Ao longo dos últimos dois anos, a educação básica no Rio Grande do Sul registrou pequena melhora em todas as etapas, puxada pela melhor aprendizagem em português e matemática no Ensino Médio. No quadro geral, contudo, o ensino público e privado não ganhou força no ritmo esperado e está abaixo de todas as metas definidas pelo governo federal. Analistas veem o incremento com pequeno otimismo e destacam que há muitos desafios pela frente. 

Essas são as lições dos últimos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), referentes a 2019, divulgado nesta terça-feira (15) pelo Ministério da Educação (MEC). O Ideb é uma avaliação da qualidade da educação brasileira em notas que vão de zero a 10 e é divulgada a cada dois anos. O indicador leva em conta a aprovação ou evasão dos alunos e o seu desempenho em português e matemática medido pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)

Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação, ressalta que é a primeira vez que não há queda no Ideb registrado para o Ensino Médio em nenhum Estado, e destaca que Rio Grande do Sul, Goiás, Paraíba e Bahia tiveram aumento substantivo de 0,5 ponto. 

— Felizmente, há mais de foco e pragmatismo observados em inúmeros Estados nos últimos anos. O aumento de escolas de tempo integral e a obrigatoriedade de mil horas por ano, no mínimo, ajudam a explicar — diz Priscila, destacando que melhores resultados aparecem quando há atenção à aprendizagem, abordagem coerente entre as políticas, foco na profissionalização dos professores e da gestão escolar, melhoria na infraestrutura e aumento da oferta de escolas de tempo integral.

Como está o RS em comparação a outros Estados

Analistas destacam que o Ideb deve ser usado para comparar Estados consigo mesmos ao longo do tempo, e não entre si – cada um tem metas específicas a depender da realidade local, portanto, o indicador não permite dizer que uma região é melhor do que a outra. Levando-se isso em conta, o Rio Grande do Sul fica em oitavo lugar no Ensino Médio e nos anos iniciais do Fundamental e 12º nos últimos anos do Fundamental. 

Na comparação com o resto do país, o Rio Grande do Sul não é exemplo nacional, mas também não está na pior situação, observa Roberto Rafael Dias da Silva, professor da pós-graduação em Educação da Unisinos:

Há pequenos sinais de melhora, e a pequena melhora no Ensino Médio merece ser comemorada. Mas fica por aí

ROBERTO RAFAEL DIAS DA SILVA  Professor da pós-graduação em Educação da Unisinos

— Há pequenos sinais de melhora, e a pequena melhora no Ensino Médio merece ser comemorada. Mas fica por aí. Estamos em posição intermediária em comparação a outros Estados já há algum tempo. Não é diagnóstico de catástrofe, mas tem muito a ser feito — afirma Silva.

O Ideb não deve ser tomado como raio x da educação brasileira, mas indica cenário mais otimista para o ensino gaúcho, diz Natália de Lacerda Gil, professora de Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele cogita que a alta evasão possa ter contribuído para melhores notas em português e matemática.

— Uma hipótese forte é que perder alunos faz melhorar o desempenho, mas não dá para saber isso pelo Ideb. É possível que a pequena melhora se deva à ação dos professores e das famílias — diz Natália.

Como está o Ensino Médio

Um dos maiores desafios da educação brasileira é melhorar a qualidade do Ensino Médio e reduzir a evasão. No Estado, a etapa ficou estagnada entre 2005 e 2017, mas finalmente teve uma boa conquista: ganhou 0,5 pontos em 2019 e atingiu a nota 4,2 – aumento considerável, mas distante da meta de 5,3. A melhora foi puxada pelo desempenho em português e matemática – estudantes tiveram as melhores notas desde 2009. O índice de aprovação escolar é o melhor desde 2005, mas ainda se trata de um dos piores do Brasil.

Para o doutor em Educação e professor da Feevale Gabriel Grabowski, o Ensino Médio gaúcho oscila entre as mesmas notas há 15 anos, o que demonstra pouca evolução e alguns retrocessos ao longo desse período.

O Ensino Médio, tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul, é uma oscilação. Agora, de 2017 a 2019, ele cresce, mas não repõe totalmente perdas que teve no passado

GABRIEL GRABOWSKI - Doutor em Educação e professor da Feevale

— O Ensino Médio, tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul, é uma oscilação. Agora, de 2017 a 2019, ele cresce, mas não repõe totalmente perdas que teve no passado — define Grabowsky.

Estados que tiveram boa melhora, como Goiás e Espírito Santo, devem ser olhados com atenção por governantes, salienta Gregório Grisa, professor de políticas educacionais do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)

— Em Goiás e Espírito Santo, há uma política pública que faz acompanhamento avaliativo periódico de como está a aprendizagem dos estudantes. Goiás avalia a cada dois meses, por amostragem. Os dois Estados ainda têm currículos próprios para o Ensino Médio e calcaram materiais pedagógicos nesses currículos. Também há tutoria pedagógica para dar formação aos professores e analisar dados de aprendizagem. Isso não tem no Rio Grande do Sul, onde cada gestão quer começar do zero seu projeto — diz o pesquisador. 

Como anda a educação gaúcha nos anos iniciais do Fundamental (1º ao 5º ano)

É a etapa em que o Rio Grande do Sul tem o melhor desempenho. Houve melhora ao longo dos anos em níveis contínuos e, em 2019, quase atingimos a meta – ficamos com nota 6, sendo que o objetivo era 6,1. Ao comparar com o resto do país, o Rio Grande do Sul é um dos nove Estados onde o Ideb dos anos iniciais do Fundamental ultrapassou a nota 6, mas um dos poucos, ao lado de Amapá, Rio de Janeiro e Distrito Federal, que não atingiu as próprias metas. A maior parte das matrículas nessa etapa são em escolas municipais e, segundo pesquisadores, é quando pais ficam mais “em cima” da educação dos filhos e cobram escola e governantes. Também é uma época em que há apenas um professor e as disciplinas não são divididas. 

Como andam os anos finais do Fundamental (6º ao 9º ano)

A educação gaúcha começa a piorar a partir do 5º ano do Ensino Fundamental. Em 2019, a etapa teve uma melhora em comparação a 2017 e alcançou nota 4,8 – abaixo da meta de 5,6. Os resultados em português e matemática ficaram estagnados e o indicador de aprovação de série cresceu muito pouco. 

A diferença entre escolas particulares e estaduais

Escolas particulares têm desempenho melhor do que as estaduais, mas estão estagnadas, enquanto que a qualidade das públicas cresce mais rápido ao longo dos anos. O melhor desempenho das privadas é nos anos iniciais do Fundamental (Ideb de 7,5) e o pior, no Ensino Médio (6,1). Nenhuma meta foi atingida, seja para escolas públicas ou particulares.

O que diz o governo do Estado

O secretário Estadual da Educação, Faisal Karam, comemorou a melhora na aprendizagem do Rio Grande do Sul em todas as etapas e relembrou que os estudantes da rede estadual gaúcha tiveram o melhor desempenho do país no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)

Entre os motivos para a melhora, Karam cita a reorganização da rede desenhada pelo governo do Estado, que está identificando escolas com mais dificuldade em reter e aprovar alunos, e o esforço de professores. 

— Pela primeira vez dos últimos 15 anos, estamos melhorando na educação. Se não fosse o abandono e a reprovação escolar, o Rio Grande do Sul estaria entre os primeiros lugares do país. Começamos a avançar agora — pontua o secretário.

 

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