Crescimento do trabalho informal

Crescimento do trabalho informal

Síntese do IBGE mostra crescimento do trabalho informal

Serviços domésticos, agropecuária e construção civil concentram maioria dos trabalhadores com baixa escolaridade e sem vínculo trabalhista em 2019

Por Gilson Camargo / Publicado em 12 de novembro de 2020

Mutirão de emprego promovido pelos comerciários de São Paulo: o país que se rendeu à ilusão do “empreendedorismo” e do mercado mínimo já tem mais de 13 milhões de desempregados e quatro a cada dez trabalham por conta própria

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Foto: Sindicato dos Comerciários/SP

 

Os últimos seis anos foram marcados pela destruição dos postos de trabalho formais e dos direitos trabalhistas no país, que ocorreram de forma mais acentuada a partir de 2017, com a vigência da reforma trabalhista e o início da escalada de desemprego. Em 2019, a informalidade no mercado de trabalho atingia 41,6% dos trabalhadores, ou 39,3 milhões de pessoas. Esse é o maior patamar de informalidade desde o início da derrocada da economia, em 2016. “O trabalho informal é ruim para todo mundo porque interfere na condição de vida de quem está na informalidade, no padrão civilizatório, no padrão de consumo do trabalhador informal, e produz um efeito em cadeia, além de afetar a produtividade da economia”, afirma o economista, professor da Escola Dieese de Ciências do Trabalho e técnico do Dieese, Altair Garcia – leia entrevista.

Para o economista do Dieese-SP, César Augusto Andaku, a informalidade tende a ser maior em 2020. “Acredito que a tendência é de aumento da informalidade, pois teve redução muito forte da ocupação, inclusive com carteira assinada, durante a pandemia. É difícil prever o que vai acontecer com o emprego com carteira assinada na atual conjuntura, então a informalidade é sempre uma saída mais rápida, embora mais precária, para as pessoas que não têm trabalho”, avalia.

Entre pessoas ocupadas sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto, a proporção de informais era de 62,4%, mas de apenas 21,9% entre aquelas com ensino superior completo. As informações constam da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada nesta quinta-feira, 12, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A população preta ou parda (47,4%) estava mais inserida em ocupações informais em todas as unidades da Federação, quando comparada à população branca (34,5%), de acordo com o levantamento.

As atividades que mais concentraram pessoas em ocupações informais, no ano passado, foram serviços domésticos (72,5%), agropecuária (67,2%) e construção (64,5%).

Segundo o IBGE, desde 2014, em decorrência do desaquecimento do mercado de trabalho, houve ampliação relativa das ocupações informais, com destaque para transporte, armazenagem e correio, alojamento e alimentação e construção.

Em 2019, a proporção de trabalhadores em ocupações informais alcançou 61,6% na Região Norte e 56,9% no Nordeste. Por outro lado, as regiões Sudeste e Sul, apresentaram proporções de, respectivamente, 34,9% e 29,1%.

Quase um terço dos trabalhadores desocupados

Informalidade virou opção diante do desemprego crescente, apesar da precariedade do trabalho sem vínculo, diz César, do Dieese

Informalidade virou opção diante do desemprego crescente, apesar da precariedade do trabalho sem vínculo, diz César, do Dieese

Foto: Dieese-SP/ Divulgação

 

Entre 2018 e 2019, a taxa de desocupação caiu de 12% para 11,7%. A pesquisa mostra, porém, que a proporção dos desocupados há pelo menos dois anos subiu de 23,5% em 2017 para 27,5% em 2019.

A taxa de desocupação da população preta ou parda (13,6%) era maior do que a da população branca (9,2%), ainda que tivessem o mesmo nível escolar: entre aqueles com ensino fundamental completo ou médio incompleto, essa taxa era de 13,7% para brancos e de 18,4% para pretos e pardos.

Em 2019, a população ocupada de cor ou raça branca ganhava, em média, 69,3% mais do que a preta ou parda, e o rendimento dos homens era 12,7% maior que o das mulheres, considerando-se o mesmo número de horas trabalhadas.

No ano passado, a população subocupada alcançou a maior proporção na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, chegando a 7,6% da população ocupada. Entre as pessoas ocupadas, aquelas que trabalham menos que 40 horas semanais, querem e estão disponíveis para trabalhar mais horas são denominadas subocupadas por insuficiência de hora.

Trabalho intermitente

A reforma trabalhista regulamentada pela Lei n. 13.467 de 2017 introduziu a modalidade de contratação intermitente, formalizando um tipo de ocupação em que o trabalhador é contratado com carteira assinada, mas sem a garantia de um mínimo de horas de trabalho, sendo chamado para o desempenho da atividade laboral de acordo com a necessidade do empregador.

Em 2018, mais de 71 mil contratações ocorreram pela forma intermitente no país, representando 0,5% das admissões com carteira assinada. Em 2019, foram mais de 155 mil contratações dessa forma intermitente, ou 1% das admissões com carteira.

“Em todas as grandes regiões, houve aumento no número de admissões por contrato intermitente nesse período. Assim, apesar de representarem números relativamente pequenos sobre o total das admissões, o crescimento apresentado em apenas um ano é digno de atenção e monitoramento”, diz o IBGE.

Desigualdade de renda é maior na região Sul

O índice de Gini (0,543) caiu em relação a 2018 (0,545), mas ficou superior a 2015, ano que teve o indicador mais baixo da série, com 0,524. O país é o nono mais desigual do mundo segundo o Banco Mundial. O índice é usado para medir a desigualdade social, em que zero corresponde a uma completa igualdade na renda e 1 corresponde a uma completa desigualdade.

A Região Sul é a que tem a menor desigualdade de renda, com 0,467. O Nordeste teve a maior desigualdade, com 0,559, e aumentou em relação a 2018, enquanto as outras regiões tiveram queda em comparação ao ano anterior.

Em 2019, a parcela de 10% de pessoas com menores rendimentos domiciliares per capita recebia 0,8% do total da renda do país. À metade da população brasileira correspondiam 15,6% dos rendimentos observados, cabendo aos 10% com maiores rendimentos 42,9% do total da renda.

Os 10% com maiores rendimentos são compostos por 70,6% da população branca. Os 10% com menores rendimentos são compostos por 77% da população preta ou parda.

Entre os 10% com menores rendimentos, o rendimento domiciliar per capita médio em 2019 foi de R$ 112. Entre os 10% com maiores rendimentos, o rendimento domiciliar per capita médio no ano passado foi de R$ 3.443.

Pobreza extrema e recorte de gênero

De 2018 para 2019, a pobreza (rendimento domiciliar per capita até R$ 436) caiu de 25,3% para 24,7% das pessoas. Já a extrema pobreza (rendimento domiciliar per capita até R$ 151) se manteve em 6,5% da população, em 2018 e em 2019, afetando mais da metade dos nordestinos e 39,8% das mulheres pretas ou pardas. Entre 2012 e 2019, houve aumento de 13,5% na extrema pobreza.

Segundo a analista do IBGE Barbara Soares, o país tem bolsões de extrema pobreza que não conseguem acessar as instituições para solicitar benefícios sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

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https://www.extraclasse.org.br/economia/2020/11/sintese-do-ibge-mostra-crescimento-do-trabalho-informal/?fbclid=IwAR2plTyXKcbI86Ew4gfEKS6DJqW5p6n_Hdctplka7ouN4vrqmS8JghRlqEo 




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