Desabafo de uma professora

Desabafo de uma professora

Desabafo de uma professora da rede estadual

por Juremir Machado da Silva

Desabafo de uma professora da rede estadualFoto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Não tenho a menor dúvida de que os professores são os verdadeiros heróis do cotidiano, aqueles que fazem gols incríveis sem correr para o abraço nem ter replay e horas infindáveis de comentários na televisão e nas redes sociais. São eles que ajudam alguém a abrir caminho na vida e a pegar o elevador profissional, sem bets nem promessas falsas de enriquecimento milagroso, sem trabalho, nem estudo.

Nestes tempos em que jovens começam a acreditar na falsa possibilidade de enriquecer sem trabalhar, ganhando fortunas fáceis na internet, ser professor é ser de tudo um pouco: de pai e mãe substitutos, a mestre, conselheiro, psicólogo, consultor, mentor, líder, amigo e aquele que ajuda a sonhar sem ignorar a realidade.

Como são muitos, ganham pouco. Nas redes públicas há sempre a alegação de que falta dinheiro para mais. O magistério nunca é prioridade. O que dá o magistério à sociedade? Tudo. O que recebe em retorno? Pouco. O que se está fazendo para que, de fato, a situação dos professores da rede estadual do Rio Grande do Sul melhore? Nada.

O governo de Eduardo Leite é adepto da ideologia tecnicista. Faz de conta que a política pode ser resolvida por técnicos. Como só pensa em resultados para figurar em estatísticas marqueteiras, aposta em premiações individuais para alunos e professores como modo de superar problemas complexos coletivos. Como diz aquela música, “não vai a lugar nenhum”. Não vai, não leva e não deixa ir. Fica no simulacro.

Há depoimentos que dizem tudo isso em poucas linhas com a força dos sentimentos e da experiência, o poder do vivido e do concreto. Recebi este desabafo da professora de química da rede estadual, em Osório, Marina Mota, que autorizou a citação do seu nome:

“A pressão para garantir a aprovação de todos os alunos se intensificou. O direcionamento da coordenação é que todos os estudantes abaixo da média sejam recuperados, o que aumenta a responsabilidade sobre nós, educadores. Essa situação gera uma grande angústia, pois nos coloca em um dilema. Somos cobrados independentemente da abordagem que escolhemos para avaliar. Se elaboramos uma prova mais abrangente, somos questionados por não termos abordado o conteúdo de forma suficiente em sala. Se, por outro lado, criamos uma avaliação mais acessível, somos criticados por sua brevidade. Acredito que muitos de nós compartilhamos essa sensação de estarmos em uma encruzilhada, tentando equilibrar as exigências externas com a nossa prática pedagógica. Essa pressão constante, que não oferece uma solução clara, tem sido desafiadora e frustrante. Desculpa o desabafo colegas, mas é assim que estou me sentindo”.

Enquanto isso, em Porto Alegre, vereadores aprovaram, sob o pretexto da segurança das crianças, a espionagem da sala de aula: câmeras com áudio para controlar o que dizem os professores. É mais um delírio da “escola sem partido”, que partidariza a pedagogia e, sendo uma perspectiva ideológica extremista, vê-se curiosamente como neutra.

Se correr o fim do mês pega; se ficar, o tecnicismo come.




ONLINE
38