Ditadura deixou país falido

Ditadura deixou país falido

DITADURA DEIXOU O PAÍS FALIDO

Fim do governo militar teve inflação galopante, dívida externa impagável, concentração de renda e salários estagnados

Marco Miguel, 14/04/2025

Delfim Netto em reunião com equipe econômica - Foto: Arquivo Nacional

 

Eu já cansei de ouvir de todo tipo de pessoa a frase “No tempo da ditadura era melhor”, para na sequência, ouvir as justificativas de que “havia mais respeito”, “havia mais segurança”. Mas, quando pergunto sobre economia, os ombros dizem que não sabem ou a memória não se lembra. Pois é. Parece que a anistia além de política, foi econômica. Os militares entregaram um país falido.

Crise econômica, contexto internacional, cenário político interno. A democracia seria um sonho se o governo dos militares não estivesse tão enfraquecido. Nem o medo dos comunistas emocionava mais. Fica para uma outra vez descobrir por que ficou tatuado no imaginário o milagre econômico ao invés do salto dívida externa, o arrocho, os empréstimos no FMI e a inflação galopante. A gente lembra da inflação do Sarney, os planos econômicos posteriores e acha que aquilo surgiu do nada?

Alguns economistas dizem que o milagre foi um modelo insustentável. Mais que isso, irresponsável. Entre 1968 e 1973 o país cresceu de 11% ao ano em média, era um canteiro de grandes obras e expansão industrial, tudo às custas do aumento da dívida externa e da estagnação dos salários. A Crise do Petróleo entornou o caldo e exigiu ajustes, que não foram feitos.

Em 1964 a dívida externa brasileira era de US$ 3 bilhões. Em 1985, alcançou US$ 95,5 bilhões. O país se transformou no maior devedor do mundo em proporção ao PIB. A inflação rondou os 20% entre 1968 e 1973, chegou a 211% em 1983. A balança comercial acumulava déficits sucessivos. A retração da economia era comprovada pelo PIB, que teve uma queda 4,4% em 1981 e 2,9% em 1983. Os militares não tinham um dado positivo para apresentar à população ou ao mercado.

Em 1982, o país quase declarou moratória. O México havia quebrado em agosto desse ano. Os bancos estrangeiros pararam de rolar a dívida brasileira e as reservas de dólares estavam em colapso. Os militares tiveram que fazer um empréstimo de US$ 4,4 bilhões com o FMI. Em troca, a receita recessiva que se conhece: corte de gastos públicos, aumento de impostos., desvalorização da moeda.

Se houve um índice que cresceu no período de exceção foi a concentração de renda. O 1% mais rico ampliou sua fatia da renda nacional de 12% para 17%, enquanto 48% da população vivia abaixo da linha da pobreza em 1973. Era a ideia de “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo” de Delfim Neto, estabilizar a economia antes de promover a distribuição de riqueza, o que a economista Maria Conceição Tavares chamava de falácia.

No julgamento da primeira turma do STF que aceitou a denúncia da PGR contra Jair Bolsonaro e aliados pela trama golpista, a ministra Cármen Lúcia e o ministro Flávio Dino afirmaram que os golpes de estado são assassinos. O golpe mata. E empobrece também.

Fonte: Metrópoles




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