Escola Tradicional é um Desastre
18 Quadrinhos Contundentes Para Entender Por que Colocar uma Criança em uma Escola Tradicional é um Desastre
“Para quem só tem um martelo, todo problema parece um prego.”
- autoria desconhecida
1. A Escola como a conhecemos é uma estratégia de instrução em massa.
A ideia é otimizar a produção e reduzir os custos.
Apenas um funcionário para um bando de aluno.
Funciona bem para produzir clipes de papel ou automóveis. Mas seres humanos não são clipes de papel nem automóveis.
Tratar pessoas como coisas já é, em si, uma forma de violência.
Não tem como fazer bem para a vida emocional de uma criança novinha, em formação, ser inserida em um sistema que, para funcionar, supõe que ela não é diferente de um objeto.
A criança vira aluno. E alunos viram números.
A Escola lança as bases para vivermos em um mundo em que pessoas são tratadas como coisas, e coisas têm mais valor que pessoas.
2. A instrução em massa opera pela lógica da homogeneização.
Agrupamos crianças por idade, séries e classes.
Obrigamos as crianças a estudar os mesmos tópicos ao mesmo tempo, no mesmo ritmo. A fazer os mesmos exames e dar as mesmas respostas.
Depois de passarem pelo longo processo de escolarização, elas ficam treinadas para valorizar os iguais. E sentem medo e intolerância diante de quem é diferente.
O que também acontece em igrejas e quartéis, por exemplo.
E assim — por não aprendermos a conviver com o diferente — se produzem as variadas formas contemporâneas de violência, como o bullying, o racismo, a misoginia, a homofobia, a xenofobia, os Bolsonaros, Cunhas, Malafaias, Olavos e Felicianos.
3. Para crianças saudáveis, o confinamento e as rotinas escolares são uma violência.
O protesto é sinal de saúde. Todo organismo saudável rejeita espontaneamente o que não faz bem.
Quando um adulto desqualifica o protesto afirmando que isso tudo é necessário, que não tem jeito, o mundo é assim mesmo e coisas do gênero, não se trata de ponderação, mas de cinismo.
Ou de identificação com o agressor: O adulto adota o discurso de quem o violentou.
Ou de uma expressão de ódio deslocada para a criança: Eu passei por isso, agora você vai ter que passar também!
Mas a vida já carrega uma dose mais do que suficiente de sofrimento e exigências com que cada um de nós vai ter de aprender a lidar para amadurecer.
A gente não precisa do gigantesco arsenal adicional de cobranças e frustrações (perfeitamente evitáveis) que a Escola impõe.
4. A Escola pretende preparar o ser humano para a vida e o mundo.
Como?
Retirando a criança da vida e do mundo. (!)
Depositando ela em um ambiente artificial e estéril (a sala de aula).
Trancando a porta.
E tratando todo movimento da criança em direção à vida e ao mundo como desvio e distração — passíveis de punição.
5. Toda criança saudável chega ao mundo com um graaaande coração.
É só observar um ser de fraldas.
Amorosa, compassiva, criativa, espontânea, ousada, curiosa, arrojada, vibrante, íntegra, generosa, empreendedora, interessada, divertida, corajosa, cheia de energia.
Aí começa a conviver com adultos escolarizados. E a frequentar a escola. E a ser bombardeada com mensagens publicitárias, que insistem que ela não é boa o suficiente. Que ela precisa de mais, mais, mais.
E o coração vai murchando, fica contraído, rígido, apertado. Doído.
Às vezes, até para de bater.
6. À Escola Tradicional só interessa uma quantidade limitada de talentos humanos.
É uma verdadeira tragédia.
Talentos e paixões massacrados pelo tribunal do Saber Formal — associado aos imperativos do Mercado.
Silenciados.
Seres com potenciais extraordinários atrofiados, convencidos de que não têm valor.
Auto-estima destruída. Geralmente, pelo resto da vida.
7. Pessoas escolarizadas vivem uma desconexão entre a realidade e ‘mapas’ da realidade.
E mal percebem a contradição.
Passam a vida se preparando por meio de livros, programas, manuais, cursos e instruções. Fazendo planos.
Habitam estreitos mundos mentais, enquanto a vida vibra — e passa — em algum outro lugar.
Não à toa. Foram treinadas desde cedo para terem medo da vida e se refugiarem nos pensamentos.
8. A Escola é uma máquina de ajustamento.
Esta ficou conhecida como a tirinha mais triste de todos os tempos.
