Depois do dia 15
Depois do dia 15
É humilhante pensar que aquele que ensina não ganha o suficiente apenas para ensinar
15/10/2023 FABRÍCIO CARPINEJAR
Você já imaginou a extinção da sala de aula?
Tudo passa pela alfabetização. Não haverá inteligência artificial para substituir o valor presencial do testemunho.
Um estudo divulgado pelo Sesi-RS na terça-feira (10) prevê um “apagão” de professores no Rio Grande do Sul. As universidades estão reduzindo as vagas ou fechando cursos de licenciatura, assim como vem caindo drasticamente o número de alunos.
Não se trata de alarmismo, vivemos um apocalipse do descrédito da função mais poderosa da cadeia do conhecimento.
O Rio Grande do Sul amargará um déficit de 10 mil professores na Educação Básica em 2040. Daqui a 17 anos, a pesquisa estimou que o Estado terá 83.783 docentes em atividade, quando seriam necessários 94.137 professores.
No país, segundo um levantamento do Semesp, a carência de professores em todas as etapas da Educação Básica poderá chegar a 235 mil.
Entre os principais motivos encontram-se a ausência de reconhecimento, o vencimento inadequado, a violência nas escolas, o contexto insalubre de trabalho, a escassez de equipamentos.
Sem um plano rigoroso e atraente de carreira, não temos como reverter o quadro.
Dói cada centavo, cada real do contracheque do educador.
Não é sério um país em que professores devem realizar bicos para garantir a sua sobrevivência.
Não é sério um país em que a exclusividade não cobre as despesas do mês.
Não é sério um país em que elogiamos a vocação, mas não oferecemos condições para que ela se concretize.
Não é sério um país em que o professor precisa tirar do seu bolso o custeio de materiais para o seu conteúdo, pois unicamente ele é cobrado pela sua atuação e pressionado por resultados, mais ninguém. Sempre dá um jeito sozinho para sua aula ser agradável.
Não é sério um país em que os professores devem ratear as despesas do café para o intervalo do recreio.
Não é sério um país em que festas nas datas comemorativas para a comunidade dependem de rifas e vaquinhas online.
Não é sério um país em que você tem que levar papel higiênico na bolsa ou na mochila para a escola, já que nunca haverá no banheiro.
É humilhante pensar que aquele que ensina não ganha o suficiente apenas para ensinar.
É explorado em nome do amor. É subestimado em nome do seu carinho pela profissão.
Obrigam-no a aceitar a precariedade sob alegação de que ele ensina por prazer, por alegria. É tradicionalmente abusado emocionalmente.
Tenha em mente os professores que moldaram sua trajetória e seu caráter. Se você tem sucesso hoje, é responsabilidade deles. Não seria justo uma remuneração compatível com a sua prosperidade?
Faltará professor no futuro enquanto faltar vergonha na nossa cara no presente.
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