Déficit de mais de 600 professores
Pesquisa do Cpers aponta déficit de mais de 600 professores na rede estadual do RS
Levantamento aponta uma série de problemas nas escolas e sindicato diz que governador 'insiste em vender uma falsa realidade'

tem afetado a categoria. Foto: Divulgação/Cpers
O Cpers Sindicato divulgou, nesta segunda-feira (7), os resultados da pesquisa intitulada Radar, com o objetivo de fazer um levantamento sobre a realidade das escolas da rede estadual do Rio Grande do Sul. A pesquisa foi realizada entre os dias 27 de fevereiro e 20 de março deste ano, por meio de formulário respondido pelas escolas, além de visitas in loco durante a Caravana que percorreu os 42 núcleos do sindicato, entre os dias 11 de março e 4 de abril.
As respostas coletadas, destaca o Cpers, “evidenciam um quadro de precariedade que contrasta diretamente com a narrativa oficial do governo Eduardo Leite (PSDB)”. O levantamento revela, por exemplo, a falta de ao menos 1.634 profissionais nas escolas estaduais, entre professores (660 profissionais), funcionárias (544) e especialistas (43).
Entre as disciplinas com maior déficit de docentes, Inglês lidera a lista, com 58 vagas em aberto, seguida por Matemática (45), Educação Física (34) e Língua Portuguesa (27). Há também falta de professores em Artes (22), Física (18), Geografia (18), Ciências (15), História (15), Biologia (14) e Espanhol (11).
Na avaliação da presidente do Cpers, Rosane Zan, à falta de concurso público nos últimos anos se soma o desinteresse dos jovens em seguir a carreira docente na rede estadual de ensino. “Estamos num processo, cada vez maior, das pessoas não quererem mais ser professores e funcionários de escola”, lamenta.
Os problemas estruturais são outro ponto levantado na pesquisa. Das 886 respostas recebidas pelo Cpers, 472 relataram problemas estruturais graves. Os mais recorrentes se referem à rede elétrica comprometida, telhados danificados, infiltrações, problemas hidráulicos, obras atrasadas e muro em risco de desabamento. A falta de capacidade da rede elétrica em suportar o uso de equipamentos eletrônicos também foi citada em 282 respostas, enquanto 143 disseram que suporta parcialmente. E houve ainda 274 escolas que relataram possuir obras iniciadas e nunca finalizadas.
O levantamento do Cpers questionou as escolas estaduais sobre a estrutura adequada para lidar com o cenário das ondas de calor, fenômeno cada vez mais frequentes no Rio Grande do Sul no contexto da mudança climática do mundo.
Quando questionadas se, em dias de calor extremo, é possível manter as aulas de forma adequada, 388 escolas responderam que não. Com relação às condições de climatização, 117 escolas disseram não ter ventilador e outras 143 informaram ter em alguns espaços da instituição. No mesmo sentido, 242 escolas responderam não ter ar-condicionado e 92 têm apenas em alguns espaços.
Somado aos problemas estruturais relatados, muitos já antigos e conhecidos, a presidente do Cpers, Rosane Zan, diz que um dos temas que mais chamou a atenção na pesquisa foi a sobrecarga de trabalho e o adoecimento dos profissionais da educação. A questão financeira, historicamente um ponto de preocupação da categoria, continua sendo, ela pondera, mas agora acrescida de uma “certa apatia no chão da escola”.
Rosane avalia que tal sentimento se relaciona com mudanças no processo de aprendizagem, chamado de “plataformização”, que inclusive dificultariam que o professor prepare uma boa aula. Atualmente, diz ela, o trabalho do professor está mais relacionado a preencher planilhas de metas e isso tem sido fator de sobrecarga e adoecimento. “Cada vez mais, o mercado está aproveitando o espaço da escola para ganhar dinheiro. A escola não é mais a mesma”, afirma, citando mudanças nos espaços de acolhimento e no próprio ensino-aprendizagem. Ela lembra que quando ouvia falar em privatização e mercantilização do ensino, achava que isso era algo muito distante da realidade gaúcha.
Ao divulgar os resultados da pesquisa, o Cpers critica a posição do governo de Eduardo Leite (PSDB) que, de acordo com o sindicato, “insiste em vender uma falsa realidade, ignorando as dificuldades enfrentadas no dia a dia das escolas estaduais”. “O Radar do Cpers comprova que a educação pública gaúcha está abandonada, enquanto professoras(es), funcionárias(os) e especialistas lidam com salários defasados, descontos abusivos, sobrecarga de trabalho e a constante ameaça das Parcerias Público-Privadas (PPPs), que representam um passo rumo à privatização da educação pública.”
Procurada, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) afirmou que o governo do Estado investiu mais de R$ 180 milhões para a retomada das mais de 600 escolas estaduais danificadas nas enchentes de maio do ano passado.
Sobre a falta de recurso humanos, a Seduc afirma que realiza monitoramento diário junto às Coordenadorias Regionais de Educação para o atendimento das demandas das instituições de ensino. “Para que a reposição de profissionais possa ser realizada com a maior rapidez possível, a secretaria constitui periodicamente editais de contratação temporária, de modo a resolver necessidades emergenciais como no caso de aposentadorias e exonerações”, diz a pasta.
A secretaria diz ainda que, durante a preparação para o início do ano letivo, foi solicitado às escolas da rede estadual a manifestação sobre necessidades de RH para o início das aulas, com o objetivo de minimizar os prazos para o preenchimento de vagas abertas.
Já a respeito de obras nas escolas, a Seduc afirma que, no atual mandato do governador, houve a conclusão de 393 obras em 351 escolas, totalizando R$ 117,2 milhões investidos. “Nos últimos anos, houve um significativo crescimento nos valores destinados às melhorias na infraestrutura da rede escolar. A média de valores investidos passou de R$ 18 milhões de 2018 a 2022 para R$ 47 milhões entre 2023 e 2024”.
Sobre os atendimentos de manutenção das escolas, a secretaria destaca a contratação simplificada pela Secretaria de Obras Públicas (SOP). “Nesse sistema, as licitações são feitas por lotes, conforme a área de abrangência das Coordenadorias Regionais de Obras Públicas (Crops). Não é preciso fazer uma licitação para cada reforma. Basta acionar a empresa pré-contratada responsável pelo lote que a escola integra e demandar o serviço em um ‘catálogo’ à disposição da SOP, com prazos muito menores em relação aos processos anteriores”. O governo estadual diz que, com o novo modelo, o tempo entre a solicitação da demanda e o início dos trabalhos caiu de mais de mil dias em 2019 para aproximadamente 90 em 2024.
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