Como despertar a vontade de aprender
Como despertar nos jovens a vontade genuína de aprender?
A verdadeira motivação é intrínseca, vem de dentro para fora, e é isso que os educadores precisam instigar nos alunos
Ana Maria Diniz 02 de maio de 2019
Pergunte a um jovem de 15, 16 anos, a razão de ele frequentar a escola e certamente ouvirá “por obrigação” ou “porque tenho que ir”. Agora, questione um adolescente dessa mesma faixa etária que abandonou os estudos sobre o que o levou a tomar tal decisão – bem provavelmente ele dirá “que faltava interesse, motivação”.
Já faz um bom tempo que pais e mães observam em seus filhos um fenômeno que desafia educadores e vem crescendo em número e relevância: com o passar dos anos, o entusiasmo e o engajamento da criança com a escola e com o aprendizado diminuem; nos anos finais do ciclo básico, eles despencam. Uma pesquisa do Instituto Gallup com alunos de 3 000 escolas públicas e privadas dos Estados Unidos dá uma dimensão da discrepância: entre os alunos que frequentavam o 5º ano, 74% se diziam entusiasmados com os estudos; entre os estudantes do Ensino Médio, apenas 32%.
Os anos finais do Fundamental marcam o início do chamado “precipício escolar”, fase em que os jovens estão mais desmotivados e desinteressados do que nunca em relação aos estudos e, portanto, mais propensos a ter um baixo rendimento escolar, a desistir do aprendizado e, por fim, a abandonar a escola. O problema é mundial, mas, no Brasil, esta é uma situação crítica. A ausência de motivação é o fator que mais impacta negativamente o desempenho dos estudantes brasileiros, sendo responsável pelo baixo rendimento de 29% dos alunos, segundo estudo da consultoria McKinsey. O desinteresse é a principal causa da evasão escolar no país: de acordo com a FGV, 45,1% dos jovens deixam a escola por essa razão.
Uma nova hipótese vem sendo sugerida por pesquisadores preocupados com a atratividade na Educação e ela se baseia na observação de que na maioria das escolas os estudantes são motivados a aprender somente por fatores extrínsecos, ou seja, que vêm de fora para dentro. Eles fazem a lição de casa porque professores mandam e estudam porque os pais querem. Podem também se motivar por um objetivo utilitário, como passar de ano. O problema é que a motivação condicionada a recompensas e fatores externos tende a perder força com o tempo, seja porque agradar os pais e os professores deixa de ter valor para o aluno, seja porque com o passar dos anos escolares as dificuldades aumentam e os estudantes não conseguem manter o bom desempenho de antes.
A verdadeira motivação é a intrínseca, aquela que vem de dentro para fora, e é essa motivação que os educadores precisam instigar nos alunos. Há maneiras comprovadas de ativá-la nos jovens dentro do ambiente escolar. Já se sabe, por exemplo, que os jovens se interessam e aprendem mais por meio da solução de problemas do mundo real; que eles se sentem mais motivados quando podem escolher o quê vão aprender e como vão aprender; e, por fim, que eles se sentem altamente motivados quando estabelecem seus próprios objetivos acadêmicos.
O que estamos esperando para levar esse conhecimento para dentro das escolas?
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