Educação não cabe em uma tela

Educação não cabe em uma tela

Educação inclusiva e de qualidade não cabe em uma tela

As professoras e os professores do SINDOIF realizaram reunião aberta na quinta, 4, pra tratar da proposta de retorno do calendário acadêmico no IFRS. Saiba detalhes.

Em reunião online ocorrida na quinta-feira, 4 de junho, docentes vinculados ao SINDOIF – Seção Sindical do ANDES no IFRS – debateram a proposta elaborada e apresentada pelo Grupo de Trabalho (GT) criado pelo Conselho Superior do IFRS para tratar do retorno do calendário acadêmico pós-pandemia.

A referida proposta está em debate para contribuições até 10 de junho, quando será finalizada pelo GT para encaminhamento ao Consup. Veja aqui a íntegra da proposta: GT calendário versão preliminar.

O debate entre professores e professoras do SINDOIF apontou, de forma unânime, a rejeição às ideias de educação remota e de retorno diferenciado de calendários por campus. No entanto, alguns professores manifestaram o entendimento da necessidade de ampliar o debate sobre a proposta do GT em cada campus.

A opinião das professoras e dos professores do SINDOIF

O momento de distanciamento e o isolamento social acabaram por reforçar o conceito de trabalho não presencial no IFRS. Mas qual significado efetivo da educação remota para uma instituição pública que oferece desde cursos técnicos de ensino integrado, como o EMI e o PROEJA, passando por outras modalidades de cursos técnicos, subsequentes e concomitantes, e chegando até cursos superiores de graduação e de pós-graduação?

A educação poderá manter sua qualidade sob a perspectiva exclusiva do distanciamento? O problema, em realidade, não está exatamente na distância ou nas tecnologias, no formato do conhecimento ou nas metodologias aplicadas. O problema reside na concepção de educação.

A educação remota carrega uma concepção de educação mercantil, produtivista, meritocrática, individualista e elitista. Acirra as desigualdades, culpabiliza a pobreza, limita estudantes com necessidades educacionais específicas e joga quem nada têm à própria sorte, sob o pretexto da liberdade e do esforço individual. Seu objetivo é formar alunos multitarefas, para atuarem como mão de obra barata e sobrecarregada numa sociedade igualmente desigual e elitista.

Na educação remota não cabe a multiplicidade de descobertas de uma aula prática e/ou experimental. Nem cabe a riqueza do conhecimento gerado em uma saída de campo. Na educação remota não cabe a atenção contida em um plano individualizado, criado para atender necessidades educacionais específicas e propiciar a inclusão de todos e todas que queiram estudar.

Defendemos um retorno presencial, absolutamente seguro e no momento adequado, não apenas pela necessária aproximação entre professores, técnico-administrativos e estudantes, que sempre deve ser retomada a cada início de período letivo; mas também pela qualidade do ensino, porque não há condições de trabalho e estudo melhores na educação remota.

A crítica a educação remota não implica, entretanto, na recusa ao uso de atividades pedagógicas não presenciais, aplicadas de maneira parcial em componentes curriculares de cursos presenciais, desde que seja garantido o acesso isonômico a todos os estudantes, sem exceção, e a capacitação de todos os profissionais da educação.

Defendemos uma instituição onde nossos estudantes mantenham o vínculo com seu campus, porque a riqueza e o significado de uma escola não cabem em uma tela. Sabemos que escola é convívio, é conflito, é diferença, é presença. Por isso defendemos:

Que o retorno aconteça em todos os campi de forma simultânea. Não somos uma federação de unidades acadêmicas e, portanto, nenhum campus poderá ficar para trás. Devemos aplicar a mesma estratégia utilizada pelo IFRS quando do enfrentamento dos cortes orçamentários ocorridos em 2019. Na época, o recurso era para todos. Hoje, o retorno deve ser para todos os 17 campi. Como diz a missão do IFRS, objetivamos “ofertar educação profissional, científica e tecnológica, inclusiva, pública, gratuita e de qualidade, promovendo a formação integral de cidadãos para enfrentar e superar desigualdades sociais, econômicas, culturais e ambientais”. A ideia de privilegiar locais, cidades ou grupo de estudantes vai em sentido contrário a proposta de superação de desigualdades e, em especial, de inclusão.

Que as adequações de infraestrutura aconteçam antes do retorno. Um retorno seguro não poderá prescindir de infraestrutura de salas de aula, de laboratórios, de moradias estudantis e todos os demais ambientes educacionais e administrativos adequados para o momento em que ainda haverá circulação do coronavírus. Como exemplo, pode-se citar as salas de aula sem janelas do Campus Porto Alegre e os quartos compartilhados da moradia estudantil do Campus Sertão, dentre outros, como problemas que necessitam de solução imediata e prévia ao retorno. O período atual, sem atividades presenciais, deve ser aproveitado para a superação dos problemas de infraestrutura em cada campus.

