalhistas.
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Fortalecer o Mercosul e a cooperação Sul-Sul.
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Transformar o Conex (Comitê Nacional de Exportadores) em um conselho tripartite com presença efetiva dos sindicatos industriais.
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Revisar a LETEC (Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum do Mercosul) com critérios técnicos voltados à reindustrialização nacional via NIB.
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LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA QUE SERÁ APRESENTADA NO ATO :
A soberania é o poder que um povo tem sobre si mesmo. Há mais de dois séculos o Brasil se tornou uma nação independente. Neste período, temos lutado para governar nosso próprio destino. Como nação, expressamos a nossa soberania democraticamente e em conformidade com nossa Constituição.
É assim que, diuturnamente, almejamos alcançar a cidadania plena, construir uma sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais e, ainda, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Nas relações internacionais, o Brasil rege-se pelos princípios da independência nacional, da prevalência dos direitos humanos, da não intervenção, assim como pelo princípio da igualdade entre as nações. É isso o que determina nossa Constituição.
Exigimos o mesmo respeito que dispensamos às demais nações. Repudiamos toda e qualquer forma de intervenção, intimidação ou admoestação, que busquem subordinar nossa liberdade como nação democrática. A nação brasileira jamais abrirá mão de sua soberania, tão arduamente conquistada. Mais do que isso: o Brasil sabe como defender sua soberania.
Nossa Constituição garante aos acusados o direito à ampla defesa. Os processos são julgados com base em provas e as decisões são necessariamente motivadas e públicas. Intromissões estranhas à ordem jurídica nacional são inadmissíveis.
Neste grave momento, em que a soberania nacional é atacada de maneira vil e indecorosa, a sociedade civil se mobiliza, mais uma vez, na defesa da cidadania, da integridade das instituições e dos interesses sociais e econômicos de todos os brasileiros.
Brasileiras e brasileiros, diálogo e negociação são normais nas relações diplomáticas, violência e arbítrio, não! Nossa soberania é inegociável. Quando a nação é atacada, devemos deixar nossas eventuais diferenças políticas, para defender nosso maior patrimônio. Sujeitar-se a esta coação externa significaria abrir mão da nossa própria soberania, pressuposto do Estado Democrático de Direito, e renunciar ao nosso projeto de nação.
Entidades que assinam a carta (até 24/7)
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Academia Paulista de Direito
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Associação dos Advogados de São Paulo (AASP)
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Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
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Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP
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Centro Acadêmico XI de Agosto (USP)
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Centro Acadêmico 22 de Agosto (PUC-SP)
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Colégio Brasileiro de Faculdades de Direito Públicas e Gratuitas
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Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos
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Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo
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Direitos Já! Fórum pela Democracia
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Fórum das Centrais Sindicais (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NSCT, CSB, Intersindical e Pública)
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Frente Brasil Popular
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Grupo Prerrogativas
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IBCCRIM – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
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Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP)
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Instituto Ethos
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Instituto Vladimir Herzog
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OAB-SP, OAB-MG, OAB-PR
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Professores da FGV pela Democracia
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Sindicato das Advogadas e Advogados de São Paulo
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Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
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União Nacional dos Estudantes (UNE)
FONTE: