Entre Chico e Ratinho
ENTRE CHICO E O RATINHO: A HISTORIADORA QUE BOTOU LUZ NO AUDITÓRIO DAS TREVAS
*Por João Guató
Recebemos no Pasquim, como quem recebe uma carta em garrafa trazida pelo rio da lucidez, uma reflexão da historiadora Joselisa Teixeira, minha querida amiga e leitora número um do Pasquim Cuiabana, Zezinha do Bairro Pedregal.
O assunto? Um bicho velho conhecido da fauna midiática: o Ratinho — aquele do Paraná, o comundogo que trocou ratoeira por microfone e acha que gritar é pensar.
Joselisa não escreve — ela esculpe a indignação com o cinzel da verdade:
“O problema é perceber que pessoas seguem esse inculto, abestalhado ter seguidores e apanhar em seus programas, levar chutes, e nada acontecer com esse ser vergonhoso para o nosso país. Um ladrão de terras indígenas e outras coisas mais.”
É o Brasil do tapa no palco e do aplauso na plateia. O povo ri, enquanto o rato corre solto, lambendo o queijo público.
E nada acontece. Porque no Brasil, o escândalo tem hora marcada, mas a vergonha… essa vive de folga.
Joselisa, com aquela elegância de quem sabe a força da palavra, puxa um fio de contraste:
“Chico Buarque, além de música, escreveu livros científicos, tenho três, e um que virou filme. Seu pai, um grande sociólogo, deixou um legado importante para nós brasileiros.”
É o duelo de sempre — o Chico que pensa contra o rato que esperneia.
De um lado, o homem que fez da poesia um projeto de país; do outro, o sujeito que faz da ignorância um espetáculo de auditório. Enquanto Chico compõe Construção, o outro destrói — o português, a dignidade e a paciência nacional.
Joselisa arremata com faro fino e humor ácido:
“Esse rato deve usar dinheiro da lei Rouanet, porque quando vejo alguém esbravejando e acusando pessoas, já imagino: esse aí é um lambedor. E sendo RATO? Ser ignóbil.”
Ignóbil. Palavra que já vem com gosto de poeira e azedume. É quase música quando aplicada ao personagem — uma espécie de samba dissonante tocado por quem nunca ouviu um acorde.
O Brasil anda assim: entre o livro de Chico e o microfone de Ratinho, o povo tenta sobreviver à barulheira.
Enquanto uns leem “Raízes do Brasil” , outros preferem raízes de fofoca.
E o país, esse grande auditório a céu aberto, vai aplaudindo a própria ruína — com palmas cansadas e um sorriso de resignação.
No final das contas, o rato não é o problema. O problema é o queijo. E a multidão que ainda acha graça de vê-lo roer.
*João Guató — do sertão ao asfalto, com faro de rato e pena de cronista.
Fonte:
https://www.facebook.com/photo/?fbid=10214200100353200&set=a.3358299773034&locale=pt_BR
O CAMUNDONGO DO PARANÁ E O GRITO DO FASCISMO MIDIÁTICO
*Por João Guató
Ratinho é o tipo de personagem que nasceu do cruzamento entre um programa policial e um circo de horrores. Um camundongo de terno azul, bigode grosso e verbo curto — o porta-voz do ressentimento de uma classe média que acha que pensar é coisa de comunista e rir é coisa de artista.
Do palco da TV, ele conduz seu espetáculo de gritos e platitudes, cercado por uma plateia de “abestados do Paraná” que aplaudem o que não entendem e riem do que deveriam chorar.
Esse camundongo falante acredita que microfone é poder e que cultura é ameaça. Sua cruzada pessoal contra a arte é o retrato perfeito da dissonância cognitiva do bolsonarismo: a mesma gente que idolatra pastores milionários e políticos corruptos acusa Chico Buarque de viver da Lei Rouanet.
Ratinho faz parte de um tipo de fascismo tropical que trocou o uniforme pela risada ensaiada. Seu programa é uma procissão do sofrimento popular: mães chorando, trabalhadores humilhados, histórias de tragédia que viram entretenimento de fim de tarde.
Enquanto isso, o apresentador posa de homem simples, defensor da “família tradicional” — aquela que ele explora entre um grito e outro, enquanto o patrocinador sorri no intervalo comercial.
É o fascismo que se alimenta da miséria e chama isso de audiência. Que diz defender o povo, mas vive de transformá-lo em espetáculo. Que despreza a arte, mas vive de dramatizar a vida real com os truques de um teatro barato.
Chico, Caetano e Gil representam tudo o que Ratinho não pode ser: inteligência, sensibilidade e coragem. Eles transformaram o sofrimento do povo em poesia. Ele, o sofrimento do povo em ibope.
O camundongo do Paraná odeia arte porque a arte revela o que o fascismo esconde — a alma.
E não há nada mais perigoso para o fascista do que um povo que pensa, canta e sonha.
O Ratinho é o Goebbels de botequim, o ideólogo da ignorância com hora marcada. Ele grita “povo de bem” enquanto serve a elite que o mantém rico, repete mentiras como quem reza um terço da estupidez nacional e defende um Messias que nunca leu um livro, mas decorou todos os slogans.
Sua dissonância cognitiva é um show diário: fala contra a corrupção, mas aplaude corruptos; prega moral, mas lucra com a humilhação; defende a pátria, mas despreza o pensamento.
E o público — hipnotizado pelo ruído — acredita que aquele grito é voz do povo, quando não passa de eco do poder.
Enquanto o camundongo berra, Chico compõe.
Enquanto os “abestados” vibram, Caetano e Gil continuam cantando — e das suas notas brotam flores que cobrem o lixo do ódio.
Porque o fascismo é barulhento, mas a arte é paciente.
E, no fim, quando o ruído passar, o Brasil ainda vai ouvir, em voz suave e firme:
“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.”
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