Que o processo seletivo da metade do ano de 2020 seja cancelado pelo IFRS. Uma instituição que defendeu abertamente, por manifestação de seus gestores e do próprio Conselho Superior, o adiamento do ENEM, não pode submeter estudantes a um processo seletivo em um momento de acirramento das desigualdades para preparação e estudo e, portanto, de ausência absoluta de isonomia no tratamento de candidatos/as de diferentes origens. Acrescente-se que não temos como prever a data de retomada do calendário acadêmico do período 2020/1, quanto mais do início de outro período letivo, que talvez aconteça apenas no próximo ano. Não é admissível, neste cenário, colocar o orçamento do IFRS e a fórmula conhecida como RAP (relação aluno/professor) acima de nossa missão institucional.

Que o retorno presencial aconteça de forma planejada e segura. O que significa dizer que, muito provavelmente, o retorno não acontecerá para todos os servidores e para todos os estudantes ao mesmo tempo, por conta das condições de saúde de cada indivíduo. Devemos trabalhar para garantir as melhores condições de segurança individual e coletiva quando do retorno presencial. Especial atenção deve ser dada a equipamentos e ambientes de uso comum, como computadores de acesso coletivo, banheiros, cantinas, lixeiras, bebedouros, dentre outros. Um planejamento ainda mais criterioso de limpeza e de desinfecção deve ser aplicado aos reservatórios de água, aparelhos de ar condicionado, mobiliários de salas de aula e de laboratórios, equipamentos didáticos em geral, sem esquecer, também, de ambientes de lazer e centros de convivência.

Que atividades não presenciais ocorram somente com pleno acesso e capacitação. É necessário avaliar nossos ambientes virtuais e a estrutura e capacidade vigente em termos de tecnologia da informação, antes de aplicar atividades pedagógicas não presenciais no IFRS. Há cerca de algumas semanas atrás os sistemas institucionais ficaram indisponíveis, segundo justificativa, devido ao “excesso de acessos simultâneos“. Se apenas o acesso de servidores no período de isolamento social é suficiente para colapsar nossos sistemas, como alguns podem pensar e defender educação remota neste contexto? A possibilidade do uso de atividades pedagógicas não presenciais, após o retorno do calendário letivo, passa tanto pela adequação de sistemas quanto pela capacitação de docentes para realizar tais atividades. Defendemos, ainda, que não é admissível segregar estudantes entre os que possuem infraestrutura completa e aqueles e aquelas que deverão correr riscos, aglomerando-se em polos presenciais.

Que a suspensão das atividades presenciais seja prorrogada no IFRS. Defendemos que o Consup prorrogue a suspensão das atividades acadêmicas e administrativas para além de 3 de julho, tendo em vista que a pandemia segue crescendo no Brasil. Não é razoável admitir uma volta em julho, ainda que parcial, pelo grau de exposição a que estariam submetidos docentes, técnico-administrativos e estudantes, além dos familiares dos integrantes de nossa comunidade interna. Infelizmente ainda não atingimos o pico de contaminação da pandemia Covid-19 e, portanto, qualquer movimentação do Conselho Superior no sentido de retomar quaisquer atividades seria contrária a defesa da vida.

Que ocorra a transposição do período 2020/1 para o segundo semestre. Defendemos a transposição do período letivo atualmente suspenso para o 2º semestre deste ano, tendo em vista não ser possível, como já está claro para todas e todos, retornar ainda no 1º semestre de 2020. A transposição garante a possibilidade de ajustes de períodos letivos nos calendários dos próximos anos, sem prejuízo aos estudantes que recebem, e dependem, dos valores de assistência estudantil. Considerando um retorno entre agosto e setembro, a transposição propiciaria um intervalo entre períodos letivos, no verão, de 30 ou 45 dias, as quais coincidiriam com um recesso dos cursos anuais que se organizam em trimestres, a exemplo do que já ocorre tradicionalmente no intervalo do meio do ano. É fundamental que tenhamos uma interrupção de atividades no verão, tendo em vista a profunda crise econômica do país e o risco de aumento de evasão que poderia se observar em cidades litorâneas, como Osório e Rio Grande, onde nossos estudantes necessitam aproveitar a época para aumentar sua renda e de seus familiares.

Estas seriam as ponderações iniciais dos professores e professoras vinculados ao ANDES Sindicato Nacional e sua seção sindical no IFRS, o SINDOIF. Iremos realizar mais uma reunião aberta na próxima terça-feira, 9 de junho, a partir das 17h. Entre em contato conosco através do e-mail contato@andes.sindoif.org.br e contribua com suas sugestões. Participe deste importante debate!

Sindicato é pra lutar, não para assistir!

 

http://www.andes.sindoif.org.br/2020/06/07/a-educacao-inclusiva-com-qualidade-nao-cabe-na-tela/




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