Eu concordo.
Me contaram que não foi Bill Watterson quem a desenhou. Aparentemente, foi um fã.
A necessidade de ajustamento ao sistema é brutal.
Desvios não são tolerados.
A criança começa a ser medicada pelos adultos quando apresenta sintomas de… infância.
Construímos coletivamente um mundo cujo bom funcionamento transforma a infância em transtorno.
9. A Escola de massas certifica por meio de testes padronizados.
São o equivalente do controle de qualidade nas indústrias.
Notas e exames padronizados não existem na vida e na Natureza.
São uma invenção perversa.
Por que perversa?
Vou citar dois motivos:
- Testes padronizados só fazem sentido para certificar a qualidade de produtos produzidos em massa. Eles identificam defeitos em cópias.
- No sistema escolar, a nota acaba ficando associada ao valor da pessoa.
Quem tira nota baixa é ‘reprovado’. Punido.
Chamam os pais para conversar. A criança sente-se mal consigo mesma, com vergonha. É recriminada em casa e na escola.
Não tem futuro.
Todo mundo acredita e vira uma profecia auto-realizadora.
Mas não tem como medir o valor de uma pessoa com notas e exames.
(É também na Escola de massas que toma fôlego a ideia bizarra de Meritocracia — que desconsidera retumbantemente as singularidades e as condições particulares de cada pessoa.)
Veja o quadrinho de novo.
10. O Mundo do Trabalho é uma extensão do Mundo da Escola.
Às vezes parece que foi Zeus quem determinou que temos de passar por longos anos de escola e depois o resto da vida em empregos medíocres.
Observar agoniados o tempo escorrendo pelo ralo em meio a tarefas e cobranças sem sentido.
Como se não houvesse alternativa.
Mas não. Basta estudar História.
A estratégia de educar seres humanos por meio de instrução em massa é uma invenção recente. Pela maior parte da história da humanidade, os seres humanos foram educados de outras maneiras.
E, portanto, há alternativas.
A ideia da escola de massas é produzir um amplo contingente de trabalhadores domesticados, sem crítica ou senso político.
Somos necessários para operar as máquinas nas indústrias — ou os computadores nas empresas — sem enchermos muito o saco.
11. Da palmatória à Ritalina.
Como criamos uma sociedade hipócrita?
Silenciando os impulsos naturais e saudáveis de todo ser humano.
Botando-os sentados em silêncio durante longas horas até que se acostumem a aceitar as palavras de uma autoridade externa.
A quem não se enquadra, a palmatória.
Quando a criança não se comporta do jeito que a escola espera, com frequência como protesto saudável a um sistema hostil, refratário a suas necessidades humanas, ela precisa ser silenciada. É intolerável que aponte as contradições do sistema.
A Ritalina é muito mais sofisticada — e brutal — que a palmatória. Funciona como uma mordaça química, da qual a criança não tem como fugir.
Uma traição covarde à confiança que a criança deposita nos adultos.
A medicação atua de dentro para fora, silenciosa e potente. Abafa os protestos e força a criança, quimicamente, a se enquadrar.
Medicar as crianças que não se encaixam atende perfeitamente aos anseios dos pais, professores e médicos (mas sobretudo da indústria farmacêutica).
Ou seja, não foram os pais, os professores ou a sociedade que falharam, por meio de um sistema obtuso e violento — a criança é que tem algum defeito biológico que a leva a se comportar daquele jeito.
Isso se chama ‘culpabilização da vítima’.
12. Como adestrar um cavalo?
A gente ‘quebra’ o ímpeto dele. Elimina o que nele há de selvagem.
É o que a gente também faz para adestrar seres humanos. Transformamos energia e vitalidade em sono, tédio e apatia.
Assim podemos montar neles e conduzi-los para onde quisermos.
13. Linhas, uniformes, grades curriculares.
A arquitetura da Escola Tradicional imita uma penitenciária.
Celas trancadas (salas de aula) e corredores.
Ambiente, rotinas e relações institucionalizadas. Um mundo à parte.
Não é socialização, de verdade. É um simulacro esquelético de socialização.
O recreio equivale ao banho de sol diário dos prisioneiros. Sempre curto demais e barulhento de energia acumulada.
Crianças saudáveis vivem a Escola como uma prisão.
Em nível sutil, é mais grave: a colonização do corpo e da subjetividade por programas disciplinares funciona como uma prisão invisível, que acompanha a pessoa aonde ela for.
