Cidade em colapso
Cidade em colapso: a culpa não é das árvores, é da má gestão
Que nenhum prefeito, no futuro, precise solicitar à população doações de carros-pipas ou ambulâncias devido a privatizações irresponsáveis
Associação dos Técnicos de Nível Superior do Município de Porto Alegre (*)
Foto: Luiza Castro/Sul21
A Associação dos Técnicos de Nível Superior do Município de Porto Alegre (Astec) reafirma seu posicionamento sobre a necessidade de todos os serviços essenciais à população permanecerem sob controle público, geridos por técnicos capacitados e comprometidos com o interesse público. Diante do caos urbano provocado pelo último temporal, totalmente previsível, vimos a incapacidade de empresas privatizadas e terceirizadas para a resolução dos problemas de forma minimamente satisfatória. Em meio ao colapso, a cidade e os gestores ficam reféns de grupos privados sem a devida competência e um tanto desinteressados.
Empresas e gestores que privatizam e terceirizam serviços não assumem nem admitem sua responsabilidade, jogando a culpa nas árvores. As árvores não são culpadas. Vejamos o que aconteceu com a política de arborização nos últimos anos: o setor de Arborização Urbana da SMAM possuía cinco zonais constituídas por equipe técnica e equipes de serviço que atuavam regionalmente no planejamento, plantio, poda e remoção de árvores. Em 2017, as zonais foram extintas, os técnicos remanejados e as equipes de serviço desfeitas. Hoje, um número reduzido de técnicos atua basicamente no controle de contratos de empresas terceirizadas.
O apelo do prefeito Sebastião Melo para que a comunidade empreste ou doe motosserras ao município soa ridículo, visto que a própria administração, ao desmontar o setor de arborização, destruiu sua capacidade técnica e operacional de manutenção e de mitigação de danos. Atualmente, a atuação da Secretaria do Meio Ambiente é direcionada preferencialmente ao urbanismo, sendo a gestão do meio ambiente inexistente ou relegada a um plano inferior.
As privatizações e terceirizações da gestão dos serviços públicos em detrimento do fortalecimento do Poder Público gera a desvalorização dos servidores concursados, seja pelo arrocho salarial ou pela intervenção de cargos em comissão (CCs), e menospreza o caráter técnico, fazendo prevalecer o caráter político que prima pelo privado e não pelo coletivo.
A aventura desastrosa ocorrida com a venda da CEEE pelo governo estadual, resultando que boa parte da capital gaúcha permaneceu vários dias sem energia elétrica, comprova os malefícios da ideia privatista. Necessário lembrar que o processo de privatização da CEEE, que deixou milhares de pessoas às escuras e que prejudicou o fornecimento de água, contou com o voto favorável do atual prefeito, então deputado estadual Sebastião Melo.
A Astec reafirma que a intenção do prefeito Melo de privatizar ou conceder empresas e serviços como o DMAE a grupos empresariais trará malefícios à população e à cidade, visto que o planejamento visando ao lucro antecede o compromisso com o abastecimento.
A Astec conclama a sociedade a agir no sentido de evitar que casos de colapsos como o que acabamos de testemunhar se repitam em razão de irresponsabilidade de gestores que entregam serviços essenciais como energia, água, saúde e transporte ao mercado especulativo como fontes de lucro.
A culpa não é das árvores, é da má gestão. Precisamos redirecionar as gestões públicas para a correção do que não deu certo e evitar que os erros se repitam. E que nenhum prefeito, no futuro, precise solicitar à população empréstimos ou doações de carros-pipas ou ambulâncias devido a privatizações irresponsáveis. Roga-se que as decisões sejam embasadas em pareceres técnicos de profissionais qualificados como historicamente tem sido no município de Porto Alegre.
Porto Alegre, 23 de janeiro de 2024.
(*) Diretoria Executiva da Astec
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