Dia da Consciência Negra

Dia da Consciência Negra

Dia da Consciência Negra: entre conquistas e feridas abertas

 

 

O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro porque marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do Brasil e símbolo da resistência contra a escravidão. A data homenageia não apenas Zumbi, mas toda a luta do povo negro contra o racismo e a opressão, além de celebrar a cultura afro-brasileira e a conscientização sobre a igualdade racial.

O 20 de Novembro, feriado nacional pelo segundo ano consecutivo, é um momento emblemático para o Brasil olhar para si. É um dia para celebrar conquistas históricas e, ao mesmo tempo, encarar feridas que ainda não cicatrizaram. A Lei de Cotas, a obrigatoriedade da história e da cultura afro-brasileira no currículo e o reconhecimento crescente de artistas, intelectuais e lideranças negras em espaços antes inacessíveis mostram que mudanças concretas acontecem e transformam vidas.

Mas avançar não significa ter chegado. O país que celebra essas vitórias é o mesmo onde um em cada três negros já sofreu discriminação no comércio, quase sempre silenciosa, que não aparece no boletim policial, mas marca corpo e alma. É o mesmo Brasil onde trabalhadores negros recebem, em média, 40% menos que seus pares brancos. Onde as mulheres, mais de 35% das candidatas nas eleições de 2024, conquistaram apenas 18% das vagas e, mesmo entre essas poucas eleitas, 40% são negras que enfrentam barreiras acumuladas por ser mulher e pela cor.

É também o país onde, apesar de milhares de estudantes negros terem ingressado no ensino superior pela Lei de Cotas, o racismo estrutural ainda distribui oportunidades de forma desigual e limita destinos. Esses números revelam um presente arraigado ao passado escravocrata.

É impossível olhar para tudo isso sem lembrar que a imagem do navio negreiro não ficou ancorada no século XIX. A metáfora ainda veleja. Castro Alves enxergou, no convés daquele brigue infame, uma fatalidade que “esmaga a mente”. Hoje, ela não se apresenta com correntes de ferro, mas com estatísticas que escancaram o peso da opressão. O mar mudou, mas o mecanismo não.

“Mas é infâmia demais!… Da etérea plaga / Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!”

O eco não é apenas literário, é político. A cada conquista surge a tentativa de retrocesso. A cada avanço legislativo reaparece a negação da negritude. A cada política pública ergue-se algum discurso que tenta dissolver sua importância. A lógica de casa grande e senzala ainda estrutura privilégios e cria gargalos. A travessia histórica não terminou.

Mas forças de resistência se erguem e mantêm o barco da liberdade à tona. A presença de Conceição Evaristo, uma das vozes mais importantes da literatura brasileira contemporânea, e a entrada de Ana Maria Gonçalves na Academia Brasileira de Letras não são conquistas individuais. São rachaduras profundas nas paredes de uma casa construída para não recebê-las. Elas lembram que a luta negra não se limita aos dados, produz obra, funda memória, contesta o cânone e amplia horizontes.

Para a Contee, a defesa de uma educação antirracista não é uma agenda lateral, mas a base de um projeto civilizatório. É o antídoto contra o apagamento, a violência estrutural e a repetição de abismos históricos. É na sala de aula, nos sindicatos, nas políticas públicas e na formação de educadores que se constrói o país que desejamos.

É verdade que o racismo estrutural ainda persiste, mas cada ação afirmativa, cada currículo revisado e cada educador engajado demonstra que é possível construir escolas mais justas, inclusivas e transformadoras.

O 20 de Novembro é um marco basilar. Ele mostra o quanto já navegamos e o quanto ainda carregamos dos estilhaços do porão. Celebra as conquistas, mas não nos permite esquecer que a travessia continua.

O Brasil ainda veleja entre luzes e sombras, e a luta negra conduz o barco da esperança sem abandonar o remo. Navega nas águas de Zumbi, buscando políticas, consciência e coragem para que o futuro seja de justiça, igualdade e oportunidades.

Que esta luta continue firme e incessante, como vento nas velas, abrindo caminhos onde antes só havia correntes.

Da Redação Contee

FONTE:

https://contee.org.br/dia-da-consciencia-negra-entre-conquistas-e-feridas-abertas/




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