14. A terceirização da infância
A gente quer trabalhar mais, para ganhar mais e poder comprar mais, não é?
Tem muuuita coisa legal pra comprar e usar atualmente. Lugares para conhecer, restaurantes, filmes e livros, games. Mídias sociais.
É bom para a empresa e para a economia do país.
Mas o que a gente faz com as crianças? Eles dão trabalho, exigem atenção.
A gente precisa tirar elas do meio.
É só mandar para a escola em tempo integral. Babá. Mais aulas de judô, natação, teatro, inglês, chinês, espanhol e informática. Ou larga na rua. Ou deixa na frente da televisão, de repente jogando o dia inteiro no tablet, celular ou computador.
Para muitas famílias, a escola vira um depósito de crianças. É conveniente.
O problema são as férias e finais de semana, quando os adultos precisam lidar com aqueles pentelhinhos que eles mal conhecem. E não fazem ideia de como tratar.
E as crianças intuem que estão sendo tratadas como estorvos.
15. Em poucas palavras, é isso mesmo, Dinho.
O Mercado precisa de mão de obra barata e consumidores ávidos.
E se alimenta de nossos sonhos e realizações.
16. A Escola de massas não muda.
Ela é uma instituição guardiã do status quo.
Os discursos e as modas mudam.
Para agradar aos clientes.
Mas as práticas seguem rigorosamente as mesmas.
Os alunos respiram hipocrisia e contradições. E passam a achar que é normal.
Depois Alckmin recebe prêmio por gestão da água em São Paulo. Dilma adota o slogan de Pátria Educadora, aí faz um mega corte de verbas e coloca o Cid Gomes na direção do MEC.
E a gente aceita.
É, eu sei, este aqui não é um quadrinho. É só a foto de um livro.
Tudo bem, pausei a contagem.
Agora, para mim, não é um livro qualquer — é um livro que mudou a minha vida.
Isso faz 20 anos, mais ou menos.
Foi o tempo que levei da crítica à instituição-escola até conhecer a desescolarização.
Ler esse cara aí foi como a primeira vez que um míope usa óculos. Comecei a enxergar a educação formal com uma nitidez de perder o fôlego.
Ah, e ele é todo feito com quadrinhos e cartuns.
Como, por exemplo, os últimos dois desta série:
17. A Escola compartimentaliza o saber.
A gente vai de uma disciplina para outra como se fosse uma linha de montagem.
Eu sei, é uma manobra epistemológica que permite a especialização. No conjunto, o avanço do conhecimento é maior.
Mas o preço é alto.
Na formação da criança, a compartimentalização causa uma espécie de esquizofrenia na relação com o mundo. A criança substitui a experiência direta, una, da realidade por fórmulas e representações abstratas, organizadas em disciplinas que, com frequência, mal conversam entre si.
18. A Escola foca apenas em desenvolvimento intelectual.
Conteúdo e memorização.
O resto não dá para medir por meio de provas e exames, então deixa pra lá.
A gente faz de conta que não existe.
A consequência: nos tornamos seres mentais.
Cabeça grande, coração atrofiado.
Nosso intelecto funciona bem, mas somos extremamente desajeitados para lidar com afetos, emoções e relacionamentos, por exemplo.
Somos desajeitados para viver uma vida com sentido e significado.
Sofremos de baixa auto-estima, carência, solidão, excesso de auto-crítica, insegurança, angústia, ansiedade, inibições e oscilações de humor. Pânico e Depressão. Tornamo-nos dependentes de remédio, de sexo, de comida, de elogios, das mídias sociais ou do consumismo vazio.
Como diz Daniel Goleman, no livro Inteligência Emocional, a escola não forma para a vida; a escola só prepara o ser humano para a escola.
Em outras palavras, a gente estuda um cagalhão de coisas que, afinal, serão úteis para…
…fazer a prova.
Depois esquece tudo.
(como aquele cara daquela história grega que ficou condenado pela eternidade a empurrar uma pedra enorme até o topo da montanha e aí ela rolava de volta pra baixo de novo e de novo e de novo)
Esses dias, meses e anos — da infância ao começo da vida adulta — que passamos na escola, infernizados por programas, tarefas e avaliações, nas palavras de Tião Rocha, são como serviço militar obrigatório.
E, o mais grave: depois que passam, não voltam mais.
Um desperdício atroz do que temos de mais precioso.
A vida leve, despreocupada e apaixonante que podia ter sido.
E que não foi.