Dificuldades no ensino público
Educação na pandemia: professores apontam as dificuldades no ensino público
O ensino à distância teve baixa adesão dos alunos por diversos motivos
QUARTA-FEIRA, 08 DE JULHO DE 2020
POR JORNAL A VOZ DA SERRA
(Foto: USP Imagens)
Após mais de 100 dias de suspensão das aulas presenciais em todo o país para conter a pandemia do coronavírus, as secretarias estaduais de Educação apontam que apenas 15 dos 25 estados brasileiros que implantaram atividades à distância monitoram a adesão dos estudantes ao ensino remoto. Os índices também mostram que as aulas on-line não são acompanhadas por todos os alunos.
"Monitorar o acesso às plataformas é muito importante. Quanto mais rápido você souber quem acessa as aulas e o que estão aprendendo, melhor será a adaptação do ensino" RICARDO HENRIQUES, EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E ALFABETIZAÇÃO DO MEC
Fica cada vez mais evidente que, apesar dos esforços das redes, parte dos estudantes não consegue ter acesso à educação por esse sistema. As razões são várias – e incluem falta de estrutura em casa, de computadores ou de conexão. A alternativa para os alunos é recorrer às atividades impressas ou à transmissão por outras mídias, como TV aberta ou via rádio. Nesses casos, também é difícil mensurar quantos estudantes estão efetivamente assistindo ao conteúdo.
A professora Priscila Vieira, de Goiás, por exemplo, também precisou se adaptar. “Tive de passar meu celular privado para os alunos tirarem dúvidas. A educação também se dá por afeto. Então, nesse período, fica mais difícil. Estamos tendo de aprender diariamente como dar a aula à distância. A gente está se reinventando”, ressaltou.
Quase quatro meses após a suspensão das aulas presenciais, um levantamento realizado pelo portal de notícias G1 apontou que: 25 estados e o DF implantaram aulas remotas, entre eles o Rio de Janeiro; na Bahia, não há aulas on-line, mas, sim, roteiros de estudo; no Piauí, apenas 9% dos alunos da rede estadual de ensino assistem às aulas pela internet – 91% estão fora das plataformas on-line de educação; em Roraima e São Paulo, mais da metade dos alunos não têm acesso aos conteúdos pelas plataformas digitais; em cinco estados, o ensino on-line não chega a cerca de 25% dos estudantes e em sete estados, o ensino on-line não chega a até 15%.
Os dados pesquisados acendem o alerta quando se observa que a maioria dos estados vai adotar as aulas remotas como equivalentes às aulas presenciais. Na prática, isso quer dizer que as "horas de tela" vão contar como tempo em sala de aula no ano letivo. A medida está autorizada pelo Ministério da Educação (MEC) desde o início de junho. Ainda assim, mesmo nos estados que declaram ter aulas remotas, nem sempre elas são ofertadas a todos ou estão acessíveis desde o fechamento das escolas.
Em Sergipe, por exemplo, essa modalidade foi implementada em 15 de junho; no Tocantins, em 29 de junho, mas somente para os estudantes do terceiro ano do ensino médio. No Rio Grande do Sul, as escolas da rede estadual estavam adotando o ensino remoto cada uma ao seu modo e, agora, o governo pretende unificar as iniciativas.
Já no Maranhão, 24% das escolas não têm atividades remotas. Entre os alunos das escolas com esse tipo de ensino, 21% não tinham acesso ao conteúdo. Lá, os alunos ainda não são avaliados, o que só deve ocorrer no retorno das aulas presenciais, segundo o governo.
Para o professor de história e filosofia de São Paulo, Álvaro Dias, à medida que o número de alunos que assistem às aulas cai, a escola deixa cada vez mais de cumprir seu papel, e o ensino a distância se mostra cada vez menos inclusivo. "Desde o começo do isolamento social e com o ensino remoto, a experiência do ensino à distância não conseguiu alcançar os resultados esperados e percebe-se um esvaziamento no processo. Seja pela falta de estrutura, pela falta de planejamento e de investimentos adequados em inovação tecnológica ou pelo excesso de atividades e conteúdos propostos. Os alunos têm demonstrando há um bom tempo desânimo, desinteresse, reduzindo drasticamente a participação nas plataformas do ensino remoto”, disse. (Fonte: site G1)