Cpers critica meritocracia
Cpers critica “meritocracia” e governador diz que 14º buscou valorizar “quem está na sala de aula”
Anúncio definiu salário a mais proporcional a metas atingidas, além de bonificações.
13/08/2025
O Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) criticou o programa anunciado pelo governador Eduardo Leite (PSD), nesta quarta-feira, que cria bonificações para servidores da educação e premiações para alunos a partir de metas relacionadas ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
O sindicato divulgou uma nota repudiando a “lógica meritocrática” do denominado Programa de Reconhecimento da Educação Gaúcha e entende que as bonificações criam distorções dentro da carreira da magistratura estadual.
“Eduardo Leite segue praticando uma política funcional que discrimina e exclui. A educação e a categoria são uma coisa só: não é admissível remuneração diferenciada, como se sucesso ou insucesso fossem resultado apenas de qualidades e ações individuais. Essa lógica não apenas ignora as condições reais de trabalho, como também tenta dividir a categoria”, diz o texto.
“Essa política desconsidera a realidade das escolas e joga sobre os ombros de professoras(es) e funcionárias(os) uma pressão desmedida, ignorando que a melhoria da educação exige investimentos estruturais, condições dignas de trabalho, redução da sobrecarga e apoio efetivo no ensino-aprendizagem — e não premiações pontuais e seletivas”, afirma também a nota, que está reproduzida em sua íntegra no final desta matéria.
Eduardo Leite estava preparado para críticas desta natureza. Durante o anúncio, defendeu avanços do seu governo, afirmou que qualquer aumento salarial repercutiria também aos aposentados e disse que tomou as decisões buscando valorizar os professores em atividade.
“O esforço financeiro que a gente faz aqui… tenho certeza que vai ter gente que vai dizer para colocar no salário. Acabaria ficando um terço com quem está em sala de aula e dois terços acabam sendo apropriados por quem já passou – que merece todo nosso respeito e gratidão, mas, se a gente quer fazer diferença na educação, a gente tem que fazer um esforço adicional com quem está em sala de aula construindo nosso futuro”, disse o governador.
“Temos cerca de 60 mil servidores atuando nas escolas. Temos mais de 110 mil aposentados e pensionistas. Tudo aquilo que a gente quiser repercutir no salário, acaba sendo dois para um. A gente respeita todo mundo que passou, mas a gente precisa colocar um esforço adicional com quem está hoje cuidando das nossas crianças”, declarou ainda Leite.
A argumentação do chefe do Poder Executivo gaúcho não foi suficiente para convencer o sindicato. “Somos contrários a essa divisão e vamos cobrar do governo para que qualquer aumento seja de forma linear. E sabemos que tem dinheiro para isso”, afirmou a presidente do Cpers, Rosane Zan, à reportagem.
“A gente sempre cobra a valorização salarial como um todo. Não adianta criar vantagens e méritos… ensino e aprendizagem precisam sim de auxílio, mas essa sobrecarga direta vai criar uma divisão nas escolas. Uns vão ganhar o 14º (salário) e outros não. Isso nós somos contrários”, disse.
Confira a íntegra da nota do Cpers
Metas e pressão não fazem educação de qualidade; valorização salarial, sim.
O CPERS repudia a lógica meritocrática anunciada pelo governador Eduardo Leite (PSD), nesta quarta-feira (13), por meio do chamado Programa de Reconhecimento da Educação Gaúcha. O projeto, apresentado com pompa no Teatro da Feevale, prevê um suposto “14º salário” apenas para quem atingir metas pré-estabelecidas pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc).
Eduardo Leite (PSD) segue praticando uma política funcional que discrimina e exclui. A educação e a categoria são uma coisa só: não é admissível remuneração diferenciada, como se sucesso ou insucesso fossem resultado apenas de qualidades e ações individuais. Essa lógica não apenas ignora as condições reais de trabalho, como também tenta dividir a categoria. Meritocracia é competição em vez de cooperação; é a negação do reconhecimento da classe; é individualizar aquilo que se conquista coletiva e socialmente.
E como fica a avaliação dos gestores da educação? São os mesmos que não conseguem manter escolas salubres e estruturadas, que não oferecem climatização, que erram até a data da maior comemoração histórica do Rio Grande do Sul, que criam “escolas-piloto” fadadas ao fracasso e as desativam na surdina para esconder seus erros. Ao mesmo tempo, obrigam as(os) educadoras(es) a jornadas extensas – pelos baixos salários – e intensas – pelo excesso de exigências e sobrecarga –, levando ao adoecimento e até à desistência da profissão.
Essa política desconsidera a realidade das escolas e joga sobre os ombros de professoras(es) e funcionárias(os) uma pressão desmedida, ignorando que a melhoria da educação exige investimentos estruturais, condições dignas de trabalho, redução da sobrecarga e apoio efetivo no ensino-aprendizagem – e não premiações pontuais e seletivas.
O CPERS reafirma: somos contra qualquer modelo de meritocracia na educação. O que queremos e precisamos é piso salarial cumprido integralmente, plano de carreira valorizado, investimentos permanentes e condições adequadas de trabalho. Não aceitaremos penduricalhos que não se incorporam ao salário, que não contam para aposentadoria e que desaparecem justamente na fase da vida em que mais necessitamos de renda para enfrentar o desgaste da saúde.
A verdadeira valorização da educação não se constrói com bônus que mascaram a falta de investimento estrutural, mas com respeito à nossa profissão, garantia de direitos e políticas que beneficiem toda a rede escolar – não apenas quem consegue cumprir metas muitas vezes desconectadas da realidade das comunidades e que, mais uma vez, divide a categoria para distribuir prêmios pontuais sem atacar os verdadeiros males da educação gaúcha.
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