Enem, desigualdade escancarada
Enem na pandemia, outra desigualdade escancarada
Quando acesso à educação é cortado, estudantes das periferias são os mais prejudicados — por isso é necessário adiar exame. Rosto da universidade brasileira começava, enfim, a mudar, mas governo parece querer dar fim a esse processo
Publicado 12/05/2020
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Débora Dias em entrevista a Gabriela Leite, no Tibungo
Debora Dias, é a convidada deste episódio do Tibungo. Ela é coordenadora do Núcleo Ílda Martins de Souza Angela Davis que fica na Fazenda da Juta, na zona leste de São Paulo. O Núcleo é ligado à UneAfro, rede de articulação e formação de jovens e adultos moradores de regiões periféricas do Brasil. Ela também foi aluna do cursinho popular, e hoje cursa Ciências Sociais na Unifesp.
Criado em 1998, o Enem é o maior e mais importante exame para os estudantes do país. Desde 2010, seleciona a entrada em universidades públicas de todo o Brasil, além de permitir bolsas integrais ou parciais em universidades privadas através do ProUni ou para obtenção de financiamento pelo Fies.
“O Enem não foi feito para corrigir injustiças”, e não será adiado, afirmou na semana passada o ministro da educação Abraham Weintraub, um dos mais levianos do governo Bolsonaro. Assim, as inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio foram abertas, ontem, sob protesto dos estudantes. A cegueira intencional perante a pandemia, marca do governo, passa a afetar não só o presente dos brasileiros, mas também seu futuro. Pode estar sendo destruída uma conquista pequena — mas muito importante — rumo a uma universidade mais democrática, menos elitista.
O descaso elitista do governo Bolsonaro com o teste já transparecia desde o ano passado, quando um erro mecânico em milhares de provas afetou, indiretamente, as correções de 3,9 milhões de estudantes. Agora, em plena crise sanitária, que mata mais e afeta de maneira mais acentuada a vida da população mais vulnerável, os estudantes também serão desfavorecidos. Estudar em casa não é viável para a maior parte deles, que muitas vezes têm também de trabalhar e cuidar da família, enquanto sofrem com os efeitos econômicos da crise.
Mas os estudantes, protagonistas das lutas de 2019, já articulam resistência. Impedidas de convocarem manifestações nas ruas, entidades como a Une, a Ubes e a UneAfro criaram a plataforma Sem Aula Sem Enem, que incentiva os estudantes a pressionarem os deputados federais de seus estados a exigirem o adiamento do exame.
Na entrevista, Débora explica quais são as implicações das decisões autoritárias do Ministério da Educação na vida dos estudantes das periferias, negros e em situação de vulnerabilidade, que em meio à pandemia tem muito menos condições de se preparar para um exame decisivo em suas vidas.
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