Empresários do agronegócio golpistas

Empresários do agronegócio golpistas

Dossiê identifica 142 empresários do agronegócio ligados a atos golpistas

Levantamento do observatório De Olho nos Ruralistas expõe a participação e financiamento de fazendeiros e empresas em bloqueios de estradas, acampamentos e no 8 de janeiro

Da Redação / Publicado em 28 de julho de 2025

 

No último dia 25 de julho, o observatório De Olho nos Ruralistas – observatório jornalístico o poder político e econômico do agronegócio, seus impactos sociais e ambientais –  publicou um estudo inédito identificando 142 empresários do agronegócio envolvidos em tentativa de golpe de estado. O Dossiê intitulado Agrogolpistas consolida listas de fazendeiros e sócios de empresas indiciadas por bloqueio de rodovias, acampamentos e o 8 de janeiro. Sojicultores de Mato Grosso, Goiás e Bahia têm contratos com BTG Pactual e Syngenta seguem impunes.  

Texto assinado por pelo diretor de redação do De Olho nos Ruralistas  Alceu Luís Castilho e pelo coordenador de pesquisas do observartório, Bruno Stankevicius Bassi, se comprometeu a responder duas questões até agora sem respostas desde 21 de novembro de 2024, quando a Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente e outras 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado. Quem é o “pessoal do agro”? Quais os nomes dos empresários do agronegócio que financiaram a intentona golpista liderada por Jair Bolsonaro?

O relatório da PF revelou, naquela data, a existência do chamado “Plano Punhal Verde e Amarelo”, que previa um regime de exceção e o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A ligação do agronegócio com o plano golpista veio à tona após o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Cid declarou à Procuradoria-Geral da República que recebeu R$ 100 mil em espécie, entregues em uma sacola de vinho pelo general Walter Braga Netto, que teria dito: “O general Braga Netto entregou e comentou que era alguém do agro que tinha dado, mas eu não sei o nome de quem foi que passou pra ele”.

Ligação direta com grandes empresas

O relatório mostra que os agrogolpistas não são apenas produtores rurais isolados. Há conexões com bancos e multinacionais como Santander, Rabobank, John Deere, BTG Pactual e Syngenta. Esta última, inclusive, é citada como financiadora da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Apesar das evidências, a maioria dos empresários citados segue sem responsabilização judicial. Somente os identificados em flagrante no 8 de janeiro foram alvos de ações penais.

Dossiê analisou mais de 1.400 nomes

Durante quatro meses, o núcleo de pesquisas do observatório analisou 1.452 nomes ligados a atos antidemocráticos. A base de dados reúne 551 pessoas físicas e jurídicas investigadas por contratar estruturas como banheiros químicos e geradores nos acampamentos, além de responsáveis por bloqueios de rodovias.

A análise incluiu os 898 réus nos inquéritos do STF sobre o 8 de janeiro, os indiciados na Operação Lesa Pátria e fazendeiros que apoiaram os terroristas que tentaram explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro de 2022.

A equipe cruzou os nomes com cadastros do Incra, do Ministério da Agricultura e da Receita Federal para verificar vínculos com o setor agropecuário. Só foram incluídos os casos com comprovação direta de relação com o agronegócio.

Arco da Soja concentra maior número de envolvidos

Dos 142 nomes identificados, 104 estão em Mato Grosso (74), Goiás (17) e Bahia (13), estados que formam o chamado Arco da Soja e respondem por quase metade da produção nacional da commodity.

Sorriso, no Mato Grosso, é o principal ponto de origem dos caminhões que ocuparam o QG do Exército em Brasília: 56 dos 234 veículos vieram do município. Destes, 28 pertencem às famílias Bedin e Lermen, unidas por negócios e casamentos. Argino Bedin, conhecido como “pai da soja” de Sorriso, é citado no dossiê por enviar veículos à capital federal e por se recusar a colaborar com a CPMI do 8 de janeiro.

O relatório também aponta a participação de seis dirigentes da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), entre eles Christiano da Silva Bortolotto, ex-presidente da entidade em Mato Grosso do Sul e do sindicato rural de Amambai (MS), onde atua em conflito com a comunidade Guarani-Kaiowá.

Impunidade e invisibilidade

Mesmo com provas de financiamento e depoimentos como o de Mauro Cid, os empresários ligados ao agronegócio seguem sem indiciamento específico. Os nomes dos proprietários dos caminhões flagrados no QG do Exército, por exemplo, não aparecem nas denúncias da Procuradoria-Geral da República.

A falta de responsabilização e a invisibilidade desses financiadores são temas centrais do relatório “Agrogolpistas”, que mostra como parte do setor escapou ileso dos processos. As digitais do agro na tentativa de golpe, segundo o observatório, já eram visíveis desde 2022, quando foi publicado o dossiê “As Origens Agrárias do Terror”, que apontava 44 nomes ligados aos bloqueios e à depredação em Brasília.

Nos próximos dias, o observatório De Olho Nos Ruralistas anunciou uma série de reportagens aprofundando o tema, com vídeos no canal do YouTube e novos nomes revelados.

Clique no link para acessar o relatório Agrogolpistas na íntegra em PDF com a lista dos nomes.

FONTE:

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